O Espírito Santo escolhe o Papa? A resposta surpreendente do Papa Bento XVI
THE CATOHOLIC HERALD - Gavin Ashenden - 7 MAIO, 2025

Há um fascínio estranho, mas predominante, pela alegação da Igreja Católica de intervenção divina milagrosa.
O dogma da infalibilidade papal não é bem compreendido, mesmo entre alguns católicos. Há muitas pessoas, incluindo católicos, que parecem não entendê-lo nem acreditar quando lhe é explicado.
Mas fascina as pessoas. A combinação da alegação de intervenção sobrenatural e o nível de confiança nessa intervenção provoca forte interesse e reação — particularmente quando é mal compreendida; talvez especialmente.
E então, quando se trata do Conclave, há uma suposição implícita de que se o Papa pode ser infalível (de qualquer forma que seja alegada), então certamente a eleição do Papa deve ser igualmente infalível?
Se alguém entende o dogma da infalibilidade da maneira simples e restrita como a Igreja realmente o ensina, então é claro que isso não acontece.
Mas pode-se pensar que isso se segue, ou as pessoas podem querer que se siga. E assim surge a pergunta: "Certamente o Espírito Santo escolhe o próximo papa?"
No nível mais baixo de expectativa, se o papado é tão importante e se o cargo é tão central para a saúde e a vida da Igreja, é o mínimo que as pessoas podem esperar ou esperar.
Uma fonte útil para examinar essa expectativa é o falecido Papa Bento XVI.
Quando ainda era Cardeal Ratzinger, a televisão bávara lhe fez exatamente essa pergunta em 1997:
“O Espírito Santo é responsável pela eleição de um papa?”
Sua resposta pode surpreender alguns:
Eu não diria isso, no sentido de que o Espírito Santo escolhe o Papa... Eu diria que o Espírito não assume exatamente o controle da questão, mas, como um bom educador, por assim dizer, nos deixa muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar completamente. Assim, o papel do Espírito deve ser entendido em um sentido muito mais flexível — não que ele dite o candidato em quem se deve votar. Provavelmente, a única garantia que ele oferece é que a coisa não pode ser totalmente arruinada... Há muitos exemplos contrários de papas que o Espírito Santo obviamente não teria escolhido!
A palavra mais útil nesta explicação talvez seja "controle". Oração e magia são frequentemente confundidas. Existe uma atração humana natural pela magia, em parte porque sua ideia central é o controle. Em um mundo repleto de incertezas, o controle se torna uma ideia profundamente atraente. Há coisas das quais queremos ser protegidos e coisas que queremos que aconteçam. É muito fácil confundir oração com magia. Mas oração não é sobre controle — é o oposto. É um ato de rendição. Requer a rendição da nossa própria vontade e a invocação de "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade".
Em sua descrição da dinâmica da oração, o Papa Bento XVI usa a analogia de um bom educador. O educador se oferece para ensinar, mostrar, proporcionar discernimento e sabedoria. Mas, assim como você pode levar um cavalo até a água, mas não pode fazê-lo beber, o Espírito Santo se oferece à Igreja — mas com pré-condições. A primeira é que se reze. A oração na prática é muito mais difícil do que falar sobre ela. Envolve o sacrifício de tempo, a entrega da vontade, o abandono do controle e a preferência pela voz lenta, calma e suave. Também envolve triangulação com as orações dos outros.
Na atmosfera altamente politizada de uma eleição papal — quando tanta energia é gasta em campanha, persuasão, negociação, dissimulação e organização — qualquer ato de rendição vai contra a rápida onda de energia canalizada para o voto.
Discernir a vontade de Deus não é fácil. Oramos "Seja feita a Tua vontade" várias vezes ao dia, mas nunca é mais fácil nos dedicarmos ao esforço de discernimento — de distinguir entre a minha vontade e a Tua vontade.
A noção de elasticidade de Bento XVI é sábia e convincente. Ela combina o toque suave do amor com a firmeza da conexão. Deus nunca nos deixará ir, nunca nos abandonará — mas também não nos controlará se escolhermos nos desviar. Bento XVI nos assegura que Deus não permitirá que a Igreja seja completamente arruinada. Mas Ele nos dará a oportunidade de arruiná-la por nossa própria obstinação, se insistirmos. De que outra forma explicaríamos a existência de alguns papas muito pobres que causaram grandes danos à Igreja? De que outra forma explicaríamos o cisma de Avignon?
Como nos lembra São Paulo, onde abundou o pecado, superabundou a graça. É da natureza da missão de resgate de Deus que Ele possa pegar a bagunça que criamos e reconfigurá-la em material para renovação, perdão e esperança.
O Espírito Santo sussurrará Sua preferência nos ouvidos dos cardeais enquanto dormem, comem, caminham e oram. Mas assim como os Filhos de Israel, cansados dos profetas, exigiram um rei que imitasse as nações ao seu redor, Deus também alongará o elástico se a Igreja insistir em impor suas próprias preferências em detrimento do Seu convite.
A promessa de Cristo a Pedro foi que o mal não prevaleceria contra a Sua Igreja. Não que ele não pudesse estragar, corromper, confundir ou perturbar. Mas a história mostra que sempre que a Igreja cai na corrupção, Deus levanta santos e a renova.
E as orações de 1,4 bilhão de católicos são uma grande ajuda para os 133 cardeais que se ajoelharão por nós nos próximos quatro dias. Orémus .