Conclave: A caridade nunca contradiz os mandamentos de Deus
DAILY COMPASS - Luisella Scrosati - 28 ABRL, 2025
O novo Papa terá a tarefa de retomar os fios da doutrina moral da Igreja e esclarecer as tentativas de subversão que chegaram a teorizar um suposto conflito entre a caridade e a lei divina, que deve, em vez disso, ser recuperado como fundamento de uma vida moralmente boa.
Em vista do próximo conclave, estamos publicando uma série de artigos aprofundados inspirados no documento assinado por Demos II (um cardeal anônimo), que define as prioridades para o próximo conclave para resolver a confusão e a crise criadas pelo pontificado de Francisco.
O pontificado de Francisco foi aclamado por muitos, tanto dentro quanto fora da Igreja, como um pontificado da misericórdia. Mas, analisando mais atentamente, durante os anos do pontificado que acaba de terminar, vimos o surgimento e a consolidação de uma posição que pode ser considerada uma verdadeira "heresia da caridade", isto é, uma corrupção tanto da caridade quanto da própria misericórdia. O que se insinuou em alguns documentos do Papa, como a exortação Amoris Lætitia, foi abertamente apoiado pela pessoa escolhida pelo Papa para presidir a Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Víctor Manuel Fernández, e agora caracteriza a linha predominante do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família e da Pontifícia Academia para a Vida, presidida por Sua Excelência Monsenhor Vincenzo Paglia.
Não há dúvida de que a Revelação ensina a primazia da caridade (cf. Mt 22,34-40; Mc 12,28-34), princípio unificador de toda a moral cristã. Mas essa primazia deve ser devidamente compreendida. Antes de tudo, recordemos a diferença entre caridade e misericórdia, que frequentemente se confundem. A caridade é uma virtude teologal que nos une a Deus, "que é amado antes de tudo [...] como causa da nossa bem-aventurança, enquanto o próximo é amado como participante dessa bem-aventurança" (cf. Summa Theologiæ II-II, q. 26, a. 2). A misericórdia, por outro lado, é aquela esplêndida virtude moral que nos leva a ter compaixão da miséria do próximo e que, como virtude moral, deve, portanto, ser regulada pela virtude da prudência e subordinada à obediência a Deus, a rainha das virtudes morais (cf. Summa Theologiæ II-II, q. 104, a. 3). Segue-se que a caridade jamais pode levar à desobediência aos mandamentos divinos, nem pode a caridade, que é antes de tudo união com Deus, exigir atos contrários aos mandamentos, afirmação que envolveria uma clara contradição ao Apocalipse: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos [...]. Quem aceita os meus mandamentos e os guarda, me ama" (Jo 14,15.21).
Este suposto conflito entre a caridade (e a misericórdia) e a lei divina foi teorizado pelo último Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, precisamente por causa de uma falsa redução da caridade ao amor fraterno e de um grave equívoco sobre a misericórdia. A alegação de que a caridade pode justificar atos contrários aos mandamentos de Deus, como a contracepção, é um equívoco monstruoso que mina a doutrina moral católica em seus próprios fundamentos. De fato, a caridade é a forma sobrenatural de toda virtude que conduz todo ato humano bom ao trono de Deus; portanto, pressupõe a bondade do ato que eleva, mas não transforma um ato desordenado em um ato ordenado. O fato de que, durante este pontificado, muitos prelados eminentes, nomeados por Francisco para cargos-chave na governança da Igreja, tenham chegado ao ponto de afirmar que a caridade pode justificar a contracepção, o uso da fertilização in vitro ou mesmo as relações uxorio, é um sinal claro do abismo de escuridão em que muitos pastores da Igreja caíram.
O novo Papa terá a tarefa de retomar os fios da doutrina moral da Igreja, maravilhosamente enriquecida durante o pontificado de João Paulo II, esclarecendo essas tentativas de subversão e recuperando o sentido dos mandamentos divinos como fundamento de uma vida moralmente boa, que cresce na virtude e floresce na caridade. Diante de uma abordagem moral cuja orientação fundamental encalhou (jesuticamente?) na busca daquilo que diminui ou elimina a responsabilidade moral daqueles que cometem atos objetivamente desordenados, será necessário responder com a proposta de uma vida integralmente boa, possibilitada pela graça divina e pela boa vontade humana. A vida nova que Cristo veio trazer, comunicada e sustentada pela vida sacramental e pela oração, é uma força que vem do alto, não um compromisso miserável com a fraqueza humana "ad excusandas excusationes in peccatis" (Sl 140,4, Vulgata). A expressão irônica e vívida com que Blaise Pascal, na sexta de suas Cartas aos Provinciais, estigmatizou a nova moral pregada por certos ambientes jesuítas, ainda é atual e ilustrativa do novo paradigma moral: "iam non peccant, licet ante peccaverint" (já não pecam, enquanto antes pecavam).
Outro fio condutor que precisa ser abordado com urgência é, sem dúvida, a relação entre ortodoxia e ortopráxis, um tema que claramente não diz respeito apenas à esfera da vida moral cristã. Esse fio condutor foi interrompido por uma divergência tal entre as duas que a primeira se tornou objeto de mera (e opcional) erudição, incapaz de iluminar e dar forma à segunda. Nesse contexto, no plano moral, a prática se transformou em uma busca sistemática por exceções à doutrina, que agora serve como um pano de fundo inatingível de valores para uns poucos afortunados.
A doutrina, portanto, não é mais vista como uma estrutura arquitetônica sobre a qual a vida se desenvolve com solidez e estabilidade, mas como um conjunto de estacas flexíveis, cujo significado deve ser evitado com agilidade. Do fato de a lei moral, por sua universalidade, ser incapaz de compreender os detalhes do ato concreto, que é sempre circunstancial (daí a necessidade não apenas da prudência, mas também da virtude em geral, que reconhece e alcança o bem por inclinação), conclui-se erroneamente que o ato moral, para corresponder às mais variadas e diferentes circunstâncias, pode e até deve ir além da "dureza" da lei moral, chegando mesmo a contradizê-la. Até mesmo o uso do termo "discernimento" e a hipertrofia patológica da consciência acabaram por corroer o significado da lei natural e anular a existência de absolutos morais.
Trata-se de problemas enormes, com consequências práticas dramáticas para a vida e o destino eterno de milhões de fiéis; a "vida em abundância" que o Senhor veio trazer (cf. Jo 10,10) parece, de fato, ter se transformado num fio de água insalubre, que, no entanto, é falsa e enganosamente celebrado como o "bem possível" que a humanidade pode concretamente oferecer a Deus. A verdadeira "mudança de paradigma" pode ser resumida da seguinte forma: o mal é bem e o bem é mal.