Os países bálticos comprometem 5% do seu PIB com a defesa a partir de 2026, em resposta às ameaças russas e às exigências da OTAN
Joana Campos - 25 MAIO, 2025
Os países bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — assinaram um acordo para aumentar seus gastos com defesa para 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) a partir de 2026.
Este compromisso, formalizado na Base Aérea de Amari, na Estônia, em 23 de maio de 2025, responde tanto às crescentes tensões geopolíticas com a Rússia quanto às demandas do presidente dos EUA, Donald Trump, para que os aliados da OTAN aumentem seus investimentos militares.
A decisão dos países bálticos decorre da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Estônia, Letônia e Lituânia intensificaram seus esforços para fortalecer suas capacidades de defesa.
Sua proximidade geográfica com a Rússia e seu histórico como ex-repúblicas soviéticas fazem delas um flanco crucial da OTAN. Segundo o Ministro da Defesa da Estônia, Hanno Pevkur, a atual situação de segurança exige um aumento significativo nos gastos militares — uma posição apoiada pelos líderes dos três países durante a reunião de Amari.
Nos últimos anos, os países bálticos têm observado um aumento nas atividades russas, incluindo incursões no espaço aéreo, exercícios militares perto de suas fronteiras e operações híbridas, como ataques cibernéticos e campanhas de desinformação.
Em 2024, o presidente lituano Gitanas Nausėda alertou sobre o aumento da "sabotagem russa em territórios da OTAN", destacando a necessidade de uma resposta coordenada. Esse contexto levou os países bálticos a priorizar a dissuasão, com investimentos em sistemas avançados como foguetes HIMARS e sistemas de defesa aérea.
O acordo de Amari também reflete a pressão dos Estados Unidos, principal potência da OTAN, para que seus aliados atinjam um nível de gastos militares de 5% do PIB.
Essa demanda, impulsionada pelo governo Trump, gerou debate dentro da Aliança, já que o limite atual da OTAN é de 2% do PIB — um nível que muitos países ainda não atingiram.
Os países bálticos, no entanto, já excedem em muito esse mínimo. Em 2022, a Lituânia destinou 2,47%, a Estônia 2,12% e a Letônia 2,07% do seu PIB à defesa, segundo dados da OTAN. Em 2024, a Estônia anunciou planos para atingir 3,7% até 2026, enquanto a Lituânia visa uma faixa de 5% a 6% entre 2026 e 2030. A Letônia, por sua vez, decidiu em maio de 2025 aumentar seus gastos para 5%, realocando recursos e otimizando a eficiência governamental.
Aumentar os gastos com defesa para 5% do PIB implica um esforço financeiro significativo. Na Letônia, a primeira-ministra Evika Siliņa observou que serão necessários cortes orçamentários, novas fontes de receita e, possivelmente, um déficit maior.
A Estônia, segundo sua primeira-ministra Kristen Michal, planeja financiar o aumento sem novos impostos, utilizando fundos da UE, cortes no setor público e empréstimos estratégicos. A Lituânia, que já comprometeu 0,25% do seu PIB para apoio militar à Ucrânia, busca equilibrar suas ambições de defesa com a estabilidade econômica.
Esses investimentos não se concentram apenas em armamento tradicional. Os países bálticos estão fortalecendo suas capacidades em segurança cibernética, defesa eletrônica e mobilidade militar.
Por exemplo, a Letônia alocará 42% do seu orçamento de defesa de 2025 para o desenvolvimento de capacidades militares, incluindo sistemas HIMARS e defesas aéreas.
Além disso, os três países estão avançando na sincronização de suas redes elétricas com a Europa continental, um projeto que deverá ser concluído até fevereiro de 2025 para reduzir a dependência energética da Rússia.
Enquanto os países bálticos lideram com seu compromisso de 5%, a OTAN mostra uma clara divisão. Países como a Polônia — que alocará 4,12% do seu PIB em 2025 — e a Lituânia, com planos de atingir 6%, contrastam com nações como a Espanha, que mal chega a 1,09%.
Países mais próximos da Rússia priorizam a defesa tradicional, enquanto outros, como a Espanha, concentram seus esforços em segurança cibernética e prevenção de desastres.
A reunião de Amari também serviu para preparar a cúpula da OTAN em Haia, em junho de 2025, onde os gastos com defesa serão uma questão central. Os países bálticos defenderão um aumento generalizado nos orçamentos militares, apoiando propostas anteriores como a da Polônia de elevar o mínimo da OTAN para 3%.
Surge uma pergunta: será sustentável para pequenas economias como Estônia, Letônia e Lituânia assumir gastos militares tão elevados? A realocação de recursos e a tomada de empréstimos podem comprometer serviços essenciais como saúde, educação ou pensões, afetando seus cidadãos.
A estratégia do Báltico destaca a necessidade de uma abordagem europeia mais coordenada, onde o fardo da defesa não recaia desproporcionalmente sobre as nações menores e mais vulneráveis.
É verdade que as ameaças atuais são cada vez mais complexas — de ataques cibernéticos à desinformação —, mas a verdadeira força da OTAN dependerá não apenas de quanto será gasto, mas de como os investimentos serão feitos e como as prioridades de segurança serão equilibradas com as necessidades sociais.