CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O CONFLITO DO TERRITÓRIO DE ISRAEL
Szyja Lorber
O Autor é jornalista, ex Co-Editor da Revista Visão Judaica (onde tive a honra de publicar vários artigos), Presidente da B’nai B’rith [*] no Paraná e especialista no conflito Israel x palestinos.
A publicação deste texto é uma homenagem póstuma do Autor e do Editor deste Substack à grande guerreira Sionista e contra o antissemitismo Sheilla Figlarz Z”L, Co-Editora da Revista
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A luta a favor de Israel é muito difícil na atualidade, talvez um pouco mais, pois como sou jornalista as batalhas se estendem à mídia, ao Facebook e outras redes sociais, onde se trava atualmente um "encarniçado" combate. Aliás, dias atrás rompi uma amizade de 20 anos com um colega jornalista. Estivemos juntos atuando em três jornais. Fazia muito que não o via nem falava com ele. E, de repente, com a guerra contra o Hamas, ele passou ao antissemitismo em praticamente todos os posts. Descobri que virou petista e trabalha aqui num órgão público federal. Comecei respondendo com defesas de Israel e disse-lhe que devia parar o antissemitismo, a comparação com os nazistas e retirar tais comentários do Facebook. Pediu desculpas, mas não retirou, e voltou com seu primitivismo racista. Avisei-o então que rompi a amizade e estava encaminhando os prints de seus comentários para a Federação Israelita daqui para providências legais.
Em relação aos colonos na Cisjordânia. Há, de fato colonos religiosos muitos difíceis de lidar. Mas, não são todos e há muitos moderados. O problema realmente são as ameaças dos árabes residentes (palestinos), os atentados e assassinatos.
Sobre o filme Cinco Câmeras Quebradas, certamente já ouviu falar de Pallywod, a Hollywod palestina, ou seja o uso da imagem manipulada para a propaganda palestina. Esse filme é avanço. Foi feito especificamente para propaganda em conjunto por palestinos e israelenses de esquerda que se apresentam como pacifistas. O curioso é que foi financiado por uma instituição de apoio ao cinema israelense, não sei se o governo, o que não me espantaria muito dado o caráter democrático, mas também um tanto ingênuo de Israel, ou se foi uma entidade israelense subvencionada com recursos externos para se opor às políticas de Israel. O documentário foi cuidadosamente planejado e foi bem ensaiado (portanto, não é um documentário na verdadeira acepção da palavra) justamente para arrancar a compaixão para os palestinos e fazer com que a opinião pública interna e externa de Israel pressione para a retirada da Cisjordânia. E pra isso, aproveitou-se do caso sui-generis de Bili'in, a vila onde os palestinos protestavam todas as semanas por causa do muro de separação em construção tentando impedir que seguisse em frente e obter simpatias com a adesão da mídia. Como sabemos, o muro foi erguido para reduzir o terrorismo e restringir a entrada de suicidas-bomba, e deu certo, salvou inúmeras vidas. Creio que qualquer coisa é melhor do que permitir o assassinato de civis inocentes. Mas os nossos pacifistas e os palestinos pensam diferente. Que Israel deve se retirar da Cisjordânia e tudo ficará bem.
Discordo disso e colocarei minhas razões. Não vou aqui invocar o argumento bíblico da promessa divina da terra de Israel, incluindo a região da Cisjordânia, que não só judeus religiosos creem como também significativa faixa dos cristãos em todo o mundo. Contudo, é inegável a relação transcendental existente, principalmente, entre os judeus e Jerusalém, cuja parte oriental também é reclamada pelos árabes (palestinos), e com partes da Cisjordânia, onde ocorreu boa parte dos episódios históricos intrínsecos ao povo judeu. Há um profundo apego sentimental e de pertencimento àquela terra dos nossos antepassados, começando por Abrahão.
Os assim chamados palestinos são árabes, que falam a língua árabe, têm cultura árabe, compartilham a mesma história dos árabes e têm, em grande maioria, a religião muçulmana, como a da maioria do povo árabe. Eles só chegaram à região no século VII com a expansão do Islamismo. A Palestina foi assim denominada pelo imperador romano Tito para substituir o nome da terra – Judeia – como castigo pela Revolta dos Judeus no ano 70 d.C. que culminou com a destruição do Templo de Jerusalém. Os romanos inventaram o nome Palestina de propósito, dos então maiores inimigos dos judeus, os filisteus, na verdade, povos navegadores e invasores provenientes de Creta e das ilhas do mar Egeu. No período da dominação otomana (turca) e também no Mandato Britânico, palestinos eram todos os habitantes do lugar, quer fossem árabes, judeus ou cristãos. Os defensores dos atuais palestinos se apegam ao fato de que a partir de 1880 os judeus passaram a imigrar da Europa para lá, pelo Sionismo, ou fugindo das perseguições e da pobreza, mas sempre se esquecem, ou ignoram, que, foi justamente a chegada dos judeus, com sua cultura, sua base econômica e produtiva, que iniciou o desenvolvimento da região, abrindo dessa forma milhares de novos empregos e oportunidades que acabaram atraindo as massas árabes dos países vizinhos, geralmente atrasados, num estágio social e econômico não muito distintos do feudalismo. Em alguns desses países a vida era tão miserável que ainda era vigente, de forma oficial, a escravidão. Foram essas levas de árabes, atraídas pelo desenvolvimento judaico que, juntamente, com seus descendentes hoje se autodenominam palestinos.
Em 1882, inspirados por ideais nacionalistas emergentes na Europa, e impulsionados pelos pogroms russos, judeus da Europa Oriental organizaram três grandes levas de imigração à Palestina, chamadas de 1ª aliá: o território era parte do império turco-otomano, que não ofereceu nenhuma resistência à imigração. O sionismo como ideologia evoluiu, sobretudo a partir de Theodor Herzl, que escreveu a obra “O Estado Judeu” e organizou o movimento sionista através de congressos e de uma dedicada luta política em prol da criação de um Estado nacional judaico. Em 1904, judeus oriundos da Europa Oriental mesclaram as ideologias sionista e socialista e organizaram uma segunda leva de imigração chamada de 2ª aliá. Os chamados pioneiros foram os responsáveis pela criação das primeiras instituições que caracterizariam o Ishuv, como os kibutzim, a cooperativa de saúde Kupat Cholim, dentre outras. Em janeiro 1919, Faisal, o filho do Xerife de Meca, encontrou-se com Chaim Weizmann (que depois foi o primeiro presidente de Israel), nessa época o político sionista mais influente. Numa correspondência a Weizmann, Faisal deixara patente sua simpatia pelos sionistas que vinham trazer progresso aos árabes da região. Mais tarde ele foi assassinado.
Em 1917 os britânicos haviam conquistado a Palestina, obtendo em 1920 da Liga das Nações (a ONU da época) o Mandato Britânico. Foi prometido aos judeus um Lar Nacional na Palestina através da Declaração Balfour. O artigo 2º da concessão do Mandato reza que a Mandatária “deverá ser responsável por criar condições políticas, administrativas e econômicas tais que assegurem o estabelecimento do Lar Nacional judaico, como consta do preâmbulo, e o desenvolvimento de instituições de autogoverno, e ainda salvaguardar os direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina, sem considerar raça ou religião”.
Se houver interesse e quiserem ver o texto completo e traduzido do documento do mandato está aqui.
Os árabes não hesitaram em expressar seu descontentamento, organizando motins em 1921. Em 1922 foi criada a Haganá, primeiro grupo paramilitar de defesa judaica. Preocupados com um conflito iminente, os britânicos lançaram o 1º Livro Branco, dividindo o território palestino em um reino com 79 por cento da área (Transjordânia, hoje a Jordânia) e o protetorado da Palestina, além de pôr limites na imigração judaica. Outras duas aliot se deram entre 1918 e 1933, fortalecendo muito o crescimento do Ishuv. Os árabes, comandados pelo mufti de Jerusalém, Haj Amin El Husseini (que depois se tornaria aliado de Hitler, organizando uma Divisão Árabe das SS) organizaram os chamados “tumultos árabes de 1929”, e cometeram as chacinas das antigas comunidades judaicas em Hebron (localizada na Cisjordânia) e Tiberíades, que ali viviam desde tempos imemoriais. Estes tumultos acarretaram na emissão do 2º Livro Branco (1930), limitando ainda mais a imigração judaica, e na consequente criação do Etzel (1931) pelo movimento sionista revisionista, uma milícia paramilitar judaica anti-britânica, que passou a executar ações de sabotagem.
Com a chegada de Hitler ao poder (1933) e o aumento de leis restritivas na Polônia, ocorreu a 5ª aliá, que levou à Palestina outros 80 mil judeus. A reação árabe resultou numa guerra civil (1936-39), ainda estimulada pelo líder religioso muçulmano, o mufti Haj Amin El-Husseini. Preocupados, os britânicos enviaram o comissário Peel à Palestina para elaborar uma solução para o conflito, e este acabou elaborando o primeiro plano de partilha da palestina em 1937. O movimento sionista aceitou as condições, mas os árabes rejeitaram veementemente o plano. Em 1939, pouco antes da 2ª Guerra Mundial, os britânicos cederam às pressões árabes e lançaram o 3º Livro Branco, posicionando-se agora de forma contrária a qualquer partilha do território e limitando a imigração judaica ainda mais. Neste contexto, um grupo dissidente do Etzel criou a guerrilha Lechi, que se recusava a cooperar com os britânicos, intensificando as ações de sabotagem e aderindo ao que os britânicos denominaram de terrorismo.
A 2ª Guerra Mundial esfriou o conflito, direcionando as atenções judaicas à possibilidade dos nazistas ocuparem a Palestina. Em 1941 foi fundado o Palmach, grupo de elite da Haganá. E no final de 1944 foi formada a Brigada Judaica (uma unidade de judeus palestinos do exército inglês). Ao fim da guerra, tanto os britânicos quanto as milícias judaicas e árabes voltaram suas atenções à Palestina. O Holocausto serviu como um incentivo à causa sionista, mas não demoveu os britânicos de abandonar seu controle sobre a Palestina. Em 1946, o Etzel explodiu o hotel Rei David em Jerusalém, causando a morte de 95 pessoas, em sua maioria britânicos. O grupo, para poupar vidas, telefonou antes avisando da explosão, mas o comandante britânico, com toda a arrogância que o caracterizava, disse a seus subordinados: “Não vim à Palestina para receber ordens de judeus, mas sim para dar ordens aos judeus”. E não acreditando na ameaça, impediu que os funcionários deixassem o edifício. Apesar do movimento sionista se opor ao terrorismo revisionista e atuar contra o Etzel e o Lechi, a Haganá decidiu optar também por ações de sabotagem contra os britânicos. Em 1947, os britânicos resolveram dar à recém-fundada ONU o destino da Palestina. Em 1947, então, a resolução 181 optou por dividir a Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe, com 33 votos a favor, 13 contrários e 10 abstenções.
Os árabes rejeitaram a decisão e iniciaram atos hostis em toda a parte. Com a Declaração da Independência por Ben Gurion em 14 de maio de 1948, assim que os britânicos deixaram a Palestina, os árabes a invadiram, começando o que os israelenses chamam de Guerra de Independência. Inicialmente um confronto regional, tomou dimensões internacionais quando Egito, Líbano, Síria, Jordânia e Iraque se uniram às milícias palestinas e atacaram o recém-fundado Estado de Israel. Ben Gurion unificou as milícias judaicas no Exército de Defesa de Israel, e adquiriu armas da Tchecoslováquia para enfrentar os inimigos. A Guerra terminou em 1949, modificando radicalmente as fronteiras e deixando como resultado um número de 600 mil a 700 mil refugiados árabes (da Palestina) em diversos países, sobretudo na Jordânia (incluindo a Cisjordânia), no Egito (incluindo Gaza) e no Líbano (ver notas explicativas sobre este fato no final do texto), parte deles expulsos, por serem cúmplices da ofensiva árabe e da violência contra os judeus. Em contrapartida, cerca de 800 mil a 900 mil judeus foram expulsos dos países árabes.
Israel passou a receber imigração judaica de todos os cantos do mundo, em especial os sobreviventes do Holocausto, e os judeus expulsos dos países árabes, vítimas de hostilidade por parte dos governos locais de característica antissionista. O Estado judeu permaneceu em estado de guerra com todos os países que o cercavam, fato intensificado com a chegada do nacionalista Nasser ao poder no Egito e o advento do Pan-Arabismo.
Vamos saltar um longo período até chegarmos a 1967, quando se deu a Guerra dos Seis Dias e a conquista da Cisjordânia, objeto de nossa atenção aqui. Entretanto, em 1964 foi fundada a OLP (Organização pela Libertação da Palestina), e, em 1965, foi assinado pelos países árabes onde se encontravam os refugiados palestinos o Protocolo de Casablanca, que decidiu de comum acordo não dar cidadania a nenhum árabe palestino residente a fim de que Israel fosse pressionado a criar um Estado palestino, sem nenhuma sugestão de delimitação territorial.
Bombardeada pela Jordânia e pressionada pela iminente guerra e o fechamento do Estreito de Tiran pelos egípcios, em 1967 Israel lança uma ofensiva contra Egito, Jordânia, Síria e Líbano e em uma espetacular operação militar vence em apenas seis dias. O resultado foi a conquista dos territórios do Sinai e Gaza (antes pertencentes ao Egito), Colinas do Golã (da Síria) e Cisjordânia, onde também se situava a parte oriental de Jerusalém (sob domínio da Jordânia). Sobretudo em Gaza e na Cisjordânia, habitava uma população árabe, despossuída de qualquer status de cidadania, sem governo e sem Estado.
Então, veio a resolução 242 da ONU, que muitos acreditam exigir de Israel a retirada desses territórios conquistados em 1967, sem recordar, contudo a exigência de um tratado de paz com os Estados vizinhos que reconhecesse Israel. No entanto, o que pouquíssima gente sabe, é que a Resolução não exige que Israel se retire de todos os territórios. Vou explicar:
O texto original em inglês cita “from territories” (de territórios) e não “from the territories” (dos - de todos - os territórios), mas, por insistência palestina em repeti-la sempre, acabou-se por distorcer o que a resolução realmente diz. O curioso disso, é que até em Israel, pacifistas e muita gente, especialmente das esquerdas, acham que a ONU não iria dar tanto a Israel, e pensam que a Resolução 242 exige a retirada “dos” territórios, ao invés “de” territórios. A diferença entre “dos” e “de” está no fato concreto de que enquanto a primeira significa “se retirar de todos os territórios” a segunda quer dizer “de parte, ou de apenas alguns dos territórios”, o que na prática, já foi feito quando Israel se retirou de parte dos territórios após os Acordos de Oslo, entregando-os à administração da Autoridade Palestina. O problema é que a AP quer todos os territórios e não partes deles. Por outro lado, a preconização das negociações para se chegar a um acordo por parte de Israel, e também por todos os planos de paz já apresentados para o Oriente Médio, é igualmente constante da Resolução 242.
O texto original da resolução em inglês é este:
Resolution 242 (1967) of 22 November 1967
The Security Council,
Expressing its continuing concern with the grave situation in the Middle East,
Emphasizing the inadmissibility of the acquisition of territory by war and the need to work for a just and lasting peace in which every State in the area can live in security,
Emphasizing further that all Member States in their acceptance of the Charter of the United Nations have undertaken a commitment to act in accordance with Article 2 of the Charter,
1. Affirms that the fulfillment of Charter principles requires the establishment of a just and lasting peace in the Middle East which should include the application of both the following principles:
(i) Withdrawal of Israel armed forces from territories occupied in the recent conflict;
(ii) Termination of all claims or states of belligerency and respect for and acknowledgment of the sovereignty, territorial integrity and political independence of every State in the area and their right to live in peace within secure and recognized boundaries free from threats or acts of force;
2. Affirms further the necessity
(a) For guaranteeing freedom of navigation through international waterways in the area;
(b) For achieving a just settlement of the refugee problem;
(c) For guaranteeing the territorial inviolability and political independence of every State in the area, through measures including the establishment of demilitarized zones;
3. Requests the Secretary-General to designate a Special Representative to proceed to the Middle East to establish and maintain contacts with the States concerned in order to promote agreement and assist efforts to achieve a peaceful and accepted settlement in accordance with the provisions and principles in this resolution;
4. Requests the Secretary-General to report to the Security Council on the progress of the efforts of the Special Representative as soon as possible.
Quem também contribuiu para a não-compreensão real da Resolução foi o ex-presidente Jimmy Carter, em seu livro ’Palestina: Paz, Não Apartheid’. Ele afirma que a Resolução 242 da ONU pede que Israel devolva todos os territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias de junho de 1967 e volte às suas fronteiras de antes da guerra (página 125 do livro). Mas, segundo o Centro Simon Wiesenthal, nos Estados Unidos, a Resolução 242 da ONU não exige que Israel retorne às suas fronteiras pré-Guerra dos Seis Dias. E diz que o embaixador britânico na ONU, Lord Caradon que apresentou a resolução, subsequentemente explicou: “teria sido errado exigir o retorno de Israel às suas posições de 4 de junho de 1967. A resolução determina a retirada das tropas israelenses de territórios ocupados, simultaneamente com a exigência do reconhecimento da soberania e integridade territorial, e independência política de todos os Estados da área, e seu direito de viver em fronteiras seguras, livre de ameaças e atos de força, ou seja, o reconhecimento de Israel existir”.
Mais ainda: Conforme explicou o especialista em Direito Internacional, Eugene Rostow: “A resolução 242, que eu, como subsecretário de Estado [dos EUA] encarregado de questões políticas entre 1966 e 1969, ajudei a produzir, requer que seja feita a paz entre ambas as partes. Ela permite que Israel administre os territórios que ocupou em 1967 até que seja alcançada ‘uma paz justa e duradoura no Oriente Médio’. Quando essa paz for alcançada, Israel deve retirar suas forças armadas ‘de’ territórios que ocupou durante a Guerra dos Seis Dias – ela não diz ‘dos’ territórios ou de ‘todos’ os territórios, mas de alguns deles”. Essas foram suas palavras. Rostow, especialista em direito internacional e responsável pela equipe americana na ONU, disse ainda sobre a Resolução que ajudou a escrever: “o que precisamos agora são fronteiras reconhecidas e outras disposições, que lhes dará segurança contra a destruição, o terrorismo e a guerra”, referindo-se a Israel. O ex-presidente Lyndon Johnson, que estava na Casa Branca por ocasião da Guerra dos Seis Dias, também pensava assim, e deixou isso claro numa entrevista à época.
Deixando de lado a Resolução 242, deve-se considerar o fato de que, de acordo com as convenções de Genebra que regulam as leis do estado de guerra, territórios conquistados em guerras contra o Estado agressor e perdedor, não costumam ser devolvidos. Assim foi com a Alemanha, ao perder após a Segunda Guerra Mundial o Porto de Danzig para a Polônia, tornando-se Gdansk. Da mesma forma, a Alemanha, em 1945, perdeu Carlsbad para a então Tchecoslováquia, passando a chamar-se Karlovy Vary; perdeu Königsberg, agora Kalinngrad, para a Rússia. E perdeu a Alsácia-Lorena para a França. A Alemanha perdeu um quarto dos seus territórios pré-guerra (1937); os territórios orientais da Silésia, Neumark e a maior parte da Pomerânia foram assumidos pela Polônia; a Prússia Oriental foi dividida entre a Polônia e a URSS, seguida pela expulsão de 9 milhões de alemães dessas províncias, bem como de 3 milhões de alemães da região dos Sudetos, na Tchecoslováquia, para a Alemanha. Na década de 1950, um em cada cinco habitantes da Alemanha Ocidental era um refugiado do leste. A URSS também assumiu as províncias polonesas a leste da linha Curzon (das quais 2 milhões de poloneses foram expulsos), o leste da Romênia, e parte do leste da Finlândia e a Letônia, a Lituânia e a Estônia no Báltico. Como se sabe, nenhum desses territórios foi jamais devolvido, à exceção dos três países bálticos que ganharam independência com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Assim como os críticos de Israel só veem as mortes dos palestinos na guerra contra o Hamas, ignorando, solenemente, as matanças em escala muito maior na Síria, no Iraque, no Afeganistão, no Sudão, na Nigéria, nos países árabes onde houve a impropriamente chamada “Primavera Árabe”, da mesma forma, os críticos que exigem a saída de Israel da Cisjordânia, não dizem uma palavra sequer sobre a invasão chinesa no Tibete, onde não houve guerra alguma, mas expansionismo agressivo pura e simplesmente. E silenciam sobre a guerra e a invasão russa sobre território da Ucrânia.
Há outros lugares no mundo cujos territórios estão ocupados por outros países, mas nenhum deles é referido como sendo “ocupados” e sim como “territórios em disputa”. Nenhum dos que exigem a retirada de Israel, sabe da existência deles, e se sabe, não lhes interessa reclamar sobre isso. O único foco é a Cisjordânia. Por exemplo, o território do Azerbaijão reivindicado como uma república independente por separatistas armênios nativos na área disputada de Nagorno-Karabakh; o Saara Ocidental que não estava sob a soberania territorial do Marrocos, e foi invadido por este país, era uma ex-colônia espanhola. Numa decisão do Tribunal Internacional de Justiça, em 2001, a ilha de Zubarah, no Golfo Pérsico, reivindicada por Qatar e Bahrain, descrita pelo Tribunal como território disputado, foi finalmente conferida ao Qatar. No Norte de Chipre, há uma ocupação turca e ninguém abre a boca para reclamar. Os curdos que vivem no Norte do Iraque, na Síria, na Turquia e no Irã, em muito maior número do que os palestinos há muito reivindicam um território para sua nação. Alguém os defende? Ah, seria diferente se eles fossem “palestinos”... Há ainda territórios disputados como as Ilhas Kurilas, a ilha Abu Musa no Golfo Pérsico, que envolveram algum grau de conflito armado, mas ninguém os considera “territórios ocupados” nos discursos internacionais.
O caso da Margem Ocidental (a Cisjordânia, que em Israel se chama Iehuda e Shomron, em português, Judeia e Samaria) parece ser uma exceção especial na história recente, pois em muitas outras disputas territoriais desde a Segunda Guerra Mundial, nas quais as terras em questão estiveram sob a soberania prévia de outro Estado, como já mencionado antes, o termo “território ocupado” nunca foi aplicado à área que ficou sob o controle do exército de um lado como resultado de conflito armado. Os especialistas em direito israelenses resistiram tradicionalmente aos esforços para definir a Margem Ocidental e a então “Faixa de Gaza” como “ocupados”, ou incluindo-os nos tratados internacionais principais que lidam com ocupação militar.
O ex-juiz-chefe da Corte Suprema de Justiça de Israel, Meir Shamgar, escreveu nos anos 70 que não há, de jure (de direito), nenhuma aplicabilidade da Quarta Convenção de Genebra, de 1949, com relação a territórios ocupados para o caso da Margem Ocidental e da Faixa de Gaza, visto que a convenção “está baseada na suposição que de havia um soberano que foi desalojado e que ele tinha uma soberania legítima”. Ou seja, não havia um país chamado Palestina, que não tinha governo, nem presidente ou rei. A propósito, há um artigo interessante intitulado “Um Manual dos Territórios Ocupados”, em português, escrito por Dore Gold, que foi embaixador de Israel na ONU, e publicado em novembro de 2002 pelo jornal Visão Judaica, do qual fui editor, e que vocês poderiam encontrar em PDF, acessando asno seguinte endereço: http://www.visaojudaica.com.br/pdf/novembro2002.pdf que, no entanto, foi desabilitado. (Contudo, resgatei o arquivo em PDF , que segue anexo no e-mail).
Ali pode-se saber mais sobre a Cisjordânia e há elementos que ajudam a defender o ponto de vista de Israel.
Existem 22 países árabes e 56 países muçulmanos. Israel é o único país judeu do mundo, e tem só pouco mais do que 20 mil km2. É menor que o Estado de Sergipe e tem um décimo da área do Estado do Paraná. Nenhum país árabe ou muçulmano ofereceu sequer 0,001% de seu território aos “palestinos”. O objetivo, em primeiro lugar, como dizia Arafat, é a Cisjordânia, e depois, ainda segundo ele, com a “política do salame fatiado” tomar o resto de Israel. Ou seja, pouco a pouco. Em 1982, Israel saiu do Sul do Líbano. Houve paz? Nada. O Hezbolá se instalou e dispara mísseis e outros tipos de ataques que já levaram a muitas mortes. Em 2005, Sharon mandou retirar os colonos e soldados israelenses, entregou Gaza aos palestinos, deixando milhares de estufas para flores e frutas exportadas para a Europa para ajudar no desenvolvimento econômico dos palestinos. O que eles fizeram? Primeiro destruíram toda a infraestrutura deixada, depois votaram no Hamas, que um ano mais tarde tomou o poder num sangrento golpe, transformou o lugar numa gigantesca base militar que, em pouco mais de 9 anos, lançou mais de 15 mil mísseis, foguetes e obuses (dados bastante desatualizados devido ao tempo decorrido), além de atentados terroristas contra Israel! Sharon também retirou a população de algumas colônias no Norte da Cisjordânia, sinalizando que, se houvesse paz, poderia se retirar de outras áreas mais na Cisjordânia. Hoje, sabe-se que se isso for feito, teremos uma nova Gaza, muito maior e mais perigosa no Leste.
Durante 19 anos, de 1948 a 1967, os palestinos nunca reivindicaram a criação da Palestina. Nesse período, como sabemos, a Cisjordânia estava ocupada pela Jordânia, e Gaza, pelo Egito, que sempre, segundo eles dizem, apoiou e apoia a causa palestina. A despeito disso, também nunca esses países mencionaram a criação da Palestina porque já existiam 22 países árabes (e mais de meia centena de países muçulmanos em todo o mundo, como já observei). O que esses países árabes vizinhos queriam era mesmo que os judeus fossem eliminados da Palestina. Ninguém falava em criar mais um país árabe: a Palestina. Foi só depois da guerra dos Seis Dias em 1967 que os árabes passaram a se identificar como palestinos. Assim como em 1947 com a Partilha, e antes, em 1937, com a Comissão Peel, eles também recusaram o Armistício de 1949, após a guerra da Independência de Israel. Com o término da guerra do Sinai, em 1956, quando Gamal Abdel Nasser vociferava que iria jogar os judeus no mar, os árabes, mais uma vez, rejeitaram a oferta de paz e da criação da Palestina árabe. Em 1967, reunidos em Kartum, no Sudão, decidiram pelos famosos Três Não: “Não ao reconhecimento de Israel, não à negociação com Israel e não à paz com Israel”, o que para os não entendidos, quer dizer, recusaram, mais uma vez, a criação da Palestina. Ficou até famosa uma citação do professor, historiador e ex-embaixador de Israel na ONU, Abba Eban. Ele disse: “Os árabes nunca perdem a oportunidade de perder a oportunidade”.
Tem mais: Em todos os acordos uma coisa ficou patente: as partes já há muito habitadas por israelenses, Maale Adumim, Modiin Illit, Betar Illit e outras que já são cidades, e que possuem uma população perto de 500 mil habitantes, não são objeto de discussão. Isso ficou ponto pacífico, tanto nos acordos que deram em nada, como a Conferência de Madri, em 1991, ou nos que foram aceitos, como o de Oslo, em 1993, quando se assinou um acordo que deu o controle de parte da Cisjordânia aos árabes (palestinos), base para o processo de paz, com a retirada de boa parte dos centros urbanos palestinos na Cisjordânia (Hebron, Jenin, conhecida pelos judeus como Jericó, Ramalah, Belém e outras) e dando autonomia administrativa aos “palestinos”, sem nenhuma contrapartida, a não ser o que se tornou óbvio depois, com atentados, homens bomba, franco atiradores, e mais atentados.
Pelo acordo de Wye Plantation, nos EUA (1998), Israel fez novas retiradas na Cisjordânia, aí vieram mais e mais ataques terroristas com homens bomba que se explodiam em restaurantes, cafés, cinemas, ônibus, etc. Em Camp David, em 2.000, Arafat recusou mais uma oferta de Israel para criar a Palestina independente, através de Ehud Barak, então primeiro-ministro. Já citei a retirada em 2005 de Gaza de mais de 3.500 colonos e militares, sem nada em troca, a não ser mísseis, foguetes e morteiros. Em 2008 o então primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert fez uma nova oferta, desta vez a Mahmud Abbas, com 93% da Cisjordânia e Jerusalém Oriental. E qual a resposta? Nenhuma. Olmert deixou o governo e até hoje não recebeu nem mesmo um não. A lista é grande e não é preciso ser muito inteligente para perceber que os “palestinos” não estão, nem nunca estiveram, interessados em criar o Estado palestino. O que interessa é simplesmente a destruição de Israel.
Não concordo com a retirada total de Israel da Cisjordânia por que como já observei, primeiro, se isso acontecer, vai repetir-se o que ocorreu após a retirada do Sul do Líbano, e após a retirada de Gaza. Se houver retirada total da Cisjordânia, virá, certamente, mais bomba; segundo, porque a resolução da ONU diz claramente em inglês “retirar-se de territórios” e não “dos territórios”. Terceiro, com quem negociar se o Fatah de Abbas e o Hamas, de Hanyeh, são adversários políticos e ambos se dizem legítimos representantes do povo palestino, mas têm entre si diferenças enormes e a despeito das “n” tentativas anunciadas — mas nunca concretizadas — de unificação, e continuam a se digladiar pelo poder. É impossível tratar de paz, com metade da liderança, enquanto eles não resolvem o problema interno deles. Quarto, ainda que conseguissem resolver, o Hamas jura de pé junto que não reconhecerá Israel, nem os acordos já firmados, não aceitará negociar nunca, e grita aos quatro cantos que o que quer é destruir Israel. Já o Fatah, também quer o mesmo, mas finge que aceita Israel, pois caso contrário secariam as fontes do dinheiro que vem do exterior. Quinto, Israel já se retirou de parte da Cisjordânia com os acordos de Oslo e Wye Plantation. Pode e talvez deva se retirar ainda de outros a territórios onde estão construídos assentamentos considerados ilegais pelo governo israelense. Sexto, não vejo problema algum, nem considero empecilho para se chegar a paz, como se costuma reclamar, a construção de habitações. Por que seria? Se os palestinos concordarem em sentar para negociar e levarem um ou mais desses assentamentos, excluídos os principais, evidentemente, eles só teriam a ganhar com isso. Casas confortáveis e de boa qualidade, ruas urbanizadas e pavimentadas, e infraestrutura moderna lhes seriam entregues. Por que seria isso uma barreira à paz? Não é!
Por que exigem os palestinos que cessem as construções ali? Pela simples razão de que sempre querem mais alguma coisa sem dar nada em troca e para dificultar a vida dos israelenses. Por que Israel constrói ali se poderá ter que entregar isso aos palestinos? Quem conhece Israel sabe que os terrenos são caros e as casas pequenas comparadas com as nossas aqui no Brasil. Naquela área os terrenos são bem mais em conta e as casas são construídas com financiamento do governo. Além disso, muitas famílias religiosas são grandes e há necessidade de espaço. Lá, as casas são maiores. A verdade é que a Autoridade Palestina não quer que se construam casas ali para não dar emprego aos palestinos. Isso mesmo. A AP não quer que os palestinos trabalhem para os judeus ganhando mais do que ganhariam nos territórios administrados pelos palestinos, e também porque não desejam que eles sejam influenciados pela democracia israelense que a AP ou o Hamas detestam.
Acrescento ainda que, por questões de segurança nacional Israel tem que manter parte da Cisjordânia. Sem isso, o lugar mais estreito do território é um gargalo de uns 18 km de extensão. Em caso de guerra, o pais poderia ser facilmente dividido em dois, além do perigo da proximidade das grandes cidades como Tel Aviv, Haifa e Natania, entre outros, se tornarem alvos fáceis de mísseis caso o Hamas tome também o território, como fez em Gaza.
Como disse no início desse longo texto, a área sempre pertenceu aos judeus. Foi ali que tudo começou quando Abrahão chegou. Lembro que após a assinatura do acordo entre Israel e Jordânia, em 1994, Israel quis devolver parte da Cisjordânia e a Jordânia recusou-se a recebê-la de volta. O direito internacional é claro nas questões de territórios perdidos em guerras provocadas pelos perdedores, e já citei o exemplo da Alemanha. Por que a mesma regra não é válida para Israel?
Comentário de Franklin Goldgrub
Um único senão, Szyja, refere-se aos refugiados árabes na guerra de 1948. Você mencionou a expulsão dos árabes pelos judeus e afirmou que o número de judeus expulsos dos países árabes era ainda maior. Em relação a essa segunda afirmação, de acordo. Mas em relação à primeira, discordo.
A grande maioria dos árabes da recém criada Israel fugiu da guerra, como qualquer civil foge, se tiver pra onde ir (vide Síria, atualmente). E essa população poderia voltar aos países de origem (era a segunda geração de imigrantes que, como você disse, foram atraídos pelo desenvolvimento causado pela imigração judaica).
Boa parte retirou-se a pedido dos comandantes das forças invasoras. A população árabe deslocada pela Haganá foi mínima, e se deveu unicamente a razões estratégicas, isto é, para favorecer a defesa do país contra os invasores.
Ou seja, a responsabilidade pelos refugiados é 100% dos próprios governos árabes (então monarquias), cujos exércitos invadiram Israel em 1948 para destruir o país e eliminar seus habitantes judeus.
Resposta do Autor
Caro Franklin,
Você tem toda a razão e agradeço o reparo, bem cabível. Quando escrevi que “parte deles expulsos, por serem cúmplices da ofensiva árabe e da violência contra os judeus”, faltou dizer – e foi falha minha, que peço a todos acrescentarem ao texto (com mais algumas informações) que, de fato, a grande maioria dos árabes que fugiram, o fizeram atendendo ao pedido das lideranças árabes dos países vizinhos, insistentemente transmitidas pelo rádio, sob a alegação de que os exércitos árabes que iriam invadir Israel precisavam de caminho livre, sem os residentes árabes atrapalharem, para jogar os judeus no mar. Assim, a grande massa da população árabe fugiu, instada pelos apelos dos invasores, ou por medo da guerra. Contudo, houve uma pequena parte de árabes expulsos, como já mencionei, que estavam envolvidos em colaboração com os atacantes ou que eram violentos, praticando terrorismo contra os judeus. Esses foram, de fato expulsos. A minha fonte não são apenas livros e leituras. Na década de 70, aqui em Curitiba, eu trabalhei em um jornal, que recebeu a visita de um padre católico, nascido no México, chamado padre Jimenez. Ele viveu a Independência em Israel e foi testemunha ocular dos fatos, pois estava agregado à Escola Bíblica de Jerusalém. Deu entrevista, e eu, um dos entrevistadores, de uma página chama Roda-Viva, ao estilo hoje das entrevistas da TV Cultura, perguntei-lhe sobre a questão e ele foi claro: A esmagadora maioria saiu por que os dirigentes árabes mandaram sair, ou pelo temor da guerra. E houve pequenas expulsões de árabes perigosos e traiçoeiros. Mas, isso foi uma exceção à regra, foram expulsões pontuais justificadas pelos crimes cometidos, não uma política judaica ou sionista ou da Agência Judaica de expulsar os árabes. Ele explicou que ainda assim, muitos árabes permaneceram. Esses, e seus descendentes, correspondem hoje aos cidadãos árabes israelenses, que são pouco mais de 20% da população de Israel.
Ademais, em abril de 1948, pouco antes da declaração da Independência, em Haifa, a maior cidade árabe de Israel, representantes judeus encontraram-se com representantes árabes, na Prefeitura da cidade. Tomando a palavra, o prefeito judeu de Haifa, Shabatai Levy, fez um apelo aos árabes para que permanecessem em Haifa, dizendo que durante quarenta anos judeus e árabes haviam ali vivido em paz, e que poderiam perfeitamente continuar assim. Salientou desejar que os árabes ficassem como cidadãos iguais em todos os sentidos, prosseguiriam livremente com seu modo de vida e negócios habituais. Não se pode duvidar da sinceridade do prefeito Shabatai Levy, pois também há relatos de que, ao tomar conhecimento pelo rádio de que os líderes árabes conclamavam a população a deixar Israel, ele pegou uma camionete com alto-falante e saiu pelas ruas da cidade para convencer os árabes a ficar.
[*] A B’nai B’rith é uma instituição judaica internacional fundada há 180 anos em Nova York e está no Brasil há 91 anos. Seu foco originalmente era combater o antissemitismo. Hoje em dia também defende Israel e os direitos humanos em geral. É uma das mais antigas instituições de direitos humanos do mundo.