Desvendando o paradoxo dos pobres trabalhadores da China
26.04.2025 por Yuan Bin
Tradução: César Tonheiro
O Partido Comunista Chinês (PCC) encontra-se enredado em um desequilíbrio econômico autoinfligido, marcado pela produção excessiva e pela fraca demanda do consumidor. Sob a superfície está uma contradição mais profunda: uma população excepcionalmente trabalhadora que vê pouco retorno nos salários.
Em 2023, a China liderou o mundo em valor agregado de manufatura — uma medida chave da atividade manufatureira — atingindo US$ 4,8 trilhões. Isso representou quase 29% da produção global e superou o total combinado das próximas quatro maiores economias manufatureiras: Estados Unidos (17,2%), Japão (5,1%), Alemanha (5,1%) e Índia (2,8%), de acordo com dados da Divisão de Estatística das Nações Unidas.
Impulsionando esse nível de produtividade estão os funcionários da China, que registram algumas das horas de trabalho mais longas do mundo. Em 2024, os trabalhadores chineses tinham em média 46,1 horas por semana, em comparação com 38 horas para os trabalhadores americanos, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho. Na China, "996" tornou-se uma abreviação bem conhecida para a cultura de trabalho extenuante — das 9h às 21h, seis dias por semana — que é particularmente prevalecente nos setores de tecnologia e manufatura.
Esses números apontam para uma realidade inegável: o povo chinês não é apenas trabalhador — eles estão, por medida estatística, entre os mais laboriosos do mundo. No entanto, esse esforço incansável não se traduziu em renda proporcional ou segurança econômica.
Em 2020, o então primeiro-ministro Li Keqiang reconheceu publicamente que 600 milhões de cidadãos chineses — quase metade da população — viviam com uma renda mensal média de apenas 1.000 yuans (cerca de US$ 140).
Um estudo de 2019 do Instituto Chinês de Distribuição de Renda da Universidade Normal de Pequim descobriu que, entre esses cidadãos de baixa renda, 220 milhões ganhavam menos de 500 yuans (cerca de US$ 69 por mês), destacando a gravidade da pobreza que afeta um segmento substancial da população.
Enquanto isso, de acordo com os últimos dados oficiais, os residentes idosos nas áreas rurais dependem de pensões em média de apenas 123 yuans (cerca de US$ 17) por mês, que mal dá para cobrir as despesas mais básicas de vida.
Vale a pena notar que a onda de turistas chineses que lotavam lojas de luxo nos Estados Unidos e na Europa antes da pandemia de COVID-19 representava apenas uma pequena fração da população de 1,4 bilhão da China; mesmo uma pequena porcentagem chega a milhões — e o suficiente para criar a ilusão de que a maioria dos cidadãos chineses se tornou rica.
Então, como pode um país que gera o segundo maior PIB do mundo, e cujo povo está entre os mais trabalhadores do planeta, ainda ter quase metade de sua população vivendo na pobreza?
A resposta está em como a riqueza é distribuída. De acordo com o Anuário Estatístico da China 2024, a massa salarial total em 2023 foi de 19,74 trilhões de yuans (cerca de US$ 2,7 trilhões), distribuída por aproximadamente 740 milhões de pessoas empregadas. Isso se traduz em um salário médio anual de apenas cerca de US$ 3,644. No mesmo ano, o PIB da China atingiu 129,43 trilhões de yuans (cerca de US$ 17,7 trilhões), o que significa que os salários representaram apenas 15,3% do PIB — muito abaixo das proporções observadas nas economias desenvolvidas e mais próximas dos níveis observados nos países africanos de baixa renda.
Essa disparidade impressionante indica que a riqueza gerada pelos trabalhadores da China não está fluindo de volta para eles. Em vez disso, uma parcela desproporcional é absorvida pelo Estado.
E para onde vai essa riqueza?
Uma parcela significativa é gasta no exterior com a chamada ajuda externa, com os cidadãos chineses se referindo a ela ironicamente como "jogando dinheiro generosamente".
Esses gastos são amplamente vistos como um movimento estratégico para garantir o apoio diplomático dos países do Sul Global [doadora desonesta], particularmente porque o PCC enfrenta críticas crescentes sobre suas violações dos direitos humanos e das normas internacionais.
Outro destino importante para os fundos estatais são os gastos militares. A China tem o segundo maior orçamento de defesa do mundo, oficialmente fixado em 1,78 trilhão de yuans (cerca de US$ 296 bilhões) para 2025. No entanto, os analistas acreditam que o número real pode ser muito maior, de US$ 471 bilhões a US$ 700 bilhões. Em comparação, o orçamento de defesa dos EUA para 2025 deve atingir cerca de US$ 850 bilhões. Ainda mais preocupante, no entanto, é o aumento dos gastos com segurança interna — referido como "manutenção da estabilidade" no discurso do PCC — já ultrapassou os gastos militares.
De acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Nacional de Defesa e Segurança de Taiwan, desde 2009, a China alocou vastas somas para vigilância doméstica, censura, policiamento e controle social, com gastos de "estabilidade" superando consistentemente os orçamentos de defesa nos anos que se seguiram.
Os custos administrativos são igualmente inflacionados, com os gastos burocráticos da China entre os mais altos do mundo.
De acordo com dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China, os funcionários do setor público — incluindo funcionários públicos — representavam cerca de 18% da força de trabalho em 2013, subindo para 23% em 2021. Isso significa que, em 2021, quase 1 em cada 4 indivíduos empregados na China obteve sua renda de fundos públicos. Vale ressaltar que, nos últimos anos, a China parou de publicar dados sobre o tamanho de sua força de trabalho do setor público — uma medida que os analistas sugerem ter como objetivo evitar desencadear a reclamação pública.
Ao mesmo tempo, a corrupção generalizada e a captura da elite continuam a drenar a riqueza pública.
Em resumo, embora o povo chinês esteja entre os mais laboriosos do mundo e contribua para a segunda maior economia do mundo, grande parte da riqueza que eles criam é desviada pelo PCC — uma entidade que não gera valor econômico em si. Esse desequilíbrio fundamental está no cerne da persistente diferença de renda da China: cerca de 600 milhões de cidadãos vivem com uma renda média mensal inferior a US$ 140, com cerca de 220 milhões vivendo com menos de US$ 3 por dia.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
Yuan Bing é um escritor freelance e estudioso independente sobre questões contemporâneas da China.
https://www.theepochtimes.com/opinion/unpacking-the-paradox-of-chinas-hardworking-poor-5844946