"A China precisa mudar", diz o secretário do Tesouro, Scott Bessent
QUARTZ - Catarina Arnst - 23 abril, 2025
Bessent também pediu grandes reformas no FMI e no Banco Mundial, acusando-os de "desvio de missão".
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse na quarta-feira que o atual modelo econômico da China — construído com base na "exportação para sair dos problemas econômicos" — é insustentável e que os EUA querem ajudá-lo a mudar.
Em seu discurso principal no Instituto de Finanças Internacionais em Washington, DC, Bessent pediu que a China se afastasse do "crescimento industrial impulsionado pela exportação", que, segundo ele, está prejudicando tanto a China quanto o mundo inteiro.
“A China precisa mudar”, disse Bessent. “O país sabe que precisa mudar. Todos sabem que precisa mudar. E queremos ajudar a mudar — porque também precisamos de reequilíbrio.”
Bessent também pediu grandes reformas no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial, dizendo que a expansão da missão tirou essas instituições do curso.
“O FMI já foi inabalável em sua missão de promover a cooperação monetária global e a estabilidade financeira. Agora, dedica tempo e recursos desproporcionais para trabalhar com mudanças climáticas, gênero e questões sociais”, disse ele.
Ele continuou: “O FMI e o Banco Mundial desempenham papéis cruciais no sistema internacional. E o governo Trump está ansioso para trabalhar com eles — desde que se mantenham fiéis às suas missões.”
O discurso de Bessent ocorreu um dia após o FMI ter rebaixado sua perspectiva de crescimento global e nos Estados Unidos, citando as tarifas do presidente Trump, as mais altas em 100 anos, como um dos principais impulsionadores da queda. Na terça-feira, porém, Trump afirmou que suas tarifas sobre a China, atualmente em 145%, são muito altas e serão reduzidas substancialmente.
Em declarações a repórteres após seus comentários, Bessent, um defensor das tarifas, disse que Trump não considera reduzir unilateralmente as tarifas impostas à China antes de quaisquer negociações com Xi Jinping, o líder chinês. No entanto, acrescentou: "Não creio que nenhum dos lados acredite que os atuais níveis tarifários sejam sustentáveis".
“Isso é o equivalente a um embargo e uma ruptura comercial entre os dois países não atende aos interesses de ninguém”, disse Bessent aos repórteres.
O Secretário do Tesouro disse em seu discurso que mais de 100 países abordaram os Estados Unidos buscando renegociar o comércio, e a Casa Branca está "envolvida em discussões significativas e ansiosa para conversar com outros".
Mas ele reservou a maior parte de seus comentários sobre comércio para a China, que, segundo ele, está atualmente se distanciando cada vez mais do consumo em direção à indústria. "O sistema econômico da China, com crescimento impulsionado pelas exportações de manufaturados, continuará a criar desequilíbrios ainda mais graves com seus parceiros comerciais se o status quo continuar", disse ele.
Bessent também criticou o que ele caracterizou como "a persistente dependência excessiva dos Estados Unidos para a demanda", resultando em uma economia global desequilibrada.
Quanto ao FMI e ao Banco Mundial, Bessent enfatizou que o governo Trump está "comprometido em manter e expandir a liderança econômica dos EUA no mundo. Isso é especialmente verdadeiro nas instituições financeiras internacionais".
O governo Trump assumiu posições bastante diferentes de outras nações nas duas instituições financeiras em relação às mudanças climáticas, ao desenvolvimento internacional e aos desequilíbrios econômicos. Bessent afirmou que os EUA planejam usar sua influência no FMI e no Banco Mundial para pressionar por reformas importantes.
“Os Estados Unidos também exigirão que a gestão e o pessoal dessas instituições sejam responsabilizados por demonstrar progresso real”, disse ele.