Escolhido pelo Papa Francisco para cardeal brasileiro pede abertura para ordenar padres casados na região
Descendente de imigrantes alemães, Spengler é membro da Ordem Franciscana dos Frades Menores há mais de 40 anos e padre há quase 34 anos.
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Hannah Brockhaus - 10 OUT, 2024
O arcebispo brasileiro Jaime Spengler, OFM, um dos 21 homens escolhidos pelo Papa Francisco para se tornar cardeal no próximo consistório em 8 de dezembro, confirmou os planos para um teste de um rito amazônico da missa e pediu "abertura" à ideia de padres casados para servir certas comunidades que enfrentam escassez de padres.
O homem de 64 anos é uma figura proeminente na Igreja em seu país natal e em toda a América do Sul, liderando a Conferência Episcopal Católica do Brasil e a Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM).
Descendente de imigrantes alemães, Spengler é membro da Ordem Franciscana dos Frades Menores há mais de 40 anos e padre há quase 34 anos.
Depois de servir como bispo auxiliar de Porto Alegre por dois anos e meio, o Papa Francisco o escolheu em 2013 para liderar a arquidiocese, tornando-o o arcebispo mais jovem do Brasil na época, tendo acabado de completar 53 anos.
A Arquidiocese de Porto Alegre, que abrange a capital do estado mais ao sul do Brasil, atende mais de 2 milhões de católicos espalhados por mais de 13.000 quilômetros quadrados (mais de 5.000 milhas quadradas), de acordo com estatísticas do Vaticano de 2021.
Com apenas 300 padres, a arquidiocese teve que explorar maneiras de superar os desafios impostos pela escassez de padres — um problema enfrentado por grande parte da Igreja Católica na América Latina.
Spengler indicou mais uma vez que está aberto a ordenar homens casados, os chamados “viri probati”, para servir como padres — um assunto muito debatido durante o sínodo da Amazônia do Vaticano em 2019.
O arcebispo e futuro cardeal disse em um briefing para o Sínodo sobre Sinodalidade no Vaticano em 8 de outubro que sua arquidiocese está “investindo em diáconos permanentes: talvez no futuro esses homens casados também possam ser ordenados padres para uma comunidade específica”.
A questão da ordenação sacerdotal de homens casados — atualmente não permitida pela disciplina da Igreja no rito latino — é “delicada”, Spengler observou. “Não sei se poderia ser a melhor solução para a escassez de padres, mas precisamos de franqueza e abertura para lidar com isso. É uma jornada.”
“Não tenho respostas pré-embaladas”, ele continuou. “Podemos e devemos enfrentar a questão com coragem, tendo em mente a teologia, mas também captando os sinais dos tempos.”
Spengler, que é doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma, nasceu em Gaspar, no estado de Santa Catarina, ao norte de onde atualmente vive, no estado do Rio Grande do Sul.
Santa Catarina é a fonte de muitas vocações sacerdotais do Brasil e também o local de nascimento de duas das figuras mais influentes da teologia da libertação: o falecido arcebispo de São Paulo, Paulo Evaristo Arns, OFM, e o teólogo Leonardo Boff, ex-padre católico e um dos fundadores do movimento, que ganhou popularidade na década de 1970 e enfatizou a libertação da pobreza e da opressão como a chave para a salvação.
Spengler também apoiou um rito amazônico da missa, algo que está em estudo desde o Sínodo da Amazônia de 2019. Uma fase experimental de três anos de um rito amazônico começará antes do final deste ano, de acordo com o padre Agenor Brighenti, um padre que lidera o estudo dos bispos amazônicos (CEAMA) sobre um rito amazônico.
Brighenti, um dos especialistas em teologia do Sínodo sobre Sinodalidade, é também o novo chefe da equipe teológico-pastoral do CELAM.
Respondendo a uma pergunta, Spengler confirmou na coletiva de imprensa do Vaticano em 8 de outubro que há um grupo na conferência dos bispos da Amazônia trabalhando na criação de um rito amazônico da missa, mas acrescentou que acha que também seria mais fácil explorar maneiras de inculturar o rito latino da missa.
O cardeal brasileiro designado vinculou a necessidade de ter uma missa que refletisse de alguma forma a cultura amazônica à falta de acesso à Eucaristia em algumas áreas remotas da Amazônia.
“Hoje na Igreja Latina temos o rito romano, e o rito romano deve ser inculturado nas diferentes realidades”, disse ele. “Pessoalmente, acho que podemos explorar essa possibilidade de uma maneira mais aprofundada... Claro, isso requer uma sensibilidade e atenção especiais por parte das partes envolvidas, e também uma prontidão para encontrar um caminho, uma jornada.”
O futuro cardeal também disse que um desafio para a Igreja em países tradicionalmente cristãos como o Brasil é como apresentar a fé para a próxima geração.
As observações ecoaram comentários que Spengler fez durante um sínodo diferente, o sínodo de 2018 sobre jovens, fé e discernimento vocacional. Como delegado do sínodo da juventude, Spengler disse aos jornalistas que achava que a questão de transmitir valores religiosos aos jovens estava na base de todos os debates dos bispos.
No contexto do sínodo atual, Spengler está entre aqueles que veem profundas conexões entre o Concílio Vaticano II e a pressão por uma Igreja mais sinodal.
O Sínodo da Sinodalidade é “uma oportunidade de resgatar as linhas mestras do Concílio Vaticano II”, disse o arcebispo em carta à conferência dos bispos brasileiros nesta semana.
“Na verdade, trata-se de desenvolver as intuições dos padres conciliares e encontrar maneiras viáveis de implementá-las”, escreveu ele aos bispos, observando que eles não deveriam temer controvérsias, que são apenas “parte do processo”.