O esvaziamento da China
Porque os empregos da China estarão fluindo para a Índia de uma maneira muito grande
10 de junho de 2024 por James Gorrie
Tradução: César Tonheiro
Durante quatro décadas, a China se desenvolveu rapidamente, ainda que de forma desigual, por um fluxo aparentemente interminável de investimento estrangeiro e know-how tecnológico do Ocidente, mão de obra barata ilimitada e vastos mercados abertos famintos por comprar o que produziam.
O Ocidente enriqueceu a China
Como resultado, os centros globais de manufatura viram suas bases de fabricação desaparecerem rapidamente, especialmente nos Estados Unidos, à medida que as empresas se mudaram para a China para se manterem competitivas com as inúmeras vantagens de custo da China. Indústrias inteiras nos Estados Unidos – de têxteis a eletrônicos, autopeças, computadores e até sistemas militares altamente estratégicos – desapareceram em poucos anos, se não da noite para o dia. Estima-se que mais de 2 milhões de empregos industriais só nos Estados Unidos foram perdidos para a China entre 2001 e 2018.
A China viu a ascensão de uma classe média, com cerca de 800 milhões de pessoas retiradas da pobreza de 1979 a 2014. Uma classe alta de "dinheiro novo" também surgiu, com comerciantes, magnatas da tecnologia e fabricantes ficando excepcionalmente ricos, assim como membros do Partido Comunista da China (PCC). Agora é um partido de multimilionários e bilionários. Apenas alguns anos atrás (pré-COVID-19) o líder comunista chinês Xi Jinping se gabou de que o PCC sozinho era o responsável direto pelo crescimento e sucesso sem precedentes da China.
Esses dias acabaram.
Uma queda previsível
O fim da grande e longa jornada da China na montanha-russa de desenvolvimento era um tanto previsível, assim como o grande passeio que estamos vendo agora. Observadores da China como Gordon Chang (e humildemente, eu) viram isso por anos, se não, no caso de Chang, décadas. Embora ninguém (que eu saiba) tenha antecipado o espetáculo da COVID-19 e os mandatos de lockdown estendidos do PCC que vieram dele, eles se aproximam de uma longa linha de erros e distorções econômicas que catalisaram o colapso em curso que a China está vivendo.
O PCC está descobrindo que, ao contar com capital estrangeiro e tecnologia (o abuso de longo prazo dos parceiros comerciais), uma economia baseada em corrupção, distorções do mercado imobiliário e roubo desenfreado de seu próprio povo, as leis de retornos decrescentes acabam entrando em ação. A maioria dos parceiros comerciais da China, seja no Ocidente ou na Iniciativa Cinturão e Rota (sigla em inglês BRI), não confiam mais no PCC para negociar de forma justa e querem se livrar do risco da China. Grandes empresas como a Apple, que ajudou a construir o setor de alta tecnologia da China, estão saindo, assim como muitas outras.
A China é substituível
Os fatores negativos continuam se somando. O impacto da crise imobiliária, que representou até 1/3 do PIB da China, continua a repercutir na economia, assim como a alienação cultural de uma população envelhecida com seus números em rápido declínio.
De fato, pela primeira vez em 40 anos, mais capital de investimento dos Estados Unidos, Europa, Japão e Coreia do Sul está saindo da China do que ingressando. Não há indícios de que essa tendência seja revertida tão cedo. Conjectura-se que quanto pior as coisas se tornem, mais opressivo o PCC deverá ser para se manter no poder. Entrou numa espiral descendente. É aí que a China está agora.
Em suma, a China é substituível no que diz respeito ao mundo. Países como Índia e Vietnã são os beneficiários diretos, com a Índia sendo a que mais ganha com o colapso econômico da China. Isso está claro para todos.
Índia será a próxima grande história de desenvolvimento
A Índia está bem posicionada para se tornar a próxima grande história de desenvolvimento. Tem uma população crescente, grande parte altamente educada, uma cultura mais voltada para o Ocidente, desvelo ao colonialismo britânico e setores estabelecidos de alta tecnologia, atendimento ao cliente e automotivo, para citar alguns. Além disso, tem o benefício de ser amigo do Ocidente, ou seja, de não ser a China.
Do ponto de vista do investimento estrangeiro, o capital global já está fluindo fortemente para as indústrias de computadores e automóveis da Índia. Ninguém espera que a economia de US$ 3,75 trilhões da Índia desafie a economia de US$ 15 trilhões da China hoje, mas de uma perspectiva de crescimento, a Índia é uma oportunidade muito melhor. As empresas aproveitariam a chance de substituir as práticas comerciais adversárias que combatem na China pelo clima de negócios mais ameno da Índia. Uma pesquisa recente com 500 executivos americanos feita pela empresa de pesquisa de mercado OnePoll mostrou que 61% mudariam sua produção para a Índia assim que a infraestrutura estivesse em vigor.
Tendências de longo prazo favorecem a Índia
Ao mesmo tempo, as estradas precárias e os obstáculos de distribuição da Índia criam desafios significativos de infraestrutura que precisam ser superados. No entanto, várias tendências de longo prazo são um bom presságio para a Índia, que continuará a atrair empregos da China.
Ao contrário da China, a Índia está vendo o aumento da renda, o que significa uma demanda interna mais saudável por bens e serviços. As classes alta e média da Índia em breve serão cerca de 400 milhões, rivalizando com a China com um mercado mais aberto que atrairá produtos premium. Em contraste, a China se recusou em grande parte a abrir seu mercado interno ao Ocidente.
Na última década, o governo indiano embarcou em reformas estruturais para melhorar o clima econômico e de investimento e tornar o país mais favorável aos negócios. Também comprometeu o país com a transformação digital. Atualmente, tem uma das maiores populações online do mundo, com baixas tarifas de dados e ampla adoção da Interface de Pagamento Unificada (UPI), o que resultou em um aumento acentuado em sua economia online.
Pequim alerta para "dessinicização"
A resposta do PCC aos esforços de redução de riscos do Ocidente tem sido imprevisível. Na Conferência de Segurança de Munique, em fevereiro, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, alertou a Europa e os Estados Unidos que "Quem tentar a dessinicização em nome da redução de riscos estaria cometendo um erro histórico".
O PCC não admite que suas políticas tenham sido "erros históricos" em muitos casos. Sua classe média está encolhendo, assim como sua população e economia. Essas falhas não são resultado da redução de riscos, mas sim o resultado direto das políticas do PCC.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do The Epoch Times.
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James R. Gorrie é autor de "The China Crisis" (Wiley, 2013) e escreve em seu blog, TheBananaRepublican.com. Ele reside no sul da Califórnia.
https://www.theepochtimes.com/opinion/the-hollowing-of-china-5664234