A Escrita na Grande Muralha sobre a crise na China
À medida que a economia continua a implodir, a fuga de capitais aumenta.
James Gorrie - TRADUÇÃO CÉSAR TONHEIRO - 28 OUT, 2023
Como diz o ditado, se você quer saber o que realmente está acontecendo, siga o dinheiro. Essa frase de efeito não se aplica apenas a empresas e investidores estrangeiros que abandonam a China. Também se aplica à economia chinesa.
Um voto de desconfiança
No meio da pressão econômica generalizada e da crescente perturbação social, seguir o rasto do dinheiro mostra como os investidores chineses estão a votar com as suas carteiras. Os gastos dos consumidores diminuíram e a taxa de poupança aumentou. O capital está a fluir para fora da China de qualquer maneira que pode, e tudo isso equivale a um voto definitivo de desconfiança para Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês (PCC).
O PCC tenta esconder os fatos
A verdadeira mania do PCC é atribuir a culpa pelas suas políticas fracassadas àqueles que as apontam. Qualquer pessoa que mencione a economia em ruínas, por exemplo, é culpada de criar “[instabilidade] financeira”. Embora o PCC considere processar jornalistas e economistas que reportem com precisão sobre a queda dos números do emprego e os elevados níveis da dívida que assolam os governos locais, o agravamento das condições econômicas da China é demasiadamente dramático e generalizado para ser escondido.
É claro que a estabilidade financeira não é ameaçada por pessoas que falam sobre ela. É o PCC que está destruindo a economia. Mesmo a história recente mostra que quanto menos envolvido o Partido estiver na economia, melhor será o seu desempenho.
O mercado imobiliário e o setor de desenvolvimento são exemplos perfeitos, embora não os únicos. Ambos continuam a ser fortemente manipulados pelo PCC e ambos estão a perder valor, à medida que a ruína financeira em empresas emblemáticas como a Evergrande e a Country Garden contribui para a deterioração das condições na economia em geral. Os projectos concluídos que permanecem à venda estão sendo demolidos, os trabalhos nos projetos existentes estão sendo interrompidos e outros planos de desenvolvimento estão sendo cancelados, mesmo quando as empresas de desenvolvimento devem bilhões aos credores.
Mais do que uma recessão cíclica
A realidade do que está acontecendo começa a despertar a preocupação dos chineses. Muitos compreendem que a tendência atual é muito mais do que uma recessão cíclica, típica das economias capitalistas. O crescimento no segundo trimestre de 2023 foi relatado como sendo de apenas 0,8%. Ainda assim, essa estatística dificilmente é confiável num país que funciona à base de corrupção e de favores políticos e que rotineiramente falsifica os números. O ganho de 4,9% reportado no terceiro trimestre é alardeado, mas não crível, dado o colapso imobiliário, a queda dos gastos dos consumidores e a redução das exportações.
No futuro, à medida que o PCC assumir mais controle, uma economia estagnada poderá ser o melhor cenário. Os empregos no desenvolvimento imobiliário, nas indústrias conexas e nos sectores de transformação estão todos em dificuldades à medida que as empresas estrangeiras abandonam a China.
Uma classe média estagnada
Entretanto, os investidores individuais, sobretudo da classe média — que investem suas poupanças em propriedades que nem sequer estão construídas e que provavelmente nunca o serão — estão a ver a sua riqueza evaporar-se diante dos seus olhos como um buraco sem fundos.
Esta estagnação deve-se principalmente a dois fatores: políticas internas e externas. Internamente, uma economia baseada na fraude e na corrupção, em vez de uma economia baseada nos indicadores técnicos do mercado – como o mecanismo de preços que aloca recursos e ativos onde são mais necessários na economia — não consegue sustentar-se. Assim, transformar empresas privadas lucrativas em empresas estatais endividadas, o que é um eufemismo para confisco do PCC, destruiu o empreendedorismo — o motor econômico da China.
Acrescente a isso a mudança fundamental do PCC do crescimento econômico para a segurança e estabilidade interna. É um ciclo vicioso em que mais controle do Partido resulta em menor atividade econômica, dificuldades financeiras e descontentamento civil. O Partido então redobrou a aposta em mais controle estatal e mais opressão.
Em suma, o Partido está mais preocupado em manter o seu controle no poder do que em fazer crescer a economia ou apoiar a classe média.
Empresas rechaçam investimentos e fogem da China
Mas também existem fatores externos ou consequências.
Durante o ano passado, a fuga de fábricas ocidentais da China acelerou. As empresas americanas e europeias estão vendo a
escrita na parede. Eles veem o crescente desencanto do mundo com as políticas comerciais e externas de Pequim, com muitos a anteciparem o declínio na estabilidade econômica e um maior grau de dissociação da China num futuro próximo. Como resultado, estão a transferir as suas operações para fora da China, para países mais amigáveis.
'Friendshoring' tornando as coisas piores
Essa tendência é conhecida como “friendshoring”. Em essência, países como o Vietnã, a Indonésia, a Índia e o México estão a capturar empresas que saem da China. Oferecem menos riscos políticos, políticas comerciais mais amigáveis, custos laborais mais baixos e estão mais próximos dos mercados. Salvo quaisquer mudanças importantes na liderança chinesa, é pouco provável que as empresas que abandonam a China regressem, o que representa uma lacuna econômica e financeira crescente que o PCC deve preencher.
Taxa de desemprego juvenil em alta recorde
Outros sintomas do colapso são evidentes, como a crescente taxa de desemprego dos jovens. Atualmente são 20%, mas contando aqueles que vivem com os pais por razões financeiras, é provável que se aproxime dos 50%. O subemprego torna esse quadro ainda pior, o que está deixando a geração mais jovem furiosa. Os jovens insatisfeitos que não veem boas opções para um futuro melhor podem ser uma força explosiva a ser enfrentada.
A corrida para sair do mercado imobiliário chinês
Todas estas e outras razões explicam porque alguns chineses ricos têm vendido as suas propriedades na China o mais rapidamente possível. Estão tentando desesperadamente transferir o seu dinheiro para fora da China e investir no estrangeiro antes que o valor das suas participações imobiliárias chinesas perca ainda mais valor. Eles conhecem a trajetória da economia chinesa e querem sair.
Muitos estão comprando imóveis no Japão.
Não é apenas a proximidade que atrai investidores chineses para o imobiliário japonês, embora esse seja um fator significativo. Outro atrativo é que possuir um imóvel (ou um negócio lucrativo) no Japão pode resultar em vistos de residência de longo prazo ou mesmo permanente. Isto dá aos investidores chineses uma maneira fácil de sair do país para evitar o colapso que se aproxima, bem como evitar a mão de ferro do PCC.
O “milagre da China” não existe mais.
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James R. Gorrie é o autor de “The China Crisis” (Wiley, 2013) e escreve em seu blog, TheBananaRepublican.com. Ele mora no sul da Califórnia.
https://www.theepochtimes.com/opinion/the-writings-on-the-great-wall-for-a-china-crash-5516465