China coloca Trump, comércio e negócios estrangeiros na mira
THE EPOCH TIMES
21.11.2024 por Gordon G. Chang
Tradução: César Tonheiro
"A tentativa de bloquear a cooperação econômica sob todos os tipos de pretextos e quebrar a interdependência do mundo nada mais é do que um retrocesso", declarou o presidente da China, Xi Jinping, na recém-concluída cúpula da APEC no Peru.
"Enfrente o protecionismo e o unilateralismo", disse Ren Hongbin, ex-funcionário do Ministério do Comércio e agora presidente do Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional, também na APEC. "Existe a retórica da dissociação e do risco", alertou. "A separação artificial da cadeia de suprimentos global é prejudicial para todos"
A campanha de Pequim contra o próximo presidente dos Estados Unidos está apenas começando. A China está tentando se posicionar como defensora do livre comércio e rotular Donald Trump como o disruptor global.
A narrativa do Partido Comunista Chinês está longe da verdade, no entanto. A China é uma comerciante predatória e criminosa, e se tornou ainda mais nos últimos meses.
Como sabemos disso? O regime, entre outras coisas, está intensificando os ataques a empresas estrangeiras. A AstraZeneca confirmou este mês que os investigadores chineses detiveram Leon Wang, presidente dos negócios da empresa na China.
Wang é alvo de uma investigação de corrupção.
Os negócios na China estão repletos de corrupção e o negócio farmacêutico está entre os mais corruptos. Entre outras razões, Pequim tradicionalmente forçou os hospitais a se defenderem sozinhos, então médicos e administradores criaram maneiras tortuosas de compensar a falta de apoio.
É verdade que a força de vendas da AstraZeneca na China foi investigada por adulterar testes genéticos para tornar mais pacientes elegíveis para receber Tagrisso, um medicamento contra o câncer de pulmão, e também houve revelações sobre a importação ilegal de medicamentos de Hong Kong. No entanto, é altamente improvável que a AstraZeneca seja a única empresa farmacêutica culpada de travessuras. A acusação seletiva de estrangeiros é uma especialidade do Partido Comunista.
Vários fatores estão em jogo no momento. Primeiro, Xi Jinping está absolutamente determinado a reservar o mercado chinês para as empresas estatais da China. Ele bate em empresas estrangeiras sempre que pode. Ele derrubou o Mintz Group, com sede nos EUA, em março do ano passado e não desistiu desde então.
Em segundo lugar, as empresas farmacêuticas estrangeiras correm um risco especial porque ocupam um setor que Xi Jinping está determinado a controlar. Ele é, infamemente, a força motriz por trás do Made in China 2025, o plano predatório de dez anos para alcançar o domínio em dez áreas-chave de tecnologia. Um desses dez setores é o da medicina e dos dispositivos médicos. Além disso, seu "Esboço de Estratégia" busca a autossuficiência em, entre outras coisas, dispositivos médicos de ponta e produtos farmacêuticos patenteados.
O ataque de Xi à AstraZeneca, que se saiu bem na China por causa de seu portfólio de produtos farmacêuticos inovadores, é um aviso para as empresas farmacêuticas estrangeiras.
Em terceiro lugar, Xi, ao mesmo tempo em que se autodenomina o principal defensor da globalização do planeta, está na realidade cortando os laços da China com o mundo, revertendo as políticas gaige kaifang – "reformar e abrir" – de Deng Xiaoping, o líder comunista da "segunda geração" da China e sucessor de Mao Zedong.
Xi não está deixando nenhum aspecto da sociedade intocado, tentando incansavelmente eliminar a influência estrangeira. Seu ataque contínuo aos negócios estrangeiros é apenas uma parte desse esforço de todo o regime.
O paradoxo é que Xi agora precisa do mundo mais do que nunca. Ele, aparentemente por razões ideológicas e sua relutância em desafiar os principais eleitores do Partido Comunista, rejeitou o conselho de bom senso de fazer do consumo a base da economia chinesa. Em vez disso, ele está tentando exportar para sair de uma crise em desenvolvimento, tornando a China criticamente dependente do acesso a mercados estrangeiros.
Trump, nessas circunstâncias, representa uma ameaça direta ao regime chinês. Durante sua campanha para a presidência, ele prometeu, em uma entrevista com Maria Bartiromo, da Fox News, tarifas generalizadas de pelo menos 60% sobre os produtos da China, o que fecharia o mercado americano para muitos produtos chineses.
Para manter esse mercado aberto, Pequim terá que absorver grande parte do custo de novas tarifas, como fez em 2018, quando Trump, usando a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, impôs tarifas de até 25% sobre produtos chineses. Então, Pequim e os fabricantes chineses, por meio de vários estratagemas, ajustaram algo entre 75% e 81% das taxas de 2018.
A história está se repetindo. A China este mês, começando imediatamente antes das eleições americanas, tem reduzido o valor do renminbi e tornado os produtos chineses mais baratos. Isso é "manipulação de moeda" e é especialmente predatório.
Agora, Xi aparentemente espera que sua ofensiva de propaganda ajude a convencer outros a ajudá-lo a defender o que ele chama de "livre comércio". Ele realmente não acredita no livre comércio, no entanto: ele deveras quer que a China tenha acesso irrestrito a outros mercados, enquanto nega a outros o acesso à China.
Xi deve saber que suas táticas mercantilistas estão convencendo outros a proteger suas indústrias do ataque da China. Os Estados Unidos não são o único mercado que erguerá altas barreiras tarifárias. A União Europeia também está fazendo isso, e até mesmo países do "Sul Global" – a China está tentando se tornar a campeã das regiões menos desenvolvidas do mundo – estão colocando barreiras tarifárias contra produtos chineses.
Portanto, Trump, apesar de suas promessas tarifárias, não é quem ataca a ordem comercial baseada em regras.
O verdadeiro culpado é Xi Jinping.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
Gordon G. Chang é um distinto membro sênior do Gatestone Institute, membro de seu Conselho Consultivo e autor de "The Coming Collapse of China"