A Argentina Tem Dólares Suficientes Para Dolarizar-se?
É tarde demais para a Argentina se dolarizar?
Nicolás Cachanosky - 11 MAR, 2024
O presidente argentino, Javier Milei, adiou a implementação do seu tão aguardado plano de dolarização. Alguns comentaristas, incluindo Steve Forbes, pediram que Milei acelerasse o ritmo antes que fosse tarde demais. É tarde demais para a Argentina dolarizar?
Uma grande preocupação com o plano de dolarização da Argentina é se o governo tem realmente dólares suficientes para converter os seus pesos pendentes. O banco central tem um grande volume de passivos financeiros que precisam de ser dolarizados e carrega reservas líquidas negativas.
Há duas razões pelas quais a preocupação com as participações em dólares da Argentina é exagerada. Primeiro, os envolvidos normalmente exageram a quantidade de dólares necessária para dolarizar. O cálculo típico envolve a divisão dos passivos monetários (moeda) e financeiros (notas do banco central) denominados em pesos pelo montante das reservas líquidas detidas pelo banco central. Mas esta abordagem pressupõe implicitamente que todos os dólares são necessários no primeiro dia. Esse não é o caso. Para efeito de comparação, o Equador e El Salvador levaram nove e doze meses, respectivamente, para trocar a sua moeda nacional em circulação por dólares. Isso permitiu tempo suficiente para o banco central adquirir mais dólares, se necessário.
Além disso, a quantidade de dólares necessária para dolarizar depende de como o processo é implementado. El Salvador dolarizou sua moeda voluntariamente, sem estabelecer prazo de validade para sua moeda nacional. Se a Argentina adotasse uma abordagem semelhante, o público converteria os seus pesos em dólares à sua discrição, por exemplo, fazendo depósitos bancários ou pagando impostos ao governo. Esta flexibilidade pode reduzir significativamente a quantidade de dólares necessária para a dolarização. O governo também poderá pagar gradualmente as suas obrigações do banco central denominadas em pesos, em vez de as comprar com dólares no dia em que a dolarização for anunciada.
Em segundo lugar, os interessados normalmente subestimam a oferta de dólares disponíveis. A maioria dos críticos determina a viabilidade da dolarização extraindo o montante das reservas líquidas do balanço do banco central. Esta abordagem trata as reservas líquidas como um valor exógeno que determina se a dolarização pode ocorrer num determinado dia. Mas a Argentina também pode contrair empréstimos em dólares, o que significa que o montante total de dólares americanos disponíveis é uma variável endógena influenciada pelo compromisso do governo com a reforma.
Considere dois cenários. No primeiro cenário, a Argentina recorre às instituições internacionais e aos mercados financeiros para garantir dólares adicionais, a fim de continuar a sua prática histórica de financiar um défice estrutural persistente. No segundo cenário, aborda instituições internacionais e mercados financeiros com um plano de dolarização bem concebido e um forte compromisso político para levar esse plano a cabo. O governo argentino pode garantir mais dólares – e, em condições mais favoráveis – no segundo cenário, porque os investidores acreditarão que terão maior probabilidade de serem reembolsados.
Não é que falte dólares à Argentina. Pelo contrário, é que o governo argentino não tem vontade de se comprometer com o seu plano de dolarização. A dolarização pode ser liderada pelo Presidente, mas requer o apoio de outros actores políticos importantes, como o Ministério da Economia, o Congresso e o Banco Central. Considerando o tamanho da economia argentina, a quantidade de dólares necessária para dolarizar estaria bem ao alcance se apenas os seus líderes se comprometessem.
A dolarização na Argentina ainda é possível. Talvez o plano de Milei seja completar outras reformas muito necessárias antes da dolarização. Se conseguir concluir essas reformas e evitar uma crise, poderá obter apoio político suficiente para implementar a dolarização. Mas não é claro por que razão os seus oponentes políticos apoiariam a dolarização num cenário em que vêem uma melhoria dos indicadores económicos. Alternativamente, e talvez mais provavelmente, os líderes argentinos poderão adiar a dolarização até que o país se veja novamente confrontado com uma crise. Nesse cenário, a dolarização seria implementada por necessidade e não por convicção. Esperemos que não chegue a isso.
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Dr. Cachanosky is Associate Professor of Economics and Director of the Center for Free Enterprise at The University of Texas at El Paso Woody L. Hunt College of Business. He is also Fellow of the UCEMA Friedman-Hayek Center for the Study of a Free Society. He served as President of the Association of Private Enterprise Education (APEE, 2021-2022) and in the Board of Directors at the Mont Pelerin Society (MPS, 2018-2022).
He earned a Licentiate in Economics from the Pontificia Universidad Católica Argentina, a M.A. in Economics and Political Sciences from the Escuela Superior de Economía y Administración de Empresas (ESEADE), and his Ph.D. in Economics from Suffolk University, Boston, MA.
Dr. Cachanosky is author of Reflexiones Sobre la Economía Argentina (Instituto Acton Argentina, 2017), Monetary Equilibrium and Nominal Income Targeting (Routledge, 2019), and co-author of Austrian Capital Theory: A Modern Survey of the Essentials (Cambridge University Press, 2019), Capital and Finance: Theory and History (Routledge, 2020), and Dolarización: Una Solución para la Argentina (Editorial Claridad, 2022).
Dr. Cachanosky’s research has been published in outlets such as Journal of Economic Behavior & Organization, Public Choice, Journal of Institutional Economics, Quarterly Review of Economics and Finance, and Journal of the History of Economic Thought among other outlets.