A Direita de Portugal Provavelmente Ganhará Eleições, Mas “Surpresas” São Possíveis
Uma vitória do bloco de direita nas eleições gerais de domingo em Portugal é o cenário mais provável
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Maria João Pereira - 8 MAR, 2024
Uma vitória do bloco de direita nas eleições gerais de domingo em Portugal é o cenário mais provável, mas há incerteza se haverá necessidade de um acordo com o partido de extrema-direita Chega, segundo dois analistas políticos que falaram com A Lusa, parceira da Euractiv, acrescentou que poderá haver surpresas pela frente.
Os portugueses irão às urnas no domingo (10 de março) para decidir a era política depois do socialista António Costa, que governa o país desde 2015 e renunciou em novembro passado em meio a uma investigação de corrupção de alto nível.
Em declarações à Lusa, sócia da Euractiv, os analistas políticos Marco Lisi e Adelino Maltês previram uma vitória da Aliança Democrática (DA), coligação entre o PSD (PPE), o CDS-PP (PPE) e o PPM (monarquistas), deixando em aberto o possibilidade de acordos com a IL (liberais) ou mesmo com o Chega (ID de extrema-direita).
De acordo com as projeções dos Eleitos da Europa, estima-se que o bloco de direita DA obtenha 31% dos votos, seguido pelos socialistas com 29%. Os liberais (IL) situam-se nos 6%, enquanto o Chega, de extrema-direita, deverá atingir os 18%.
“O mais previsível é que o bloco de direita tenha maioria”, disse Lisi, professor e investigador em Ciência Política do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.
“Temos então que ver o equilíbrio interno entre os vários partidos de direita, ou seja, se a AD com a Iniciativa Liberal (IL) acaba por conseguir a maioria, sem que o Chega faça parte da solução governativa, ou se, tendo uma maioria relativa , é necessário o Chega para que o futuro governo tenha maioria absoluta”, acrescentou.
Com base nas últimas sondagens, o investigador aponta estes dois cenários como os mais previsíveis, embora divirjam em termos de estabilidade do governo.
O PSD (PPE), partido que partilha o poder com os Socialistas (PS) desde a revolução de 25 de Abril, regressaria ao poder.
“No primeiro caso [DA e IL com maioria absoluta], pode haver condições para um governo com maior estabilidade, no segundo caso [DA e IL com maioria relativa], é mais complicado porque o líder do DA tem já disse que não faria uma coligação governamental com a inclusão do Chega e uma situação em que um governo de direita seja viável será sempre muito provisória”, disse Lisi.
O papel do Chega, de extrema-direita
Acrescentou, no entanto, que “poderá haver surpresas”, como uma maioria de direita, mas com o PS socialista a obter mais votos do que o DA, embora isso seja improvável dadas as últimas sondagens.
As surpresas já fazem parte da vida política portuguesa depois das últimas eleições gerais de 2022, quando um empate técnico nas várias sondagens se tornou maioria absoluta para os socialistas.
“Ainda há muitos eleitores indecisos e o equilíbrio pode mudar nos últimos dias de campanha”, alerta Lisi.
Se os socialistas conquistarem mais votos, o PS deverá tentar formar governo, e a AD substituirá “provavelmente” Luís Montenegro na liderança, deixando sem saber quem o sucederá e qual a estratégia que irá prosseguir.
Num tal cenário, segundo Lisi, o PSD ficaria numa posição “muito difícil” e correria o risco de ser “esmagado” pelo Chega, que seria visto como “o verdadeiro partido da oposição” se os sociais-democratas fizessem um acordo com o PS .
Por outro lado, se o PSD fizer um acordo com o Chega, será “constantemente chantageado”, e o líder do Chega, André Ventura, pode jogar o “trunfo” de ser a chave para a viabilidade do governo.
Maltez, professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP) e cientista político, acredita que no dia seguinte às eleições veremos “o que a maioria das democracias europeias tem: governos negociais”.
Adelino Maltez considera que o cenário mais provável está em linha com a “tradição dos últimos 50 anos de democracia”: “Um partido dito social-democrata e um partido dito socialista-democrata constituem a grande maioria dos portugueses parlamento."
“Se houver alguma instabilidade, a culpa é destes dois partidos que se conhecem muito bem e que podem ter soluções com as quais não necessariamente concordam”, acrescenta.
O professor universitário sublinha que existe uma lógica de estabilidade entre PS e PSD, que “concordam sempre no essencial”, e que este “é o grande fator de estabilidade da democracia portuguesa”.
Quanto à eventual necessidade de um acordo com o Chega para viabilizar um governo de direita, o investigador acredita que pode não ser necessário, mas se for, o AD “tem uma solução muito simples”:
“Ou admite pagar ao PS a estabilidade, ou entra numa solução que também é democrática, e em vários países da Europa isso acontece, [que é] partidos como o Chega a entrar no arco da governação.”
(Maria João Pereira |Lusa.pt – Edited by Sarantis Michalopoulos | Euractiv.com)