O Estado de Direito Estrangeiro salvará a economia da China?
A China quer que a comunidade global pense que novas leis protegerão suas empresas – mas essa é a verdadeira razão por trás da nova abordagem legal
THE EPOCH TIMES
13.09.2024 por James Gorrie
Tradução: César Tonheiro
O momento das recentes mudanças da China nas leis que regem as empresas estrangeiras que operam dentro de suas fronteiras não poderia ser melhor — pelo menos para a China. O Estado de Direito Estrangeiro é uma das adaptações mais recentes que o Partido Comunista Chinês (PCC) fez em seus esforços para manter e atrair investimentos estrangeiros e manufatura.
Uma grande concessão à comunidade empresarial global?
À primeira vista, parece ser um grande passo ou concessão para a comunidade empresarial internacional e, de certa forma, é. O líder do PCC, Xi Jinping, vê o novo Estado de Direito relacionado ao exterior como uma parte crítica do plano da China de se integrar ainda mais à economia global. Como resultado, o establishment legal da China, incluindo a Suprema Corte Popular, está se inclinando para novas leis.
Alguns casos já estão em jogo e envolvem jurisdições estrangeiras, como o Reino Unido (Inglaterra e País de Gales), os Estados Unidos (Delaware), México, Tajiquistão e Hong Kong. Existem poucos casos no momento, mas alguns veem a aplicação de leis estrangeiras nos tribunais chineses como uma forma de proteger os interesses estrangeiros na China em um nível que não era visto há décadas.
Por que agora?
Mas o momento do Estado de Direito Relacionado ao Exterior é suspeito, para dizer o mínimo. Isso porque o tempo para a China adaptar suas leis para proteger empresas e investidores estrangeiros no país já passou. Deveria ter sido uma condição inegociável para a admissão da China na Organização Mundial do Comércio em 2000.
Foi, em teoria e no papel. Mas, na prática, na maioria das vezes, não era.
No entanto, as novas leis "protetoras" estão gerando alguma atenção no Ocidente e estão sendo fortemente elogiadas pelo PCC, inclusive pelo próprio Xi. Além disso, um novo escritório de advocacia em Guangzhou, capital da província de Guangdong, está agora operando um instituto de pesquisa jurídica, que se acredita ser o primeiro na China governado pelo PCC.
A localização faz sentido, já que Guangzhou tem sido uma cidade líder em comércio com o Ocidente e tem uma perspectiva de negócios internacionais. É por isso que é um lugar razoável para começar e divulgar a nova política de abertura do PCC. Novamente, este é um novo desenvolvimento que não seria possível sem a aprovação do PCC, e espera-se que mais centros jurídicos sejam abertos.
Algumas perguntas são necessárias. Por exemplo, por que mudar as leis agora?
O roubo é apenas o custo de fazer negócios na China?
A resposta curta a essa pergunta é que as leis que protegem os investidores estrangeiros raramente foram insistidas ou aplicadas com sucesso por empresas americanas ou europeias. Além disso, o sistema jurídico chinês carecia de qualquer recurso ou transparência. Essas empresas deveriam ter insistido em proteções legais, mas não o fizeram. A realidade é que investidores e empresas estrangeiras estavam dispostos a ignorar a falta de proteção legal na China para reduzir seus custos de fabricação por enormes margens e enriquecer ainda mais com isso.
E funcionou muito bem para todas as partes por um longo tempo. É claro que, desde 2000 e mesmo antes disso, para a maioria das empresas que investiram capital e fábricas na China, perder a proteção legal contra o roubo de propriedade intelectual, competir com imitações mais baratas de marcas de luxo, de bolsas a automóveis, e até mesmo o roubo de fábricas inteiras foram considerados parte dos custos de fazer negócios lá. Os lucros foram tão altos por tanto tempo que os parceiros estrangeiros na China suportaram as perdas com a maior parte dos lábios apertados [evitar mostrar raiva ou recusa de falar sobre algo].
Esses dias já se foram. De fato, desde 2018, com as altas tarifas impostas à China pelos Estados Unidos, as empresas ocidentais estão deixando a China, por esse e outros motivos. As tarifas permanecem em vigor e até subiram.
Bloom is off the rose — o que era um “negócio da China” perdeu o encanto
Hoje, as perspectivas de negócios na China são muito diferentes. As empresas ocidentais não podem mais competir com sua própria tecnologia, designs e produtos que a China vem roubando delas nas últimas duas décadas. Não apenas as vantagens comerciais da China — como mão de obra de custo excepcionalmente baixo — não estão mais disponíveis, mas muitas empresas agora estão enfrentando a extinção de empresas chinesas adversárias, a maioria das quais é rigidamente controlada pelo PCC. Em outras palavras, as empresas ocidentais agora sabem que não estão apenas competindo contra outras empresas por sua sobrevivência, mas também contra o próprio PCC, que quer destruir sua concorrência.
O que realmente está acontecendo nas mentes de Xi e do PCC?
Uma combinação de coisas está acontecendo ao mesmo tempo. Certamente houve uma enorme expansão da presença comercial da China no exterior ao longo dos anos, e a necessidade de serviços jurídicos relacionados ao exterior é um resultado natural disso. Essa é uma das principais razões para o novo ímpeto para a adoção de leis e serviços jurídicos relacionados ao exterior.
Mas esse é o verdadeiro motivo?
Parando o êxodo da China e diminuindo as suspeitas
Afinal, a expansão da China no exterior dificilmente é um desenvolvimento novo. No entanto, o que é relativamente novo são as crescentes tensões entre Pequim e seus parceiros comerciais em todo o mundo. Como observado acima, os custos trabalhistas na China são mais altos, e a crescente conscientização pública sobre as condições de trabalho precárias e até desumanas nas fábricas chinesas fez com que os países pensassem duas vezes antes de se mudar ou continuar a fazer negócios com a China.
As consequências são reais. As empresas com presença na China estão — e têm estado — procurando bases de fabricação alternativas que sejam mais amigáveis aos negócios e aos trabalhadores. O chamado nearshoring vem acontecendo há anos e se acelerou durante as duras políticas do governo Trump para a China e os bloqueios prolongados de fábricas ante a pandemia de COVID-19 na China.
Lugares como Vietnã, Índia, Turquia e México estão capturando muitos dos negócios de manufatura das empresas que estão ou já deixaram a China até certo ponto. Essa tendência não parece que vai mudar tão cedo.
As condições de demanda externa e interna são duvidosas
Enquanto isso, Pequim está usando todos os ângulos possíveis para recapturar ou atrair empresas para continuar a fazer negócios na China, e por boas razões. A tendência na zona do euro, o maior parceiro comercial da China, é "reduzir o risco" da China. Em outras palavras, a União Europeia está diminuindo sua dependência da manufatura baseada na China. Uma tendência semelhante está ocorrendo nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, a economia da China enfrenta uma variedade de ventos contrários significativos. Menor demanda doméstica, deflação, alto desemprego, uma crise de dívida latente, uma população idosa envelhecida e cara e taxas de natalidade em colapso são apenas algumas tendências negativas que assolam a China hoje e no futuro próximo. Sem um forte crescimento econômico, o PCC enfrenta um desafio ainda maior para sua existência.
A única coisa mais desafiadora seria o PCC pegar uma página do livrinho vermelho de Mao Zedong e apelar à ideologia para continuar apoiando sua legitimidade.
E veja como isso acabou bem.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
James R. Gorrie é o autor de "The China Crisis" (Wiley, 2013) e escreve em seu blog, TheBananaRepublican.com. Ele reside no sul da Califórnia.
https://www.theepochtimes.com/opinion/will-foreign-related-rule-of-law-save-chinas-economy-5722111