A crise do PCC e suas forças ilusórias em meio à guerra comercial China-EUA
O Partido Comunista Chinês enfrentará uma crise existencial à medida que a guerra tarifária se arrastar, enquanto suas "vantagens" percebidas se revelarão ilusórias
06.05.2025 por Hui Huyu
Tradução: César Tonheiro
Na medida em que as tarifas entre os Estados Unidos e a China disparavam — Washington aumentava as tarifas para 145% e Pequim retaliou com 125% — a guerra comercial escalou para o segundo estágio sem precedentes. Esse impasse de alto risco não é apenas sobre economia; desafia a resiliência de ambos os sistemas políticos e tem implicações globais significativas.
Sabendo que o líder chinês Xi Jinping está posicionando a China para um impasse prolongado — apostando na capacidade do povo chinês de suportar a dor por mais tempo do que os americanos — os analistas ocidentais costumam apontar para três vantagens percebidas para o Partido Comunista Chinês (PCC): seu sistema político profundamente enraizado com uma longa história de estabilidade do regime; a atual falta de lutas internas do PCC, o que reduz os riscos de colapso interno; e a onipresente vigilância de alta tecnologia de Pequim para suprimir a dissidência e manter a estabilidade doméstica.
No entanto, esses pontos de vista apenas arranham a superfície da sociedade chinesa, deixando de reconhecer o impacto significativo que o regime está enfrentando devido à guerra comercial em andamento.
Primeiro, ao contrário da crença de um regime inabalável e profundamente enraizado, a "estabilidade" do PCC é uma ilusão.
Alguns observadores ocidentais argumentam que, embora o presidente dos EUA, Donald Trump, deva responder à opinião pública inconstante e aos ciclos eleitorais, Xi governa um regime forjado por Mao Tsé-Tung e moldado por décadas de controle centralizado. De acordo com essa lógica, a capacidade de Pequim de suportar guerras, fome, caos político e choques econômicos provou sua resistência única.
No entanto, essa visão ignora uma verdade crítica: a estabilidade do PCC nos últimos 70 anos resultou principalmente da falta de pressão externa sustentada, e não de sua força interna.
Quando a Revolução Cultural empurrou a China à beira do colapso econômico na década de 1970, os Estados Unidos intervieram — não com uma estratégia de contenção, mas normalizando as relações com Pequim. Ao reconhecer a China comunista e marginalizar a República da China (nome oficial de Taiwan), Washington efetivamente concedeu legitimidade global a Pequim.
Nos 50 anos seguintes, a China teve acesso generoso a mercados abertos, capital e transferências sem precedentes de tecnologia e know-how. Isso provou ser um presente significativo que permitiu ao PCC não apenas modernizar o país, mas também construir o aparato de vigilância mais sofisticado que o mundo já viu. Em contraste, a Coreia do Norte profundamente empobrecida ilustra como o isolamento global e as sanções podem sufocar um estado autoritário.
Agora, pela primeira vez desde a abertura da China pelo presidente Richard Nixon, Washington está revertendo o curso. As tarifas e sanções de Trump são projetadas para minar o modelo voltado para a exportação da China e forçar o capital estrangeiro e as cadeias de suprimentos a se mudarem. Isso representará um desafio fundamental para os fundamentos do governo do PCC. Quanto mais o impasse se arrasta, mais ele corrói os pilares econômico e fiscal que sustentaram o regime, tornando seu colapso uma ameaça real e iminente, não uma possibilidade distante.
Em segundo lugar, as divisões internas estão se aprofundando por trás do verniz do controle de Xi.
Alguns observadores da China acreditam que o risco de lutas internas dentro do PCC está em seu nível mais baixo desde a era da abertura e da reforma, proporcionando uma vantagem para Xi em seu conflito com Trump.
Na verdade, os expurgos dentro do PCC dificilmente são um segredo para a mídia ocidental. Desde a ampla repressão à Força de Foguetes das forças armadas chinesas no final de 2023, a queda do membro da Comissão Militar Central Miao Hua no ano passado e a recente prisão do vice-presidente He Weidong, a agitação interna tem sido implacável. No entanto, muitos analistas ocidentais veem esses expurgos como parte da nova campanha anticorrupção de Xi para consolidar o controle absoluto.
No entanto, aqueles com insights mais profundos sobre o funcionamento interno do Partido têm uma visão diferente. Eles sugerem que Xi inicialmente expurgou oficiais militares considerados desleais à sua visão de "reunificação com Taiwan pela força". Mas no final de 2024, a situação mudou. A remoção dos partidários de Xi durante a Terceira Sessão Plenária do PCC em julho de 2024 sugere que as facções anti-Xi estão ganhando terreno.
Por que a maioria dos meios de comunicação ocidentais não noticiou esses desenvolvimentos significativos? É porque eles se tornaram menos sensíveis à política chinesa e começaram a ver a China como um país normal após o fim da Revolução Cultural, especialmente quando o PCC estabeleceu um mecanismo relativamente estável para transições de liderança após a era Deng Xiaoping. Além disso, a propaganda do PCC e as operações da frente unida se infiltraram no cenário global, moldando sutil ou diretamente a "história da China", que influenciou profundamente a percepção da mídia ocidental.
À medida que Xi desmantelou o modelo oligárquico pós-Deng em favor do governo personalista, o PCC se assemelha cada vez mais ao regime caótico, paranóico e instável da era Mao. Em tal ambiente, o regime está mal equipado para resistir a uma guerra comercial prolongada com os Estados Unidos, quanto mais prevalecer.
Terceiro, o estado de vigilância do PCC está mostrando rachaduras.
Alguns analistas ocidentais costumam se maravilhar com o onipresente estado de vigilância da China, vendo-o como o sistema de controle doméstico mais avançado do mundo. Outros até apontam para a rápida supressão do protesto do "Livro Branco" de 2022 — um movimento liderado por jovens contra os duros bloqueios do COVID-19 — como prova da resiliência do PCC.
No entanto, essas avaliações não reconhecem as rachaduras crescentes no sistema. Durante os bloqueios da China, as pessoas ficaram confinadas em suas casas por longos períodos. Seus sofrimentos — incluindo escassez de alimentos e acesso limitado a cuidados de saúde — resultaram em crescentes indignações públicas e um rápido declínio na confiança no PCC.
Embora os protestos do "Livro Branco" tenham sido rapidamente reprimidos, protestos semelhantes eclodiram espontaneamente em várias cidades — algo que seria inimaginável apenas alguns anos atrás. A reversão abrupta de Xi da política de COVID zero logo depois [dos protestos] foi uma concessão precipitada à crescente pressão pública.
Além disso, os imensos recursos necessários para manter esse aparato de vigilância estão se tornando um fardo fiscal crescente [O regime comunista chinês gasta mais com vigilância que com militares]. À medida que os governos locais cortam salários e demitem funcionários públicos, a eficácia do sistema de controle social está se desgastando. Recentes atos de protesto de alto perfil – como faixas anti-PCC penduradas no centro de Chengdu, capital da província de Sichuan, que não foram noticiadas por horas – indicam não apenas o descontentamento público, mas também um crescente senso de inação e até resistência passiva dentro do próprio aparato estatal.
A guerra comercial de Trump dará início a uma nova era
Os analistas ocidentais muitas vezes exageram os pontos fortes do PCC porque apenas observaram sua superfície.
A guerra comercial de Trump não é apenas uma batalha de tarifas, mas também um ataque direto às bases econômicas e políticas do regime chinês. Nesta nova guerra fria, a chave para derrubar o PCC é expor persistentemente as falsas narrativas propagadas por Pequim e atacar o coração de seu sistema autoritário.
O mundo está se aproximando de um ponto de virada histórico — afastando-se do autoritarismo do PCC e retornando aos valores universais. Acredito que a guerra comercial de Trump pode marcar o início dessa profunda transformação.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
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Hui Huyu, ex-instrutor de filosofia da Universidade de Ciência e Tecnologia de Xi'an, é especialista em história, cultura e filosofia chinesas. Ele é colunista do Epoch Times em chinês, cobrindo tópicos como política, economia e relações internacionais chinesas e americanas.