China e EUA estão chegando ao seu momento Minsky?
A redução artificial do risco em uma economia pode distorcer o comportamento até o ponto da calamidade.
18/12/2023 por James Gorrie
Tradução: César Tonheiro
À medida que a economia da China continua a implodir, há lições importantes a serem aprendidas. Uma delas, em particular, é o impacto negativo e o efeito calamitoso de longo prazo de uma economia artificial baseada em políticas monetárias de baixo custo e risco diferido. Outra é que nenhuma nação está imune a qualquer uma delas.
Um conceito brilhante do economista Hyman Minsky explica como períodos prolongados de capital de baixo risco reduzem a percepção de risco, o que pode eventualmente levar a uma crise, já que os investidores assumem muito risco. Minsky teorizou que um ciclo de crescimento econômico de alta excessivamente prolongado poderia estimular a especulação excessiva, eventualmente resultando em instabilidade do mercado ou mesmo colapso econômico. Além disso, quanto mais longo durar o período de especulação de alta, mais severa provavelmente será a crise.
A Grande Recessão de 2008-09 é um grande exemplo desse resultado. Essencialmente, um momento Minsky é um ponto de inflexão quando o comportamento de alto risco e economicamente sem suporte se torna insustentável, o que pode resultar no rápido declínio dos preços e na deterioração imparável do mercado.
Fator de risco crescente se aplica em todos os lugares
A teoria de Minsky tem sido geralmente aplicada ao mercado de ações. Ele se concentra em períodos de alta que não são mais apoiados por fatores fundamentais ou econômicos, mas sim por fatores ilusórios, como capital externo, sentimento de mercado excessivamente otimista (também conhecido como exuberância irracional) ou impulso de compra, que desencadeia novas entradas no mercado impulsionadas pelo medo de perder. Enquanto isso, o risco e a gravidade de um colapso do mercado continuam a aumentar.
No entanto, a análise de Minsky também é amplamente aplicável em outras esferas econômicas.
Este é o momento Minsky da China?
No caso da China, pode-se razoavelmente argumentar que, depois de décadas do Banco Popular da China (PBOC) financiando repetidamente um crescimento maciço e desnecessário por meio do desenvolvimento imobiliário, a teoria do risco de Minsky finalmente entrou em vigor.
Durante anos, o risco para o capital de investimento na China foi minimizado pela dívida circular, pela qual os empréstimos em projetos muitas vezes nunca eram pagos, simplesmente refinanciados em montantes cada vez maiores pelo PBOC. Essa dependência excessiva do desenvolvimento imobiliário para o chamado crescimento econômico financiado por quantidades aparentemente ilimitadas de capital de investimento público e privado é um exemplo clássico de redução artificial do risco de capital e, portanto, aumento das tolerâncias ao risco – e do comportamento de risco – para os investidores.
Em algum momento, os riscos são muito grandes porque a dívida no sistema não é mais sustentável pelos retornos dos investimentos ou dos bancos. O capital sem risco se esgota, e os investimentos não estão rendendo o suficiente para pagar as dívidas.
Além disso, o investimento estrangeiro do Ocidente, como o da União Europeia (UE), maior parceiro comercial da China, está em declínio e provavelmente não retornará aos níveis anteriores.
As falências que agora acontecem entre as maiores empresas de desenvolvimento [incorporadoras] da China, que representam cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB), podem significar que o momento Minsky da China finalmente chegou.
Um potencial fator atenuante é a possibilidade de a China extrair mais riqueza e investimentos de alto rendimento das nações cativas de sua Iniciativa Cinturão e Rota [Belt & Road] (BRI). O fato de a China estar adicionando parceiros comerciais e ganhando riqueza e PIB deles pode compensar um pouco o colapso de sua economia doméstica.
Os EUA estão se aproximando de seu momento Minsky?
Mas e os Estados Unidos? Está finalmente chegando ao seu momento Minsky?
Talvez sim.
Tenha em mente que os gastos deficitários nos Estados Unidos têm sido a norma por décadas. Parte disso é resultado de o dólar ser a moeda de reserva do mundo. Dado que 60% de todas as transações internacionais são feitas em dólares, a necessidade global de dólares excede em muito o valor necessário apenas para os Estados Unidos. Mas, como a história tem mostrado, o nível de gastos aumenta à medida que o nível de renda aumenta (mesmo que a "renda" seja trilhões de dólares estrangeiros inundando o mercado de títulos dos EUA décadas após décadas).
À medida que as economias de outras nações cresceram, sua necessidade de dólares também aumentou, impulsionando mais impressão e empréstimos. Nesse cenário, o gasto deficitário é quase impossível de evitar, muito menos resistir.
Mas chega um momento em que esse mecanismo não funciona mais.
Por exemplo, a dívida nacional é de mais de US$ 30 trilhões e está crescendo. Além disso, o petróleo não é mais vendido exclusivamente em dólares, o que significa menos demanda por dólares americanos em todo o mundo. Adicionando sal à ferida, o mercado de títulos dos EUA está mais fraco do que nunca. Isso significa que os países estrangeiros que costumavam comprar títulos dos EUA como um investimento confiável e livre de riscos, então uma maneira segura de estocar bilhões de dólares em dinheiro, agora estão menos interessados em comprar títulos dos EUA.
A razão para isso é simples. Menos nações acreditam na promessa americana de pagar todo o dinheiro que deve desses títulos.
Por que deveriam, especialmente à luz das altas taxas de juros que tornam o serviço da dívida muito mais caro do que era há apenas alguns anos? Outros ventos contrários incluem o fato de que as transações denominadas em dólar estão diminuindo em todo o mundo, o petrodólar está morto e mais nações estão se alinhando economicamente com a China.
Em suma, os Estados Unidos podem estar ficando sem capital "livre de risco" na forma do mercado global de títulos e do petrodólar em que confiaram por décadas para financiar seus compromissos financeiros, militares, econômicos e de política externa excessivamente otimistas em todo o mundo.
Como a China parece estar experimentando agora, o resultado calamitoso de Minsky para a economia dos EUA pode estar mais perto do que gostaríamos de admitir.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do The Epoch Times.
James R. Gorrie é autor de "The China Crisis" (Wiley, 2013) e escreve em seu blog, TheBananaRepublican.com. Ele está baseado no sul da Califórnia.
https://www.theepochtimes.com/opinion/are-china-and-us-reaching-their-minsky-moment-5548103