As políticas do PCC tornaram a permanência das empresas ocidentais na China insustentável, dizem os especialistas
Empresas que se tornaram pessimistas em relação à China em meio de fortes turbulências podem encontrar oportunidades mais promissoras, mas a liderança dos EUA deve responsabilizar Pequim.
A grave recessão nos mercados financeiros da China e a percepção tardia das empresas ocidentais de que as oportunidades não são tão animadoras como esperavam, estão exigindo mudanças profundas na maneira das mesmas enxergarem a Ásia e as perspectivas de se fazer negócios lá, além da realocação dos seus enormes investimentos para mercados mais adequados.
Esta é a opinião de um antigo funcionário da administração Trump que critica a administração Biden por não ter tomado a iniciativa e respondido à situação instável na China, avançando ou modificando as políticas de Trump para a China quando apropriado.
A China está captando investimentos estrangeiros (IEDs) acentuadamente menores e acusou um déficit de US$ 11,8 bilhões em IEDs durante os três meses que antecederam outubro de 2023, segundo fontes.
Empresas estrangeiras estão batendo em retirada da China e muitas oportunidades aguardam empresas dispostas a realocarem suas unidades produtivas para os mercados vibrantes e em expansão da Tailândia, Malásia, Vietnã e Cingapura, crê o ex-funcionário da administração Trump. Mas a mudança exigirá uma força de vontade a nível político que visivelmente está ausente nos últimos tempos.
“As empresas americanas que competem diretamente com as campeãs nacionais chinesas têm uma oportunidade única”, manifestou Clete Willems, sócio do escritório de advocacia Akin Gump que atuou durante a administração Trump como vice-assistente do presidente para economia internacional e vice-diretor do Conselho Econômico Nacional.
“Mas é aqui que tenho criticado bastante a administração Biden e espero que uma nova administração Trump faça um trabalho melhor: estamos desestimulando fazer negócios na China, mas não estamos criando incentivos positivos para fazer negócios noutros lugares”, acrescentou.
Sinais ameaçadores
A decisão divulgada pela BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, de vender o escritório que comprou em Xangai por um preço 30% inferior ao que a empresa pagou por ele em 2017, é apenas um dos mais recentes sinais de quão ansiosas estão as empresas para se retirarem do mercado chinês em rápida deterioração antes que as coisas piorem ainda mais, dizem os observadores das relações EUA-China.
Não muito tempo atrás, a BlackRock não conseguia negócios suficientes na China. A BlackRock comprou o Shanghai Central Park, de 27 andares, por US$ 199 milhões em 2017, quando a gestora de ativos e outras empresas estavam muito otimistas em relação às oportunidades nos enormes mercados da China e a concorrência para fazer incursões e atrair clientes era pujante.
Mas nos últimos meses, a perspectiva geral da BlackRock em relação à China arrefeceu e, em setembro de 2023, o gestor de ativos rebaixou a sua classificação das ações da China de “neutra” para “sobrevalorizada”. A BlackRock decidiu nesse mesmo mês encerrar o seu Fundo de Ações Flexíveis da China a partir de 7 de novembro, depois de o fundo ter atraído impressionantes US$ 22,3 [bilhões?] em ativos em quase seis anos de operação.
As decisões da BlackRock coincidiram com uma série de ações dramáticas por parte das autoridades chinesas em relação ao superalavancado conglomerado imobiliário Evergrande, incluindo a detenção de membros do conglomerado supra em meio a atrasos e omissões no pagamento das dívidas da empresa.
BlackRock CEO Larry Fink attends a session at the World Economic Forum annual meeting in Davos, Switzerland, on Jan. 23, 2020. (Fabrice Coffrini/AFP via Getty Images)
Tempestade perfeita
Conforme observado no The Wall Street Journal e em outras mídias, forças geopolíticas jogaram mais lenha na fogueira. A situação tornou-se tão grave que já passou da hora de uma redefinição fundamental da dinâmica de mercado do envolvimento ocidental com os mercados asiáticos, disseram especialistas em relações EUA-China ao Epoch Times.
Willems vê o retrocesso por parte das empresas norte-americanas como resultado de uma combinação de fatores.
“Eu caracterizaria isso como o efeito ‘gotejamento, gotejamento, gotejamento’ (mudanças gradualistas). Trabalho com clientes na área de investimentos, bem como com empresas multinacionais, algumas das quais tiveram exposição à cadeia de suprimentos da China. Claramente, há uma percepção de que fazer negócios na China se tornou mais desafiador, tanto como resultado das tendências macroeconômicas quanto da governança local, e das diferentes políticas que foram implementadas sob Xi Jinping”, disse o Sr. Willems ao Epoch Times.
A dura repressão de Pequim ante a COVID-19 ao seu próprio povo foi longe demais para lembrar ao mundo que o regime pouco se importa com as sutilezas do princípio do processo legal e da liberdade pessoal quando a situação é crítica, reconheceu Willems.
Mas um fator ainda mais perturbador e desestabilizador foi a visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan em agosto de 2022, que trouxe à tona as tensões contínuas e, alguns diriam, cada vez piores sobre os planos de longo prazo de Pequim em relação ao território soberano.
“Vi o ponto de inflexão quando a então presidente da Câmara Pelosi foi a Taiwan. Foi aí que, de repente, comecei a receber todas essas perguntas sobre: 'Precisamos de um Plano B?' As pessoas começaram a perceber que a tensão entre os EUA e a China não diminuirá tão cedo”, disse Willems. No seu conjunto, a crise financeira e as tensões geopolíticas tornaram as empresas e os gestores de ativos até então otimistas em pessimistas, para dizer o mínimo.
“Não atribuo isso a nenhum fator específico, mas à política dos EUA, à política da China, às tensões em geral, criaram realmente um cenário em que os riscos aumentaram e as recompensas diminuíram. Muitas empresas com as quais trabalhamos estão pensando em como reduzir sua exposição à China”, disse Willems.
As tendências corroeram qualquer confiança que as empresas chinesas desfrutavam no passado e o apelo que poderiam ter usufruído como alvos de investimento. Em alguns casos, isto tem funcionado para a vantagem de suas concorrentes nos Estados Unidos.
“Estou ouvindo clientes de companhias norte-americanas que estão olhando para as concorrentes chinesas com ceticismo e avaliam se os investimentos seriam oportunos”, acrescentou.
Then-Speaker of the House Nancy Pelosi (D-Calif.) answers questions during her weekly press conference at the U.S. Capitol in Washington, on Dec. 15, 2022. (Win McNamee/Getty Images)
Estratégia de Mercado Diversificada
Dado o arrefecimento da posição das empresas norte-americanas em relação à China, elas se obrigam, mais cedo ou mais tarde, a discutirem a questão de como encontrarão perspectivas de investimentos e parcerias comerciais que causem menos dores de cabeça.
Outros países podem oferecer oportunidades de investimentos mais estáveis e seguros à medida que o grande drama geopolítico se desenrola, argumentam os especialistas.
“As empresas estão procurando. Singapura tem sido claramente beneficiária de alguma realocação e as companhias estão explorando todo o sudeste asiático. O Vietnam está na lista, assim como a Tailândia, a Malásia e outros”, disse Willems.
Mas embora a necessidade de enfrentar as práticas abusivas e vorazes de Pequim não deixam margem à dúvida, acredita Willems, a falta de incentivos positivos para se concentrarem noutros mercados é um risco significativo para as empresas que reconsideram os seus compromissos com a China e uma questão que quem quer que ocupe a Casa Branca em janeiro de 2025 faria bem em abordar diretamente.
“Estamos dizendo para fechar este mercado, mas não estamos dando a elas nenhum outro lugar para irem, e acho que isso é um grande passo em falso na política”, continuou Willems.
A administração Biden também não adotou uma abordagem diferenciada e personalizada para a aplicação dos US$ 300 bilhões em tarifas que o ex-presidente Trump impôs aos produtos chineses, acredita Willems. A atual administração adotou em grande parte uma postura passiva, embora o histórico das tarifas em vigor durante anos sugira que algumas estão funcionando melhor do que outras, argumentou.
“Agora, quase quatro anos depois, as tarifas estão exatamente onde estavam quando começamos. A passividade é a marca registrada da política de Biden”, afirmou Willems.
Na opinião de Willems, cabe a Biden, ou a quem o substituir em janeiro de 2025, aumentar as tarifas que se mostraram eficazes, enquanto deixa outras expirarem. A título de exemplo, o Sr. Willems comparou a falta de tarifas sobre computadores pessoais com as tarifas em vigor para componentes de PCs. Este acordo desequilibrado promove um desincentivo à fabricação de PCs nos Estados Unidos, disse ele.
“Minha perspectiva é que eles deveriam aproveitar as evidências disponíveis, aumentar as tarifas boas e se livrar das tarifas ruins, e não está claro por que não conseguiram isso”, acrescentou Willems.
Soldados chineses marcham do lado de fora do Grande Salão do Povo em Pequim, antes da introdução do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista da China, o principal órgão de tomada de decisão do país, em 25 de outubro de 2017. (Greg Baker/AFP via Getty Images)
Responsabilizando Pequim
Embora a recessão possa ajudar a induzir as empresas que investem na China a procurar outros lugares para se realocarem, seria um erro ver uma miríade de problemas fiscais do país como o resultado natural do tipo de ciclos de expansão e recessão que podem impactar qualquer economia, em qualquer lugar, acredita outro especialista em relações comerciais.
Essa é a opinião de Stephen Ezell, vice-presidente de Política de Inovação Global da Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação, com sede em Washington.
Ezell citou um inquérito divulgado pela Câmara de Comércio Americana em Xangai em setembro de 2023, que concluiu que cerca de 40% das empresas que participaram da pesquisa estavam transferindo investimentos da China para outras jurisdições. Ele também citou um estudo do UBS Evidence Lab que relata que 71% das empresas norte-americanas com instalações de produção na China estavam transferindo essas operações para outros países ou tinham planos de realizá-las.
Na opinião do Sr. Ezell, as razões para estes números são claras. As práticas abusivas crônicas de Pequim ajudaram a alimentar a crise atual ao alienar empresas estrangeiras, e os nefastos agentes oficiais que são responsáveis por tais irregularidades deveriam enfrentar sanções.
Roubo de IP e espionagem cibernética
A turbulência generalizada do mercado não é a culpada pela saída de empresas estrangeiras, sublinhou.
“Penso que está sendo impulsionada muito mais pelas preocupações das empresas sobre o ambiente de negócios na China, que continuam a incluir preocupações significativas sobre roubo de propriedade intelectual, espionagem cibernética e até mesmo detenção forçada de executivos empresariais ocidentais, para não mencionar as consequências das cadeias de abastecimento globais perturbadas pela COVID-19 e das crescentes tensões geopolíticas entre os EUA e a China”, disse Ezell.
Enquanto Pequim continuar comportando-se de forma abusiva e desrespeitando os termos de sua adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), acredita Ezell, haverá tarifas e outras políticas que enviam mensagens claras e vigorosas às lideranças do Partido Comunista Chinês.
“A China conduz a sua política econômica de uma forma inconsistente com os compromissos firmados com os países membros da OMC. Os Estados Unidos devem continuar reagindo agressivamente contra tais práticas chinesas e arregimentando nações com ideias semelhantes para o fair trade, sempre que possível”, disse Ezell.
No entanto, o Sr. Ezell concorda com o Sr. Willems sobre a necessidade de rever as tarifas que estão em vigor há anos e considerar cuidadosamente quais delas se mostraram eficazes e quais não foram.
“As tarifas são um instrumento contundente e, por isso, os Estados Unidos precisam começar a elaborar um conjunto de políticas muito mais matizadas e sofisticadas para defender os seus interesses econômicos na competição com a China, como a reforma abrangente da Secção 337 da legislação comercial dos EUA”, disse o Sr. Ezell.
O Epoch Times entrou em contato com o Departamento de Comércio dos EUA para comentar.
Michael Washburn é um repórter baseado em Nova York que cobre tópicos relacionados aos EUA e à China para o Epoch Times. Ele tem formação em jornalismo jurídico e financeiro e também escreve sobre artes e cultura. Além disso, ele é o apresentador do podcast semanal Reading the Globe. Seus livros incluem “The Uprooted and Other Stories”, “When We’re Grownups” e “Stranger, Stranger”.