As tarifas de Trump são um farol da doutrina social católica
Esses são dois motivos sérios de preocupação para todos nós.
Gavin Ashenden - 12 abr, 2025
No momento em que a dívida de uma nação ultrapassa seu PIB, a situação econômica se transforma em território de república das bananas. Isso deveria causar profundo alarme — mas igualmente preocupante é a constatação de que somos apresentados a apenas um lado da discussão no espaço público.
Esses são dois motivos sérios de preocupação para todos nós.
O presidente Trump propôs uma reforma radical nas relações comerciais dos Estados Unidos para resgatar sua economia. Surpreendentemente, porém, a mídia mundial parece ter entrado em pânico com as tarifas trumpianas.
A premissa do comentário é que todas as pessoas sensatas deveriam se posicionar em algum lugar numa escala entre a indignação e o pânico. No entanto, a doutrina social católica pode oferecer algum bálsamo para a perturbada digestão econômica ocidental, em parte porque prioriza a proteção dos pobres.
A imaginação dos comentaristas foi inflamada pelas ameaças à ordem mundial atual, que se baseia no equilíbrio comercial entre as nações. A estratégia do governo americano de aplicar tarifas que espelham e recíprocam os obstáculos financeiros que outros países impõem ao comércio americano provocou indignação quase universal.
Ocasionalmente, vozes têm apontado que os atuais acordos comerciais não fazem nada para resolver a gigantesca crise da dívida. A dívida nacional americana ultrapassou US$ 36 trilhões, um valor que pode significar pouco para a maioria das pessoas — mas a relação dívida/PIB deveria ser alarmante: atualmente é de 122%.
Na Grã-Bretanha, desde o início do século XXI, a dívida governamental aumentou de 33% do PIB para o nível atual de 100%.
Para aqueles de nós para quem a teoria econômica é pelo menos tão complexa e inescrutável quanto a teologia nominalista do século XIV, esses números deveriam soar o mais alto dos alarmes. Eles significam que tanto a economia do Reino Unido quanto a dos EUA estão deslizando inexoravelmente para a areia movediça do endividamento, da qual não há recuperação ou escapatória, a não ser um colapso econômico completo no Ocidente.
Trump deixou claro que, como a atual ordem econômica é insustentável — especialmente para a economia dos EUA — ele pretende reconfigurar as relações comerciais, começando por estabelecer reciprocidade entre os EUA e seus parceiros comerciais.
Quem provavelmente será mais drasticamente afetado pelo endividamento descontrolado que está levando as economias à ruína? Sem dúvida, os ricos terão grandes porcentagens eliminadas de suas carteiras — mas serão os pobres que não terão condições de comer. Vale lembrar que, nos EUA, 94% das ações pertencem a apenas 8% dos americanos. Portanto, a volatilidade no mercado de ações pode ou não afetar a economia de forma construtiva, mas afeta principalmente os muito ricos, não os pobres.
Os pobres são os mais afetados imediatamente pelo preço dos bens essenciais. Dois princípios centrais da Doutrina Social da Igreja envolvem a busca de opções para os pobres e vulneráveis e a garantia da dignidade do trabalho e dos direitos dos trabalhadores. A proposta de reajuste tarifário ajudará nisso?
A estratégia de Trump é reduzir o mercado de ações supervalorizado em aproximadamente 20%. Isso levará os investidores a investir em títulos do Tesouro, buscando estabilidade nos títulos emitidos pelo governo. Por sua vez, isso permitirá que o Federal Reserve reduza as taxas de juros. Tais circunstâncias criariam uma nova plataforma a partir da qual o governo americano poderia renegociar os pagamentos de juros de trilhões de dólares em dívida, trazendo assim maior estabilidade à economia americana.
Essa estratégia em si representa uma defesa dos interesses dos pobres, especialmente porque esse processo deflacionário reduz os preços para os americanos comuns. Apesar da propaganda chinesa retratar americanos acima do peso presos em novas fábricas clandestinas, a redefinição de tarifas pode persuadir empresas globais a se realocarem de volta aos Estados Unidos, gerando mais empregos — especialmente para os pobres.
A capacidade da grande mídia de deturpar negociações tarifárias parece ilimitada. Observadores da técnica de Trump notarão que ele persegue "a arte do acordo". Sua posição inicial é frequentemente chocante e ultrajante, projetada deliberadamente para desestabilizar e tomar a iniciativa. Quando exposta publicamente, isso faz com que comentaristas literais uivem de indignação. Totalmente incapazes de reconhecer ou lidar com hipérboles estratégicas, eles o levam ao pé da letra e se perdem.
O impasse tarifário é mais um exemplo. Trump começa com uma atitude agressiva que perturba profundamente os negociadores concorrentes. Então, como tantas vezes acontece, ele faz uma pausa — por 90 dias, neste caso — e aguarda uma resposta mais sensata e condescendente, mais próxima do compromisso mediano que ele havia imaginado o tempo todo. Ele é um empresário rico que não precisa de salário nem de emprego. No entanto, ele coloca sua independência política a serviço não dos super-ricos, que sempre sobrevivem, nem dos acomodados que têm um "plano B", mas a serviço dos pobres endividados, daqueles que não têm poupança e daqueles que trabalham em dois empregos para pagar o aluguel e comer.
Comentaristas cujas opiniões saturam a mídia não conseguem entender nem a técnica de Trump nem seu objetivo final. Os católicos têm motivos especiais para serem gratos pela plataforma dada a JD Vance, que oferece uma visão da ética católica como um dos vários recursos que podem orientar a estratégia governamental.
Trump é totalmente guiado pela fé ou visão católica? Não. Mas ele lhe concedeu uma posição privilegiada entre os recursos ideológicos e éticos aos quais o governo pode recorrer? Embora alguns católicos expressem decepção com certas prioridades éticas do governo, a resposta deve ser "sim".
Caso Trump fracasse em sua tentativa de reequilibrar as barreiras tarifárias entre os EUA e seus parceiros comerciais, as consequências poderão ser catastróficas. A ordem global existente, baseada na globalização, já está vacilante, prestes a sofrer um colapso ainda maior, que poderia desencadear um colapso civilizacional. Os pobres são sempre as primeiras e mais vulneráveis vítimas. Trump, portanto, pode representar sua única esperança econômica genuína.