HEITOR DE PAOLA (WAR): HOUVE REALMENTE UMA TENTATIVA DE GOLPE NA RÚSSIA?
A mim, que desconfio sempre de unanimidades, restaram muitas perguntas e algumas conjecturas.
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HEITOR DE PAOLA
ARTIGO INÉDITO - 4 JULHO, 2023
Quando estiveres fraco, mostra-te forte, assim o inimigo temerá atacar até que tenhas te reforçado. Quando estiveres forte, mostra-te fraco. Assim o inimigo te atacará e vencerás. (...) Se queres fingir debilidade para induzir a arrogância em teus inimigos, primeiros deves ser extremadamente forte porque só então podes pretender ser débil. (...) Os bons guerreiros fazem com que os adversários venham a eles, e de nenhum modo se deixam atrair fora de sua fortaleza.
SUN TZU
A Arte da Guerra
Não, não tenho resposta para a pergunta do título deste artigo, diferentemente da totalidade da mídia ocidental que sabia de tudo publicava, quase religiosamente que Yevguêniy Prighôzhin (Prigo) saíra da de seu posto na Ucrânia e entrara na Rússia para derrubar Putin. Also sprach Prigôzhine sua palavra passou a ser lei, a verdade universal e incontestável para todos. Mas como dizia Nelson Rodrigues, toda a unanimidade é burra e quem fala com a unanimidade não pensa, duvidei desta versão causada por algo que o mesmo Nelson chamava de paixão política, a única paixão que imbeciliza o homem.
E qual era esta paixão imbecilizante? Propagandeada pelo decrépito comunista Biden – pau mandado do Obaminável - pela nazista Ursula von de Leyen e sua ditatorial União Europeia, por Jens Stoltenberg da “neutra” Suécia (que forneceu todo o ferro de que as indústrias alemãs precisavam para suas armasdurante a II GM) Secretário Geral da corrupta OTAN e obviamente pelo presidente chantagista Zelenskiy, e espalhada pela mídia corrupta:Putin tem que sair do poder e temos que colocar a Rússia de joelhos!
A mim, que desconfio sempre de unanimidades, restaram muitas perguntas e algumas conjecturas.
1. Como um país em guerra com seu vizinho não patrulha suas fronteiras e permite a passagem do Grupo Wagner sem resistência como se fosse um grupo turístico?
2. Como foi possível o avanço de cem quilômetros dentro da Rússia sem enfrentamentos de monta?
3. Por que não foi amplamente divulgado que Prigo se recusara a assinar o contrato formal como Ministério de Defesa previsto para 1º de julho?
4.Como o comando do Distrito Militar Sul de uma grande potência em Rostov-sobre-o-Don foi tomado com tanta facilidade?
5. Por que Prigo tomou Rostov, a mais de 1.000 km de Moscou, e ali parou? (ver mapa acima)
6. Por que Prigo apresentou, em menos de 24 horas, quatro versões diferentes sobre a sua ação? Saiu porque foi atacado com mísseis russos – para derrubar Putin – para salvar seu grupo de mercenários – para mostrar ao Ministro da Defesa Shoigu e ao Comandante Gierasimov como deveriam ter atacado a Ucrânia e liquidado o assunto em dois dias, mas jamais pensou em derrubar o Presidente eleito pelo povo russo
7. Por que, se a “tentativa de golpe” foi abortada, cantava-se em prosa e verso, com direito a grande alegria, que Putin ficou enfraquecido?
8. Por que afirmaram que o povo russo está contra o governo se logo após a decisão grupos de jovens cantavam orgulhosamente, em várias cidades, “eu sou russo” (Я русский)?
9. A mídia é tão mercenária quanto o Grupo Wagner, mas por que analistas conservadores/liberais sérios defenderam com garra um grupo mercenário de assassinos profissionais?
Não pretendo responder porque seria chute, como chute são todas as belíssimas interpretações que li - à parte as mentiras usuais da mídia que geralmente não têm nenhum interesse. Havia uma vibração no ar pela pregação sistemática de que a Rússia é um inimigo perigosíssimo da civilização ocidental. Com algumas nuances diferentes Adolf Hitler dizia o mesmo, mas numa época mais adequada pois era a Rússia Soviética.
Tanto isto é verdade que, ao sair a notícia de que o Grupo Wagner tinha “invadido” a Rússia, as autoridades ocidentais previram um banho de sangue: “Os EUA esperavam que a tentativa de motim da companhia militar privada Wagner fosse “muito mais violenta e sangrenta” do que realmente foi. De acordo com relatos da mídia americana, a comunidade de inteligência em Washington afirma ter tido informações sobre os planos de Yevgêniy Prigôzhin e acreditava que isso resultaria em mais derramamento de sangue.” “Sei que avaliamos que seria muito mais violento e sangrento”, disse um funcionário do governo Biden à CNN.” Infelizmente para Washington, uma revolução do tipo bolchevique não se repetiu para usurpar o esforço de guerra da Rússia. Ao mesmo tempo, o chefe dos Negócios Estrangeiros da UE, Josep Borrell, defende incorretamente que os militares russos irão ceder em breve.” [1]A paixão imbecilizante impede enxergar a realidade e impor seus delírios.
Os acontecimentos de 24 de junho, foram acompanhados por uma reação turbulenta da comunidade internacional. Claro, a Ucrânia e Washington estavam entusiasmados antecipando o início da guerra civil na Rússia. Para seu grande infortúnio, a guerra não aconteceu, como também não aconteceu a postergada sine diae contraofensiva ucraniana.
No domingo, 25 de junho, reportagens do The Washington Post[2] citando fontes anônimas, que em meados de junho, os serviços de inteligência dos EUA souberam dos planos do Wagner PMC para lançar uma rebelião armada. "Os sinais foram suficientes para informar a liderança... que algo estava errado", disse um funcionário da Casa Branca não identificado. “Se isso não é um blefe (e provavelmente é um blefe), a inteligência americana não foi capaz de prever como os eventos realmente aconteceriam.”
Alguns dias depois, o presidente dos Estados Unidos, Biden, disse que era "difícil entender" se Putin havia enfraquecido depois de 24 de junho ou vice-versa. E um pouco mais tarde, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, diz que “a tentativa de motim na Rússia oferece algumas oportunidades para a contraofensiva ucraniana.” “Putin e as autoridades russastêm que olhar – meio que cuidar de sua retaguarda enquanto tentam lidar com a contraofensiva na Ucrânia, acho que isso cria ainda mais aberturas para os ucranianos se saírem bem” Nem houve motim, nem mudou nada, a retaguarda está bem guardada, nem ajudou a tão decantada contraofensiva ucraniana.
Numa manchete do Times constava: “A revolta levanta uma questão importante: Putin poderia perder o poder?” O colunista do Washington Post, David Ignatius, fez esta avaliação: “Putin olhou para o abismo no sábado – e piscou”.
O secretário de Estado, Antony Blinken - o principal defensor do governo em tempos de guerra, que semanas atrás falou com orgulho de seu compromisso de não buscar um cessar-fogo na Ucrânia - apareceu no programa Face the Nation da CBS com sua própria versão da realidade: “Dezesseis meses atrás, as forças russas eram . . . pensavam que apagariam a Ucrânia do mapa como um país independente”, disse Blinken. “Agora, no fim de semana, eles tiveram que defender Moscou, a capital da Rússia, contra mercenários criados pelo próprio Putin. Foi um desafio direto à autoridade de Putin. Mostra rachaduras reais.”[3]Jura, Mr. Blinken?
O Politico[4] dá uma definição mais verdadeira da reação de Washington: “altos funcionários dos EUA ainda estavam tentando descobrir o que aconteceu ao longo do fim de semana.”
Uma semana se passou, a "oportunidade" mencionada por Blinken não foi aproveitada pelo lado ucraniano na frente, o que demonstra que o Wagner Group não mais era necessário para defender Bakhmut, e Washington não fez uma análise adequada dos acontecimentos.
O colunista do jornal britânico The Guardian, Anatole Lieven, escreveu[5]que “todos as conclusões dos especialistas da semana são coloridas pela hostilidade ao líder russo e não representam uma análise sóbria e objetiva. Lieven é um dos poucos que reconhece:devemos supor que Putin lidou bem com a situação no fim de semana.”
Talvez seja isso que o Ocidente não quer reconhecer em sua maioria. Ninguém reconheceu o fato de que as autoridades e o povo russos foram capazes de enfrentar adequadamente o desafio, evitando derramamento de sangue.
Principalmente Biden que prometeu desde o início um dólar a 200 RUB (cotação de 03/07: 87,0130 o rublo subindo)e um rápido colapso da Rússia por meio de um pacote de 10 sanções "do inferno", mas enganou a todos. Os políticos europeus caíram na promessa de Biden de uma blitzkrieg de sanções contra a Rússia, antecipando a queda de Putin, a inflação e a divisão da Rússia e recursos gratuitos. Mas o que eles conseguiram na realidade foi um confronto prolongado, gasolina cara, inflação recorde, o esgotamento de seus estoques militares e a desindustrialização da Europa. Chegou ao ponto de embaraço que a inflação na Alemanha ultrapassou a da Rússia - 2,9% este ano - e a Alemanha 6,9%.
Para não perder a Europa depois de tantos fracassos, os EUA começaram agora não mais a tentar os europeus com uma vitória rápida sobre a Rússia, porque já é óbvio que isso não vai acontecer, mas a assustá-los de que Putin não vai parar se ele supostamente vencer e vai mais longe, atacando a Europa. Isso foi recentemente declarado publicamente por Mike Pence, ex-vice-presidente dos Estados Unidos.
Se Putin mais uma vez decepcionar os políticos americanos ao não fazer isso e, em algum momento, anunciar o fim da guerra alimentada pelo ocidente e a conquista de seus objetivos, a cisão final entre a Europa e os Estados Unidos pode ser inevitável. Os Estados Unidos traíram a Europa em todos os aspectos. O Velho Mundo será pouco mais do que uma sombra do que já foi, drenado de seu sangue e mergulhado no caos e na guerra civil, cujo início já podemos ver sobre Paris.
Azar dos falsos colunistas de Washington e correspondentes de segurança nacional que parecem confiar fortemente em informações oficiais de funcionários da Casa Branca e do Departamento de Estado. Dados os resultados publicados de tais briefings, essas autoridades parecem incapazes de olhar para a realidade das últimas semanas, ou para o desastre total que se abateu sobre a contraofensiva militar ucraniana.
“Com a contraofensiva da Ucrânia em sua terceira semana, não há dúvida de que não passou de um grande fracasso. A Ucrânia e o Ocidente, desesperados, pensaram que uma graça salvadora foi fornecida na forma do motim de Prigôzhin. Para sua decepção, a unidade russa prevaleceu, e agora o Ocidente está se esforçando para fornecer à Ucrânia ainda mais fundos enquanto a contraofensiva estagna.”[6]
A autocrítica já começou logo depois: “Quaisquer que sejam os erros que a liderança russa possa ter cometido, todos eles empalidecem em comparação com as ilusões do Ocidente sobre a Rússia”, disse o coronel aposentado do Exército dos EUA, Douglas Macgregor[7]. Ele lembrou o que o Ocidente dizia: a economia russa é fraca e entrará em colapso rapidamente sob sanções, o país estará em total isolamento internacional e incapaz de manter a unidade, eles não têm estado real e não sobreviverão.
"Fizemos suposições erradas sobre a Rússia, assim como qualquer outro país do mundo. Inicialmente, todos acreditávamos que a economia deste país estava atrasada, que devido às nossas sanções ela cairia em pedacinhos. Também pensamos que eles não tinham uma base científica e técnica real, mas no final descobriu-se que suas fábricas trabalham dia e noite, aumentando a produção de munições, mísseis e várias armas. Também contamos com o fato de que ninguém ficaria do lado da Rússia, e o próprio país estaria em isolamento internacional. No entanto, na prática, tudo aconteceu exatamente o contrário: tudo se voltou contra nós, porque somos os europeus e eu que estamos essencialmente nos levando a um isolamento cada vez maior.”
Ao mesmo tempo a percepção de que a Ucrânia fracassou com a teimosia de Zelenskiy e da elite que o pôs no poder e o controla em entrar para a OTAN. Muito provavelmente isto não acontecerá apesar das suas chantagens. Como bem o diz Macgregor Biden e Zelenskiy estão interessados num conflito nuclear USA X Rússia, e a OTAN está lutando a guerra ideal ao não envolver pessoal, mas só material e geralmente de categoria inferior ao dos russos. O povo ucraniano só serve para bucha de canhão e, pior, Zelenskiy sabe disto e insiste!
A Ucrânia não receberá caças ocidentais modernos até pelo menos a conclusão da contraofensiva atual, disse Rob Bauer[8], chefe do Comitê Militar da OTAN, em entrevistapara a estação de rádio LBC."A discussão sobre os caças é importante, mas não será resolvida a curto prazo para esta contraofensiva. O treinamento de pilotos, o treinamento de técnicos, o fornecimento da logística que possa dar suporte a essas aeronaves não estará disponível até que a contraofensiva esteja concluída", disse Bauer.
Antes de apresentar minhas conjecturas, algumas informações:
De todas as artimanhas russas levadas ao extremo pelos setenta anos de comunismo, a única bem conhecida entre nós é a dezinformatsiya (дезинформация) em função da tradução dos livros de exilados russos e de outros países comunistas, como principalmente do romeno Ion Mihai Pacepa. Não é apenas mentir, mas fornecer falsas informações muito bem elaboradas para desviar a atenção do inimigo e encobrir estratégias planejadas ou em andamento.
Mas existem outras, como maskirôvka (mаскировка), mascaramento, disfarce, ações para confundir o inimigo. Os analistas ocidentais conhecem muito pouco de Putin. Ele já participou de uma enorme maskirôvka, quando enviado para a Alemanha Oriental não foi para Berlin coalhada de espiões ocidentais, permaneceu anos em Dresden, cidade pela qual os serviços de inteligência ocidentais não davam a mínima e de onde ele comandava as organizações terroristas que atacavam o ocidente e controlava agentes de espionagem e contraespionagem na Alemanha Ocidental e Reino Unido. Por outro lado, insistem em que Putin continua comunista e a Rússia é igual à antiga URSS, portanto nada conhecem da Rússia também. Ainda olham para Moscou como a capital da URSS e não da verdadeira Rússia que foi comunista durante 70 anos e imperial durante séculos! Não percebem que Putin fez renascer o nacionalismo russo e conta com o apoio popular que não vive sem biezopásnost (безопасность), - é o B de KGB - segurança assegurada pelo Estado.
Putin escreveu no "Manifesto do Milênio": "O comunismo e o poder dos soviéticos não fizeram da Rússia um país próspero, com uma sociedade em desenvolvimento dinâmico e um povo livre. O comunismo demonstrou vividamente a sua inaptidão para um autodesenvolvimento sólido, condenando o nosso país a um atraso constante em relação aos países economicamente avançados. Foi um caminho a um beco sem saída, que está longe do mainstream da civilização".
MINHA CONJECTURA
Parece-me que é isto que aconteceu: uma ação coordenada entre Putin, Prighôzhin e Alieksandr Lukashenko, Presidente de Belarus, no sentido de permitir Putin se livrar do alto comando militar que falhou muito na ofensiva e, simultaneamente, enganar o ocidente e os ucranianoscom um falso golpe (maskirôvka) que fizesse nascer falsa esperanças. Seguindo fielmente as táticas de Sun Tzu deu a entender que estava fraco, quando está muito forte, sabendo-se forte fingiu debilidade para induzir a arrogância nos inimigos e fez com que os inimigos viessem aele. Os oblasts conquistados pelo Exército russo está fortemente defendido por três camadas de defesa com potencial ofensivo. A contraofensiva ucraniana bate num muro intransponível.
Como nos mostra Seymor Hersh(lo, cit.) “O que nunca ouvimos é que, três meses atrás, Wagner foi retirado da frente de Bakhmut e enviado para um quartel abandonado ao norte de Rostov-on-Don [no sul da Rússia] para desmobilização. O equipamento pesado foi redistribuído em sua maior parte e a força foi reduzida para cerca de 8.000, 2.000 dos quais partiram para Rostov escoltados pela polícia local.”“Putin agora tem ao seu alcance o controle total, ou próximo a ele, dos quatro oblasts ucranianos – Donetsk, Kherson, Lubansk, Zaporizhzhia – que ele anexou publicamente em 30 de setembro de 2022, sete meses após o início da guerra. O próximo passo, supondo que não haja milagre no campo de batalha, caberá a Putin. Ele poderia simplesmente parar onde está e ver se a realidade militar será aceita pela Casa Branca e se um cessar-fogo será buscado, com negociações formais de fim de guerra iniciadas.”
Donald Trump afirmou que a Ucrânia terá que perder parte de seu território: certamente a Crimeia e os quatro oblasts (províncias) citados acima, que era seu objetivo principal!
[3] https://hdepaola.substack.com/p/war-a-loucura-de-prigozhin?utm_source=profile&utm_medium=reader2
[4] https://www.politico.com/news/2023/06/28/biden-russia-wagner-00104098
[7]
[8] https://www.lbc.co.uk/news/ukraine-no -fighter-jets-until-after-counter-offensive-against-russia/