ISLAM: O PAROXISMO TOTALITÁRIO
Ver o Islam apenas como mais uma religião, como as outras, com os mesmos nobres propósitos, é um erro imenso que poderá mergulhar a civilização ocidental num abismo sem fim.
Por HEITOR DE PAOLA 24/072003
Os caminhos para o desastre são infinitos e tortuosos, mas para limitar este ensaio abordarei um último tópico, outro caminho importante na marcha da insensatez atual: ver o Islam como apenas mais uma religião, como as outras, com os mesmos propósitos nobres. É um erro imenso que poderá mergulhar a civilização ocidental num abismo sem fim.
Uma das tendências mais perigosas do multiculturalismo é aquela que nos proíbe de criticar ou julgar outras sociedades, religiões, crenças, costumes, etc. O mais interessante é que este relativismo é, em si, relativo! Sendo mais uma expressão de duplipensar, só é aplicado num sentido: apenas os ocidentais são obrigados a este “respeito” obsequioso pelos outros povos; estão livres destes laços reverenciais e todas as críticas que fazem ao Ocidente são, em princípio, válidas! Não podemos julgar ou criticar, mas devemos submeter-nos abjetamente a qualquer crítica ou julgamento proveniente da “sabedoria” oriental, africana ou indígena. Todas as reflexões religiosas, filosóficas ou científicas da imensa antiga tradição judaico-greco-romana-cristã desaparecem no nada, diante de qualquer frase pontificada por um homem montado num camelo ou por um faquir hindu. Este é visto como verdadeira sabedoria. A atração ocidental pelos turbantes é impressionante!
A intenção é nos deixar indefesos e vulneráveis! Fazendo-nos acreditar que não temos argumentos intelectuais para competir com tamanha “sabedoria”, que somos bárbaros que só sabem produzir armas para conquistar e colonizar, e afirmar a nossa falsa superioridade. Penso que não é apenas um direito, mas também um dever, criticar e julgar outras pessoas, não porque sejamos superiores ou porque descendemos de uma determinada linhagem étnica, pelo contrário, porque os princípios que formulamos há milénios são mais adequados para os ser seres humanos viver numa sociedade mais tolerante, multirracial e multi-religiosa.
TOTALITARISMO ISLÂMICO
O Islam é a expressão mais completa e paroxística do totalitarismo que a Humanidade alguma vez viu. Para começar, Islam significa submissão, e muçulmano “aquele que se submete” a Allah, cuja vontade foi expressa no Qur’an e nos Hadith - a interpretação do Profeta em algumas passagens e testemunhos sobre suas ações e sua vida que como mensageiro de Allah nunca cometeu erros, todos os seus atos são seguidos à risca, pois também são considerados a vontade de Allah. Cada Hadith contém um ensinamento exemplar. O Qur’an é composto por 114 suras ou capítulos, divididos em 6.236 versículos. É considerada a palavra de Allah diretamente em árabe e, a rigor, não pode ser traduzida para usos religiosos em qualquer outro idioma, sendo qualquer tradução considerada, pelos mais ortodoxos, uma blasfêmia e uma degradação da palavra direta e intraduzível de Allah. Ultimamente, as traduções para turco e farsi – a língua falada no Irã – têm sido aceitas com relutância.
O tema exaustivamente repetido e elaborado no texto é a submissão completa à vontade de Allah, que é o único Deus (Tawhid[i]). Acontece que abrange não apenas mandamentos religiosos, mas é uma legislação completa – constitucional, criminal, civil e militar – não deixando lugar para a administração secular de qualquer aspecto da vida de todos os crentes até ao Dia do Julgamento.
O Qur’an é a verdade e a única verdade, dissidência ou divergência não são permitidas, sendo todas consideradas blasfêmias contra a vontade e a palavra de Allah, conforme transmitida ao Profeta[ii]. Um exemplo prático é o que aconteceu num dos debates em que participei com um muçulmano. Mencionei num artigo que existem registos históricos de que Maomé roubou caravanas. O argumento do debatedor muçulmano era que isso era impossível já que ele era o Profeta, o Mensageiro de Allah, e Allah nunca o teria escolhido e se isso fosse verdade como ele o escolheu, é falso! O que, para um ocidental, é um argumento circular que não prova nada, é perfeitamente aceitável para um muçulmano porque a submissão obedece ao princípio da aceitação voluntária e racional. É realmente difícil para um ocidental penetrar nas trevas do pensamento islâmico.
Nem Stalin, nem Hitler, nem Mao ou qualquer outro ditador ou rei absolutista alguma vez alcançou um totalitarismo tão completo e total como o Islam. Há aproximadamente dois mil milhões de pessoas, em mais de quarenta países (25% de todas as religiões), sujeitas a palavras ditas há 1400 anos, sem dissidência quanto ao essencial, sem revoltas, sem reivindicações individuais. Paraíso totalitário. Além do mais, com exceção dos Ayathollas no Irã, não há clero e cada crente pode ser considerado parte do clero. Sheik significa apenas “ancião”. O controle é exercido pela teia de relações sociais que estão entrelaçadas na vida de todos, espionando, criticando, exigindo fé na verdade da palavra de Allah e na correta prática dos ensinamentos. Nada, absolutamente nada, escapa aos mandamentos – toda a vida é regulada nos mínimos aspectos. O que não está no Qur’an está nos 40.000 Hadith. O Qur’an difere dos textos sagrados cristãos e judaicos porque estes últimos admitem que podem ser submetidos à análise textual e avaliação crítica, enquanto o Qur’an é a vontade final e literal da palavra de Allah preservada assim no Céu, para toda a Eternidade.
ISLÃ NO PODER
Uma estrutura tão rígida e absoluta constitui o que Hanna Arendt chamou de totalitarismo: a sua base não é apenas a imposição de uma ideia, mas a supressão de todas as ideias divergentes. Enquanto os regimes autoritários perseguem aqueles que ousam pensar de forma diferente, os regimes totalitários impedem todos os pensamentos diferentes. Este é o cerne da Sharia[iii], a Lei Islâmica. O próprio Profeta começou isso quando removeu do texto original os “Versículos Satânicos” como tendo sido comunicados por Satanás e não pelo arcanjo Gabriel.
Existe uma certa tolerância em relação à esfera exclusivamente privada, desde que não seja externalizada ou conduza a tentativas de convencer os outros de algo contrário à palavra de Allah. Nos países islâmicos mais tradicionalistas, como o Irã – Xiita[iv] – e a Arábia Saudita – onde governa a seita Wahhabi[v] – todos os cidadãos são submetidos a uma vigilância rigorosa por parte dos Mutawwa'in, a polícia religiosa que faz parte do “Comité para a Prevenção do Vício e Promoção da Virtude” e a Mubahith, “Força de Segurança Interna”. Todos os casos de estupro são julgados sumariamente, geralmente sem a presença do réu ou de seus representantes, e as punições seguem a Lei Corânica, a Sharia: decapitação, apedrejamento, amputações de membros.
MODERNIZAÇÃO E LAICIZAÇÃO DO ISLÃ?
Muito se tem discutido sobre as possibilidades de um processo de secularização nos países islâmicos com a separação entre Estado e Religião nos moldes ocidentais. Estudar as estruturas da sociedade islâmica, da qual foi pintado um quadro pálido acima, parece impossível. O ideal islâmico é o regresso ao Império Islâmico em que prevaleciam as leis corânicas, a Ummah, o Estado Islâmico perfeito que existiu, para alguns, desde os primeiros califas até 1924 com o colapso total do Império Otomano. O conceito de liberdade religiosa – e de qualquer outra liberdade – é completamente diferente do ocidental, pois depende da submissão absoluta à comunidade. Mesmo a construção de um templo que não seja Mesquita deve ser submetida à comunidade, se “ofende” alguns, nada pode ser feito. A liberdade só existe no papel, não de fato. Esta impossibilidade pode ser bem medida pela resposta dada pelo Xeque Ali Abdune sobre a possibilidade de modernizar o Islam: respondeu que não, “o que é necessário é islamizar a modernidade, porque o Islam é moderno por natureza, a qualquer momento”.
Já se pode imaginar como será o mundo se for conquistado pelo Islam. Não se pode blasfemar, como diz Salman Rushdie, pois a blasfêmia tem um conceito muito mais amplo do que o de outras religiões.
[i] Tawhid (árabe: توحيد tawḥīd, que significa "unidade [de Deus]" também romanizado como tawheed, touheed ou tevhid) é o conceito de unidade indivisível do monoteísmo no Islã. Tawhid é o conceito central e mais importante da religião, sobre o qual repousa toda a fé de um muçulmano. Afirma inequivocamente que Deus é Um (Al'-Aḥad) e Único (Al-Wāḥid); portanto, a crença islâmica em Deus é considerada unitária."Tawhid constitui o artigo principal da profissão de fé muçulmana.
[ii] Quando o Profeta ou Seu nome é citado segue SAWS: sallallahu alayhi wa salam" (que a paz e as orações de Deus estejam com ele).
[iii] Sharia (árabe: شريعة [ʃaˈriːʕah]), lei islâmica, ou redundantemente lei Sharia, O Caminho, é uma lei religiosa que faz parte da tradição islâmica. É derivado dos preceitos religiosos do Islam, particularmente do “Qur’an e dos hadith. Em árabe, o termo sharīʿah refere-se à lei divina imutável de Deus e é contrastado com fiqh, que se refere às suas interpretações acadêmicas humanas.
[iv] Shia (شيعة Shīʿah, de Shīʿatu ʿAlī, "adepto de Ali"), também transliterado Shiah e Shiʿah, é um ramo do Islam que afirma que o profeta islâmico Maomé designou Ali ibn Abi Talib como seu sucessor e o Imam (líder) após ele, principalmente no caso de Ghadir Khumm, mas foi impedido de entrar no califado como resultado do incidente em Saqifah. Esta visão contrasta principalmente com a do Islã sunita, cujos adeptos acreditam que Maomé não nomeou um sucessor e consideram Abu Bakr, que afirmam ter sido nomeado califa através de uma Shura, ou seja, consenso comunitário em Saqifa, como o primeiro califa legítimo depois do Profeta. Os adeptos do Islam xiita são chamados de xiitas de Ali, xiitas ou xiitas como um coletivo ou xiitas ou xiitas individualmente.
[v] Seguidores de Muhammad ibn Abdul Wahab, o fundador sunita do movimento Wahhabi, embora este rótulo não seja reivindicado por seus seguidores, mas sim empregado por estudiosos ocidentais, bem como por seus críticos. Ele promoveu a adesão estrita à lei islâmica tradicional, proclamando a necessidade de retornar diretamente ao Qur’an e à literatura hadith, em vez de confiar em interpretações medievais, e insistiu que cada muçulmano – homem e mulher – lesse e estudasse pessoalmente o Qur’an.