O CONFLITO DO ORIENTE MÉDIO
Ao abordarmos os recentes acontecimentos entre israelenses e palestinos devemos sempre pensar não no conflito do Oriente Médio, mas na atual fase de um conflito milenar
Por HEITOR DE PAOLA em 09/04/2002
OBSERVAÇÃO: este foi o primeiro artigo que escrevi sobre o assunto a convite do Redator Chefe do DIGESTIVO CULTURAL após as controvérsias sobre a visita do então Primeiro Ministro de Israel, Ariel Sharon, ao Monte do Templo em 28 de setembro de 2000 e à Segunda Intifada que se sucedeu e estava no auge. Este local sagrado para os Judeus pois é onde ficava o Templo do qual só sobrou o Muro das Lamentações, e onde se pretende reconstruí-lo pela terceira vez, é também o terceiro local mais sagrado para o Islam, depois de Meca e Medina, denominado Haram al-Sharif , onde fica a Mesquita Al Aqsa de onde Mohammed teria ido aos céus falar com Allah. Não por coincidência o ataque ocorrido no último dia 07/10 foi chamado de Inundação de Al Aqsa . Este local ainda está no foco do conflito, como se pode ver em How the Al-Aqsa Mosque became a flashpoint in the Israeli-Palestinian conflict (https://www.npr.org/2023/10/08/1204545845/how-the-al-aqsa-mosque-became-a-flashpoint-in-the-israel-palestine-conflict). Meu artigo ainda está publicado (https://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=496&titulo=O_Conflito_do_Oriente_Medio) e recebeu 35.700 acessos. O texto aqui publicado tem apenas pequenas alterações do original que pode ser conferido no link acima.
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O CONFLITO DO ORIENTE MÉDIO
HEITOR DE PAOLA
Ao abordarmos os recentes acontecimentos entre israelenses e palestinos devemos sempre pensar não no conflito do Oriente Médio, mas na atual fase de um conflito milenar. Isto, no entanto nos levaria a um tratado, por isto basta mencionar que aquela região está conflagrada há milênios e é interessante de se notar que é uma região árida, sem nenhum atrativo econômico nem atributos naturais - Golda Meir costumava dizer que Moisés tinha feito os judeus caminharem anos pelo deserto para os levar à única parte daquela região que não possui petróleo. Mesmo assim tem exercido imensa atração em diversos povos, sendo sede principal, a Terra Santa, de duas religiões e secundária de uma outra - não por coincidência as três grandes religiões monoteístas. É claro que devemos pensar na força dos mitos de origem e na relação entre estes e o local geográfico. Mas isto seria um outro artigo.
Iniciei por aí porque a maioria das opiniões que tenho lido ou ouvido não levam em conta estes fatos históricos e parecem se basear exclusivamente num presente nebuloso e conflituoso quando as posições ideológicas imperam sobre a razão e um estudo, ainda que superficial, da História. Parece que tudo começou com a atual intifada. Pois bem, o espaço não me permite senão comentar estas observações, deixando para uma outra oportunidade um aprofundamento histórico da questão.
Mesmo se cingindo à atual situação, a maioria dos comentários está baseada em algumas falácias e, tomando-as como premissas incontestáveis, chegam a conclusões fantasiosas.
A primeira falácia é a que diz que a atual fase de violência deve ser atribuída à eleição de Ariel Sharon para Primeiro-Ministro de Israel e seu passeio em solo sagrado para os Muçulmanos. Nada mais falso: Sharon não é a causa, mas a conseqüência de um estado de desilusão dos israelenses após o fracasso de vários planos de paz sistematicamente desrespeitados por Yasser Arafat e as organizações palestinas. Sharon foi eleito após a rejeição dos acordos com Ehud Barak com o apoio entusiástico de Bill Clinton. Nesta reunião Barak ofereceu restituir 95% das terras ocupadas. Jamais um líder israelense tinha chegado a tanto sem nem ter certeza de contar com o apoio da maioria do eleitorado ou do Knesset. Arafat tergiversou e os ataques de homens-bomba, hoje claramente identificados como seus agentes, não só continuaram como se intensificaram.
A segunda falácia é dizer que o conflito só se resolverá com o afastamento de Sharon. A tese é sedutora, mas a recíproca não é verdadeira: quem sugere o afastamento de Arafat é logo acusado de querer afastar “o único legítimo representante do povo palestino”. Bem, então Sharon não é o legítimo representante do povo de Israel? Vejamos como um e outro chegaram ao poder. Sharon foi eleito num processo claramente democrático e pode, a qualquer momento, perder a confiança do Knesset e ter que renunciar. Alguém tem notícias da eleição de Arafat? Há uns trinta anos ele é o “legítimo representante do povo palestino” sem jamais ter sido eleito através de processos democráticos. Alguém tem notícias de algum Parlamento Palestino escolhido em eleições limpas e periódicas, como as de Israel? Não será Arafat que deve ser removido?
A terceira falácia é a que diz que só uma intervenção externa poderá conduzir a um processo de paz. Aqui chegamos a uma dúvida e a dois fatídicos desdobramentos. A dúvida é: quem deve intervir? Alguns dizem que deve ser os Estados Unidos da América e criticam o Governo Bush por ter ficado na espera. Estaria muito bem se não fossem exatamente estas pessoas que vivem condenando a interferência americana nos conflitos do mundo. O que? Agora devem? Como pode? Por que agora, quando Israel finalmente resolveu se defender, e não antes, quando os homens-bomba matavam diariamente dezenas de israelenses? Parece ser este o destino ao qual os “pacifistas” condenaram o povo de Israel: apanha, morre e não reclama! Este o primeiro dos desdobramentos fatídicos.
Outros dizem que deveria haver uma intervenção das Nações Unidas, alguns, mais afoitos, recomendam que ambos os Governos deveriam ser destituídos e substituídos por uma “Força Internacional de Paz”. A meu ver, esta sugestão faz parte de uma estratégia, já em curso acelerado, de chegar a algum tipo de Governo Mundial que destruiria as culturas nacionais, os interesses regionais, em nome de uma paz fictícia, baseada exclusivamente na vontade de uns poucos, uma espécie de pax mundi, tão sonhada em livros de ficção futurística. No entanto, mesmo nestas, o mundo é sempre retratado como um lugar de seres achatados e sem vontade própria. Nada melhor para estabelecer uma ditadura do que um Governo Mundial. Este, a meu ver, o mais fatídico dos desdobramentos, pois atingiria toda a Humanidade num domínio delirante de alguns poucos.
Eliminando-se as falácias pode-se chegar a outras conclusões. Não parece haver nenhuma sinceridade da parte de Yasser Arafat. Enquanto sua meta final é “jogar os judeus no mar” ele vai iludindo todas as potências ocidentais de quer a paz e uma real divisão da Palestina entre Judeus e Árabes. Enquanto isto, Arafat vai usando as facções radicais (Hamas, Hiz’ballah, Jihad Islâmica), das quais é patrono e mentor, para aterrorizar Israel com homens-bomba e carros-bomba, enquanto nos meios diplomáticos mundiais alimenta uma posição de pacifista e vítima. Logra confundir o legítimo direito dos palestinos de terem suas terras com a jihad contra Israel. Manobra tão bem urdida que a poucos é dado perceber a confusão proposital de que se nutre. Terra aos palestinos? Não creio que Israel seja contra isto. Mas terra aos palestinos e continuar a receber diariamente homens-bomba? E sem nenhum protesto internacional? Quem gostaria? Peço que o leitor pense se gostaria de viver com a perspectiva de ser submetido a isto para sempre.
Pois bem, acho que a eleição de Sharon foi conseqüência da desilusão dos israelenses com a política de contemporização dos seus anteriores líderes. Foi um basta. Acho emblemática a frase de Sharon de que Israel não seria a Tchecoslováquia de 38, a qual foi entregue à sanha de Hitler pelos pacifistas Neville Chamberlain e Daladier e acabou em Auschwitz.
A atual ofensiva das Forças de Defesa de Israel visa, a meu ver, estabelecer uma Paz mais real e definitiva, baseada na destruição dos principais centros de terror na área palestina. Quem é contra isto é porque não admite que o povo Judeu finalmente resolveu não aceitar mais a posição que lhe tem sido reservada: a de carneirinhos que se deixam levar sem luta aos fornos crematórios.