11/30/2023 por Anders Corr
Tradução: César Tonheiro
Desaceleração do crescimento. Desemprego. Falta de confiança do consumidor. Deflação. Tarifas. Controles de exportação. Cidades fantasmas. Ventos contrários demográficos. Contrações de exportação e manufatura. Repressão ao setor de tecnologia. Células do Partido Comunista Chinês (PCC) dentro das estruturas de governança corporativa. Fuga de capital e trabalho. Empréstimos e gastos do regime que afastam o investimento privado.
E agora, uma crise imobiliária alimentada por dívidas que está desestabilizando o setor financeiro da China de US$ 58 trilhões e as receitas do governo local.
"As províncias reduziram os salários dos funcionários públicos, inclusive do professorado, baixando o moral das categorias", de acordo com o Bloomberg no final de outubro. "As regiões mais pobres estão pressionando por um resgate do governo central, com ameaças veladas de calote das carteiras de obrigações."
Todos os que contraíram empréstimos com base na suposição de aumento dos valores dos imóveis estão em risco. Um conglomerado financeiro chinês, o Zhongzhi Enterprise Group, é o primeiro a entrar em default. A empresa divulgou uma carta em 22 de novembro que abalou a confiança dos empresários. O Zhongzhi está com um rombo de pelo menos US$ 31 bilhões. Seus passivos, que são de pelo menos US$ 59 bilhões, excedem seus ativos de apenas US$ 28 bilhões, muitos dos quais são investimentos imobiliários ilíquidos que deram errado.
O Zhongzhi não está pagando dívidas, o que colocará outras instituições financeiras em apuros. Os calotes podem cair em cascata, assim como a falência do Lehman Brothers em 2008.
Em 23 de novembro, o Wall Street Journal mencionou temores de um "momento Lehman" na China. "Os pagamentos perdidos pelo negócio de trust, Zhongrong International Trust, se acumularam", escreveu o jornal. "Desde agosto, pelo menos 16 empresas listadas em bolsa na China continental disseram em documentos na bolsa de valores que não receberam pagamentos de juros ou principal sobre produtos administrados pela Zhongrong Trust."
No final de 2022, o Zhongrong tinha US$ 108 bilhões em ativos sob gestão. Seus investidores certamente querem seu dinheiro de volta incontinenti.
O setor imobiliário e suas indústrias relacionadas representam aproximadamente 30% do PIB da China. No entanto, está claro há anos que a China realmente não precisa de todos esses novos edifícios. Novas megacidades inteiras são empreendimentos "fantasmas" sem pessoas. O Partido Comunista Chinês (PCC) está agora tentando desviar novos empréstimos para o setor industrial da China, mas isso também está em risco, dados os esforços internacionais para "desarriscar" e "dissociar" da China.
Para simplificar, na década de 2010, os investidores ficaram animados com as taxas de crescimento de 10% do PIB na China. Eles devem ter pensado que o crescimento alimentado pela dívida continuaria para sempre. Mas um crescimento de 10% [anabolizado] é efêmero, e a dívida [agora] deve ser paga.
Pequim também se empolgou e achou que a ditadura comunista, particularmente seu próprio tipo de ditadura comunista, era a resposta para todos os problemas econômicos do mundo. Xi Jinping, do Partido Comunista Chinês, dobrou a aposta na construção de uma estratégia militar e econômica de saída (a Iniciativa Belt & Road [BRI]) para se empoderar, comprar e "iluminar" o mundo, começando por Hong Kong e Taiwan.
Os dias de glória não durariam. "O estímulo de quatro trilhões de RMB lançado em 2008, seguido por um investimento em infraestrutura e boom imobiliário, sustentou a taxa de crescimento econômico da China em cerca de 10% a.a. até 2011", de acordo com um artigo do professor Hanming Fang, da Universidade da Pensilvânia. "Mas esses investimentos financiados por dívidas também plantaram as sementes para os problemas de dívida que os desenvolvedores chineses e os governos locais estão enfrentando atualmente."
Quando o PCC identificou problemas na economia da China, como o excesso de empréstimos por parte de promotores imobiliários, virou-se para a página 3 da sua cartilha comunista e começou a ordenar as pessoas como solução. O PCC disse aos seus grandes bancos para seguirem as "três linhas vermelhas" e não emprestarem mais dinheiro a promotores imobiliários sobrealavancados. Isso fez com que essas incorporadoras parassem de construir casas que já haviam vendido, diminuiu o crescimento do PIB da China e aumentou a instabilidade política, incluindo protestos de compradores de casas sem casas.
As "três linhas vermelhas" do PCC causaram uma crise de pagamentos para algumas instituições financeiras grandes, incluindo o [consórcio] Zhongrong, o primeiro grande rumo à descambada. Quando os bancos pararam de emprestar para as incorporadoras em dificuldades, as incorporadoras pararam de construir, suas receitas cessaram e elas não puderam pagar seus empréstimos antigos. A confiança internacional e do consumidor em todo o setor imobiliário e, por extensão, na economia da China, despencou, e da pior maneira.
"Mesmo antes das paralisações COVID do país, o crescimento começou a estagnar em meio a ventos contrários demográficos, uma desaceleração emergente no setor imobiliário e um ressurgimento da formulação de políticas econômicas lideradas pelo Estado", de acordo com Fang. "A centralização do poder alimentou uma piora na relação com os parceiros ocidentais da China, o que ameaça ainda mais as perspectivas de crescimento do país."
Agora, os "gênios" econômicos na sede do PCC se inverteram. O PCC está pressionando as instituições financeiras chinesas a começarem a emprestar às incorporadoras imobiliárias em dificuldades. Estão comprando uma "white list" [privilegiados] de 50 promotores merecedores de empréstimos, que serão fornecidos pelos bancos sob pressão do regime para jogar dinheiro bom em coisa ruim. De modo que os investidores e depositantes nos bancos podem amargar mais empréstimos inadimplentes. A "correção" do PCC é, na verdade, apenas transferir os custos e riscos do investimento imobiliário ruim e das piores políticas do PCC das empresas imobiliárias para os bancos.
A culpa pelo caos econômico da China é do PCC. Depois de dizer aos bancos para pararem de financiar incorporadoras imobiliárias e criar muitos outros problemas que diminuíram a confiança dos consumidores e das empresas na China, o PCC está tentando, mas não consegue colocar o gênio de volta na garrafa. É tarde demais e a economia está arrefecendo. O ímpeto da China acabou. Sua população está encolhendo em relação ao mundo, assim como sua economia. Milhares de chineses estão batendo em retirada e deixando o país, ou retornando para os seus antigos domicílios sem terem filhos.
"A recente tendência do governo chinês de engendrar rapidamente as reviravoltas políticas prejudica a confiança", de acordo com Fang. "Tornando-se mais difícil para as empresas chinesas atrair investimentos estrangeiros e uma barreira fundamental para a expansão do mercado internacional de empresas chinesas como TikTok e Huawei."
O problema da China é o PCC, que não destruiu apenas o ímpeto de sua economia e incorporadoras, mas também destruiu empresas internacionais que tentavam investir no país, toda a indústria financeira de Hong Kong e os uigures, tibetanos e Falun Gong que poderiam ter ajudado a China se não fossem banidos.
Em vez disso, o PCC tentou assimilá-los com políticas genocidas que atraíram justamente o opróbrio da comunidade internacional e causaram medo em empresas internacionais que não querem arriscar golpes em suas reputações. Eles estão se afastando da China e procurando outros lugares, como Índia, México e Vietnã.
Xi é surdo, todavia continua em seu caminho bizarro e autodestrutivo para a China. Em 15 de novembro, ele teria emitido outra ameaça velada de guerra contra Taiwan diante do presidente Joe Biden em São Francisco durante a cúpula da APEC.
Taiwan é uma grande investidora na China. Não há um exemplo mais claro de que o PCC seja não apenas econômico, mas também politicamente desastroso para a China, todos nascidos de uma arrogância de que seu sistema comunista é de alguma forma superior aos sistemas democráticos de mercado em lugares como Estados Unidos, Europa, Japão, Coreia do Sul e Taiwan, todos com PIB per capita muito maior.
Os investidores que pensavam que a China estava indo muito bem na década de 2010, quando o dinheiro fácil fluía, agora estão pensando duas vezes e tentando sair. A saída de dinheiro e pessoas geralmente está deprimindo o mercado imobiliário e a economia da China, tornando as coisas ainda piores para o futuro da China.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do The Epoch Times.
Anders Corr é bacharel/mestre em ciência política pela Universidade de Yale (2001) e doutor em governo pela Universidade de Harvard (2008). Ele é diretor da Corr Analytics Inc., editora do Journal of Political Risk, e conduziu uma extensa pesquisa na América do Norte, Europa e Ásia. Seus livros mais recentes são "A Concentração de Poder: Institucionalização, Hierarquia e Hegemonia" (2021) e "Grandes Potências, Grandes Estratégias: o Novo Jogo no Mar do Sul da China" (2018).
https://www.theepochtimes.com/opinion/the-ccp-is-causing-chinas-economic-problems-5536976
MEU COMENTÁRIO:
Totalmente previsível! Capitalismo comandado por estado totalitário? Impossível dar certo. O capital é como o vento: só entra se puder sair. No livro Os Laranjais do Lago Balaton Maurice Duverger relata a experiência húngara quando o governo comunista resolveu plantar laranjeiras em torno do lago Balaton, o maior lago da Hungria. O agrônomo chefe disse que não ia dar certo porque o clima não era propício. Mas o Estado sabe tudo e obrigou-o a plantar. Resultado: morreram todas. Final da história: o agrônomo foi condenado à morte por sabotagem do plano quinquenal!
Na China o Estado diz: façamos uma cidade aqui! E ninguém vai morar lá. Não duvido que alguém já tenha sido punido.
HEITOR DE PAOLA