Comissão Europeia acusa Shein de práticas de vendas enganosas
A empresa supostamente dificultou o contato dos consumidores para dirimir reclamações ou dúvidas

27.05.2025 por Naveen Athrappully
Tradução: César Tonheiro
Uma investigação da Comissão Europeia e de várias autoridades nacionais de defesa do consumidor descobriu que a varejista online Shein supostamente se envolveu em uma "série de práticas em sua plataforma que infringem a lei do consumidor da UE", relatou a comissão.
Descobriu-se que a Shein supostamente oferecia falsos descontos ao anunciar reduções de preços que não se baseavam nos preços reais pré-descontos dos produtos. A empresa pressionou os consumidores a concluir as compras usando táticas como prazos de compra irregulares, declarou a comissão em um comunicado de 25 de maio.
A empresa exibiu "informações incompletas e incorretas" sobre os direitos legais dos consumidores de devolver mercadorias e receber reembolsos, alegou a comissão, acrescentando que a Shein também não processou devoluções e reembolsos de acordo com as leis do consumidor existentes.
A Shein é acusada de fornecer "informações falsas ou enganosas" sobre os benefícios de sustentabilidade de seus produtos, disse o comunicado.
Quanto ao atendimento ao cliente, a Shein supostamente ocultou seus dados de contato para que os consumidores não consigam entrar em contato facilmente com a empresa para perguntas ou reclamações, de acordo com o comunicado.
A comissão realizou a investigação com a Rede de Cooperação no domínio da Defesa do Consumidor (sigla em inglês CPC), uma associação de autoridades nacionais de defesa do consumidor da Europa. A ação da CPC contra a Shein foi liderada por autoridades da Holanda, França, Bélgica e Irlanda.
"A SHEIN agora tem um mês para responder às conclusões da Rede CPC e propor compromissos sobre como eles abordarão as questões identificadas de direito do consumidor. Dependendo da resposta da SHEIN, a Rede CPC poderá perscrutar a empresa", disse a comissão.
"Se a SHEIN não atender às preocupações levantadas pela Rede CPC, as autoridades nacionais podem tomar medidas de fiscalização para garantir o cumprimento. Isso inclui a possibilidade de impor multas com base no faturamento anual da SHEIN nos Estados-Membros da UE em questão.”
O Epoch Times entrou em contato com Shein para comentar e não recebeu uma resposta até o momento da publicação.
A Shein, com sede em Cingapura, foi fundada pelo bilionário chinês Sky Xu em Nanjing, China, em 2008. A empresa vende produtos de moda baratos da China diretamente para clientes em todo o mundo.
No início de fevereiro, a Comissão Europeia pediu à Shein que enviasse documentos internos e outras informações relacionadas à presença de "conteúdo e bens ilegais" em sua plataforma. Também buscou detalhes sobre como a empresa protege os dados pessoais dos usuários.
No ano passado, a comissão e a CPC Network descobriram que a Temu, outro site que vende produtos chineses baratos diretamente aos clientes, violou várias leis de proteção ao consumidor da UE ao se envolver em práticas como oferecer falsos descontos e falsas avaliações, bem como ardilosas táticas de vendas.
Preocupações com os direitos humanos
Em um artigo de opinião de 29 de abril, o observador da China, Anders Corr, colaborador do Epoch Times e diretor da Corr Analytics Inc., sugeriu forçar a Shein a afastar as cadeias de suprimentos da China para proteger os interesses democráticos.
A Shein foi acusada de usar trabalho forçado na China, bem como cárcere privado, extorsão e intimidação de fornecedores no estilo da máfia [veja também tríades], de acordo com Corr. A Shein tentou abrir o capital no mercado de ações dos EUA, uma tentativa que foi rejeitada pelos Estados Unidos no ano passado.
"As cadeias de suprimentos da Shein devem ser totalmente removidas da China antes de qualquer IPO internacional. A produção deve ser transferida não apenas para fora da China, mas também de todos os países autoritários, incluindo o Vietnã", escreveu Corr.
"Caso contrário, os investidores internacionais continuam investindo em países autoritários. É hora de as democracias usarem seu poder de compra para o bem, não apenas para a moda rápida mais barata que puderem encontrar."
Em 22 de agosto de 2024, a Shein divulgou seu relatório de sustentabilidade de 2023, no qual a empresa confirmou que houve dois casos de trabalho infantil em suas cadeias de suprimentos. O trabalho infantil refere-se a indivíduos menores de 15 anos ou abaixo da idade mínima legal para emprego em sua região ou país específico. A Shein disse que suspendeu os contratos com os fabricantes e só voltou a trabalhar com eles depois de resolver o problema.
"Os fornecedores embusteiros [tiveram] 30 dias para corrigir suas tramoias", diz o relatório. "Ambos os casos foram resolvidos rapidamente, com etapas de correção, incluindo a rescisão de contratos com funcionários menores de idade, garantindo o pagamento de quaisquer salários pendentes, providenciando exames médicos e facilitando a repatriação aos pais/responsáveis legais, conforme necessário."
A Shein foi impactada negativamente pelas políticas tarifárias do governo Trump contra a China, já que muitos de seus produtos são fabricados no país.
Em abril, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva para encerrar a isenção "de minimis" para China e Hong Kong, que permitia a importação de mercadorias avaliadas em US$ 800 ou menos sem estarem sujeitas a taxas. A partir de 2 de maio, os Estados Unidos começaram a cobrar um imposto de 120% sobre pacotes avaliados em US$ 800 ou menos.
Antes de a tarifa entrar em vigor, a Shein disse em um aviso a clientes nos EUA que faria "ajustes de preços" a partir de 25 de abril.
Em 12 de maio, os Estados Unidos e a China anunciaram uma redução temporária nas tarifas recíprocas. Após este anúncio, o governo Trump reduziu a tarifa sobre produtos avaliados em US$ 800 ou menos para 54%.
Em 14 de maio, a Shein emitiu um "alerta de queda no preço" para os Estados Unidos, dizendo que baixou os preços de vários itens.
Naveen Athrappully é repórter que cobre negócios e eventos mundiais no Epoch Times.