O PCC usa táticas de lawfare para alcançar o domínio global
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16.10.2024 por Antonio Graceffo
Tradução: César Tonheiro
A China emprega o lawfare (guerra jurídica) para distorcer as interpretações das leis existentes e cria suas próprias regras para promover os interesses do Partido Comunista Chinês no cenário global.
Em setembro, um navio da Guarda Costeira da China abalroou deliberadamente um navio da guarda costeira filipina enquanto uma equipe de reportagem do "60 Minutes" dos EUA estava a bordo. O Partido Comunista Chinês (PCC) justifica tais ações sob a Ordem nº 3 da Guarda Costeira da China, uma lei doméstica que autoriza a Guarda Costeira a deter embarcações e indivíduos estrangeiros por até 60 dias se forem suspeitos de entrar ilegalmente em águas reivindicadas pela China.
No mesmo mês, o Comitê de Segurança Interna da Câmara e o Comitê Seleto do PCC, citando temores de uma ameaça de espionagem, exigiram que uma empresa afiliada ao Estado, a Shanghai Zhenhua Heavy Industries Company Limited (ZPMC), que fornece tecnologia e equipamentos para portos dos EUA, divulgasse seu relacionamento com o PCC. No entanto, a ZPMC respondeu que precisava da aprovação do PCC sob a Lei de Segurança de Dados de Pequim para divulgar essas informações. A empresa também exigiu que os comitês assinassem um acordo de confidencialidade. Esses incidentes destacam como o PCC está usando o lawfare como arma contra os Estados Unidos e outras nações.
O lawfare – o uso de sistemas legais e organizações internacionais para atingir objetivos políticos ou militares sem força — é uma tática fundamental do PCC. Como parte de sua estratégia de "três guerras" — guerra psicológica, midiática e legal — a China emprega várias ferramentas legais, incluindo tratados internacionais e leis nacionais, para promover seus interesses. Isso é evidente nas reivindicações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China, onde as estruturas legais são usadas para justificar a expansão do controle sobre o território e os recursos críticos. O lawfare também permite ao regime chinês suprimir a dissidência, moldar as normas globais e pressionar as nações a adotar sua política de "Uma China". O PCC avança constantemente em seus objetivos estratégicos explorando mecanismos legais, mantendo um verniz de legitimidade sob o direito internacional.
No Mar do Sul da China, um exemplo do uso da guerra jurídica pelo PCC é a justificativa da "linha de nove traços", introduzida em 1947 para reivindicar quase todo o mar com base em vagos direitos históricos. Ao alavancar argumentos legais e narrativas históricas, Pequim busca legitimar seu controle sobre quase todo o Mar do Sul da China, suas ilhas e águas adjacentes, incluindo ilhas artificiais ou recuperadas. Apesar das críticas internacionais, Pequim militarizou essas ilhas, expandindo seu perímetro de defesa e afirmando o domínio. No entanto, essas alegações entram em conflito com as zonas econômicas exclusivas (ZEEs) de países vizinhos como Japão, Filipinas e Vietnã.
O PCC rejeita a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) e a decisão de 2016 do Tribunal de Arbitragem Permanente, que rejeitou as reivindicações da China no Mar do Sul da China. Isso decorre da crença do PCC de que suas leis domésticas substituem o direito internacional. O Supremo Tribunal Popular da China afirmou a jurisdição do PCC sobre todas as áreas sob seu "controle soberano", um conceito alinhado com os "interesses centrais" do PCC. Esses interesses centrais incluem a soberania do Estado, a segurança nacional, a integridade territorial, a reunificação nacional, o sistema político estabelecido pela constituição, a estabilidade social e a salvaguarda do desenvolvimento econômico e social sustentável. As disputas da China nos mares da Oriental e Meridional da China com países como Japão e Filipinas envolvem aspectos-chave de "soberania estatal", "segurança nacional" e "integridade territorial".
O PCC tentou manobras legais alegando que a China é um estado-arquipélago, semelhante às Filipinas ou à Indonésia, o que lhe concederia certos direitos, como tratar as águas entre suas ilhas como águas internas — restringindo o trânsito estrangeiro sem permissão. Normalmente, a ONU concede o status de arquipélago, como fez para 22 nações, mas não para a China. No entanto, a alegação da China se alinha com suas leis internas, que afirmam que as operações militares estrangeiras dentro da ZEE da China violam a lei chinesa, ao mesmo tempo em que mantêm o direito da China de conduzir operações militares dentro das ZEEs de outros estados.
Outra manifestação clara da estratégia de lawfare da China é o tratamento de Taiwan. Por meio da política de "Uma China", Pequim efetivamente isolou Taiwan no cenário global, usando pressão diplomática e legal para forçar países e organizações internacionais a reconhecer Taiwan como parte da China. Essa afirmação se alinha com o interesse central da China na soberania nacional, bem como com sua Lei Anti-Secessão e o princípio de "Uma China". Pequim recusa relações normais com países que violam suas leis internas sobre Taiwan. Ao invocar o princípio de "Uma China", a China impediu Taiwan de ingressar em organizações como a ONU e a Organização Mundial da Saúde, afirmando falsamente que essa política representa o "consenso geral da comunidade internacional".
Além disso, o PCC interpretou e deturpou intencionalmente a Resolução 2758 da ONU, adotada em 1971. A resolução pretendia apenas transferir o assento de Taiwan na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança para a China, reconhecendo-a como o "único representante legítimo da China". Não serviu como um referendo sobre o status de Taiwan como nação independente ou determinou que Taiwan faz parte da China. No entanto, o PCC usou a resolução para afirmar falsamente que a ONU reconhece Taiwan como parte da China, apesar de a resolução ser omissa sobre a soberania de Taiwan.
À medida que a corrida espacial entre a China e os Estados Unidos se intensifica, o PCC está trabalhando para estabelecer uma estrutura legal que regerá a exploração espacial e a extração de recursos. O mesmo se aplica à mineração em alto mar e aos direitos aos recursos no fundo do oceano. O PCC procura moldar as leis internacionais nessas áreas para favorecer seus interesses. Embora Pequim afirme apoiar uma ordem global baseada em regras, pretende que essas regras sejam escritas pelo PCC.
Os Estados Unidos e seus aliados devem tomar uma posição para impedir que Pequim molde uma nova ordem mundial que conceda ao PCC o controle sobre a Terra, seus oceanos, territórios de águas profundas e até mesmo a lua e as estrelas.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
Antonio Graceffo, PhD, é um analista econômico da China que passou mais de 20 anos na Ásia. O Sr. Graceffo é graduado pela Universidade de Esportes de Xangai, possui MBA em China pela Universidade Jiaotong de Xangai e atualmente estuda defesa nacional na Universidade Militar Americana. Ele é o autor de "Além do Cinturão e Rota: Expansão Econômica Global da China" (2019).