O Fed é poderoso — esse é o problema
Tradução: Heitor De Paola
As taxas de juros são sem dúvida os preços mais importantes na economia.
Sempre que o Federal Reserve divulga a ata de suas reuniões, uma multidão de analistas corre para dissecar cada vírgula e qualificador. Mas, em um país que se orgulha do livre mercado e do dinamismo capitalista, por que nos apegamos a cada palavra de um clube exclusivo de planejadores centrais?
Os mercados não deveriam ter que interpretar o tom das coletivas de imprensa de Jerome Powell ou examinar as notas de rodapé das transcrições burocráticas. Mas eles precisam — porque construímos uma economia onde as taxas de juros, o preço do crédito e o fluxo de capital são controlados não pela oferta e demanda, mas por um pequeno comitê de banqueiros e economistas. O problema não é apenas Powell. O problema é que passamos a aceitar o planejamento central no cerne de um sistema supostamente de livre mercado.
O que é uma taxa de juros senão um preço? É simplesmente o preço de um empréstimo. Cada vez que o Tesouro dos EUA vende um título, precisa pagar um preço — uma taxa de juros — para atrair credores. O mesmo vale para empresas que emitem dívida, empresas que tomam empréstimos ou pessoas físicas que financiam casas e carros. Como qualquer outro preço em uma economia de mercado, as taxas de juros devem responder à oferta e à demanda.
Quando a demanda por empréstimos aumenta, as taxas de juros devem aumentar para racionar os fundos limitados. Quando a oferta de poupança aumenta, as taxas devem cair para refletir a maior disponibilidade de capital. Essas não são teorias econômicas exóticas — são os mesmos sinais de preço que determinam o que pagamos por mantimentos, smartphones ou lápis.
E, no entanto, as taxas de juros ocupam um lugar único em nossa economia — tratadas como vitais demais para serem governadas pelas forças de mercado. Em vez de permitir que tomadores e credores determinem as taxas naturalmente, delegamos essa tarefa ao Federal Reserve: um pequeno grupo de economistas com influência desproporcional sobre os movimentos do mercado por meio da manipulação da oferta e da demanda por títulos do Tesouro dos EUA.
O Federal Reserve (Fed) tem exercido essa capacidade de fixar taxas de juros com efeitos drásticos ao longo das décadas — aumentando as taxas de juros agressivamente em resposta à inflação desenfreada da década de 1970, reduzindo-as para quase zero durante anos após a crise financeira de 2008 e novamente durante a pandemia de COVID-19. A lógica central por trás dessas ações é que empréstimos baratos impulsionam a atividade econômica porque taxas mais baixas incentivam o consumo e o investimento empresarial. De fato, muitos economistas justificam essa autoridade como uma necessidade, mas poucos destacam as desvantagens significativas e as compensações a longo prazo.
O Prêmio Nobel Friedrich Hayek argumentou que os preços são sinais. As taxas de juros são indiscutivelmente os preços mais importantes na economia. Elas orientam empreendedores e investidores na alocação de capital, indicando escassez, demanda e risco. Quando o Federal Reserve distorce as taxas de juros, obscurece esses sinais. As empresas têm dificuldade para avaliar o verdadeiro custo do capital, enquanto os poupadores ganham pouco ou nada com suas economias. Pior ainda, o crédito artificialmente barato pode inflar bolhas no mercado imobiliário, de ações ou de criptomoedas, impulsionado tanto pelo baixo custo dos empréstimos quanto pela crença de que esses ativos terão um desempenho superior ao de investimentos tradicionais atrelados a juros, como títulos do Tesouro.
O problema subjacente não é apenas o fato de o Fed fixar as taxas de juros — é que ele o faz com base em modelos e incentivos internos, dissociados do conhecimento dos milhões de pessoas que participam dos próprios mercados que o Fed afeta. Ao fixar as taxas de juros, o Fed obscurece e anula as forças naturais do mercado que normalmente influenciariam investimentos e decisões empresariais. Esse planejamento centralizado das taxas de juros, por mais sofisticadas que sejam as fórmulas e os cálculos empregados pelo Fed, invariavelmente leva a alocações errôneas de capital na economia, distorce os incentivos tanto das empresas quanto dos consumidores e obscurece o verdadeiro sentimento dos participantes do mercado.
Em um verdadeiro mercado livre, as taxas de juros seriam uma ocorrência natural, resultante da interação entre poupadores e tomadores de empréstimo — assim como outros preços na economia. Se confiamos nos mercados para determinar os preços do petróleo, do aço e dos semicondutores, por que não no dinheiro? Quanto mais dependermos de um pequeno grupo de governadores exclusivos do Federal Reserve para ajustar a economia de cima para baixo, mais colocaremos em risco o dinamismo e a resiliência que tornaram a economia dos EUA a inveja do mundo.
Talvez o problema não seja apenas quem preside o Fed. Talvez o problema seja o próprio Fed. Hayek nos ensinou que preços não são meros números — eles são portadores de conhecimento e cruciais para o funcionamento dos mercados. Thomas Sowell ecoa isso em suas críticas aos bancos centrais, argumentando que, quando substituímos o conhecimento e a disciplina do mercado pelas suposições dos planejadores centrais, os resultados raramente são benignos. Precisamos parar de confundir poder com sabedoria — e começar a confiar no mercado novamente.
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COMENTÁRIO: é exatamente isso que ocorre aqui no Brasil desde a fundação do BACEN pelo “liberal”, na verdade keynesiano, Roberto Campos em 1964. A taxa de juros NÃ PODE SER FIXADA POR BURROCRATAS (assim mesmo) serviço dos bancos privados. É preciso tornar o Real conversível e liberar o uso de qualquer moeda no país. A moeda a ser utiizada em qualquer contrato deve ser decisão entre o comprador e o vendedor. Governo fora da economia!
HEITOR DE PAOLA
Matthew Blakey é um profissional financeiro com experiência em bancos e investimentos. Possui MBA e mestrado em Liderança Organizacional e publicou em periódicos acadêmicos e plataformas de mídia sobre temas como política monetária, liberdade econômica e gestão organizacional.
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