(INÉDITO!) ARTIGOS DE HEITOR DE PAOLA: RAÍZES HISTÓRICAS DA INTERVENÇÃO RUSSA NA UCRÂNIA - SEGUNDA PARTE
Podemos ter tirado Hitler do poder, mas as forças por trás dele pressionaram e o que não foi alcançado pelas armas, infelizmente agora foi estabelecido através do dinheiro, traição e subversão”
HEITOR DE PAOLA
20 DE JUNHO DE 2023
A "Europa" em qualquer sentido que não seja geográfico é uma construção totalmente artificial. Não faz o menor sentido juntar Beethoven e Debussy, Voltaire e Burke, Vermeer e Picasso, Notre Dame e St. Paul, carne cozida e bouillabaisse, e retratá-los como elementos de uma realidade "europeia" musical, filosófica, artística, arquitetônica ou gastronômica. Se a Europa nos encanta, como tantas vezes me encantou, é precisamente pelos seus contrastes e contradições, não pela sua coerência e continuidade.
Margaret Thatcher
Statecraft: Strategies for a Changing World
É mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas
Mark Twain
Prometi no meu último artigo sobre a assim chamada “guerra da Ucrânia”[1] explicar porque foi importante a avaliação de Walter Schellenberg, sobre Arnold J. Toynbee, chamando-o de“essencialmente um homem prestativo e hábil”.
Em primeiro lugar é preciso explicar resumidamente quem foi Schellenberg e sua posição na cúpula do regime Nazista. Walter Friedrich Schellenberg chegou a ser o segundo homem da inteligência, espionagem e contraespionagem subordinado apenas ao SS-ReichsführerHeinrich Himmler, após a execução de seu superior imediato SS-ObergruppenführerReinhardt Heydrich por patriotas Tchecos. Foi SS-Brigadeführer (correspondente a General de Brigada) e Generalmajor (General de Divisão) der Polizeie chefe do SD, Sicherheistdienst (Serviço de Segurança [do Partido]). Com o aumento da repressão foi um dos idealizadores do centralizado RSHA, Reichssicherheitshauptamt(Gabinete Central de Segurança do Reich)em 1939. Após a tentativa de assassinato de Hitler em 20/07/1944 o serviço militar de inteligênciaAbwehr foi absorvido no SD-Ausland(SD-Exterior) e seu chefe, Almirante Canaris, executado. Fez parte ativa dosEinsatzgruppen, esquadrões paramilitares responsáveis por assassinatos em massa nas regiões ocupadas pelos Nazistas (1939-1945) e parte integral na implementação da Endlösung der Judenfrage(Solução Final da Questão Judaica) na Europa ocupada. Participou de todas as invasões Nazistas, desde a Áustria até a Rússia e Iugoslávia.
Em junho de 1940, foi encarregado de compilar as InformationsheftGroosbritannien, um projeto para a invasão e ocupação da Inglaterra, a Operação Sea Lion (UnternehmenSeelöwe).É aqui que encontramos o citado Gestapo Handbook for theInvasionofBritain 1940.
Antes de prosseguir é preciso dizer que tão angelical criatura foi condenada na farsa chamada Tribunal de Nurembergà ‘enorme sentença’ de seis anos de prisão, dos quais cumpriu dois, saindo por ter sido acometido por problemas de saúde.
Schellenbergconhecia Toynbee desde uma visita deste a Berlim em 1936 para falar à Nazi Law Society quando foi convidado para uma entrevista privada com Adolf Hitler a pedido deste. Durante a entrevista, realizada um dia antes de Toynbee fazer sua palestra, Hitler enfatizou seu objetivo expansionista limitado de construir uma nação alemã maior –Gross Deutschland-conceito de estado-nação com o espaço vital adequado (Lebensraum)a todos os povos germânicos. - e seu desejo de compreensão e cooperação britânica com a Alemanha Nazista. Hitler também sugeriu que a Alemanha poderia ser uma aliada da Grã-Bretanha na região da Ásia-Pacífico se o império colonial da Alemanha fosse restaurado. Toynbee acreditava que Hitler era sincero e endossou sua mensagem num memorando confidencial para o Primeiro-Ministro britânico e o Secretário de Relações Exteriores sugerindo que a Inglaterra aceitasse a aliança.
Embora Toynbee tivesse apresentado sua palestra em inglês, cópias dela circularam em alemão por oficiais Nazistas, e foi calorosamente recebida por seu público berlinense, que apreciou seu tom conciliatório. Tracy Philipps, um diplomatabritânico baseado em Berlim na época, mais tarde informou a Toynbee de que ele "era um tópico de discussão em todos os lugares". De volta para casa, alguns dos colegas de Toynbee ficaram consternados com suas tentativas de administrar as relações anglo-alemãs.
Já dá para entender porque Toynbee era “prestativo” e, obviamente, possível colaboracionista na dominação Nazista. Mas tem mais.
Sua postura durante a Primeira Guerra Mundial era favorável ao Sionismo, mas em 1922, quando a Inglaterra teve legitimado pela Liga das Nações seu mandato sobre a região, ele foi influenciado pela delegação árabe da Palestina que visitava Londres e começou a adotar seus pontos de vista. Seus escritos subsequentes revelam sua mudança de perspectiva sobre o assunto e, no final da década de 1940, ele se afastou da causa sionista e se aproximou do campo árabe; Toynbee veio a ser conhecido, por sua própria admissão, como "o porta-voz ocidental da causa árabe” e considerava os Judeus como uma civilização “fossilizada” [1]. Mais tarde, dentro de sua ideia de um governo mundial, disse que os Judeus “demonstraram à humanidade (pelos seus atos)a loucura do capitalismo, do nacionalismo e do apego a determinado território” [2]. Isto estava em pleno acordo com as intenções de Hitler de unificar toda a Europa sob seu poder com o apoio não só de Toynbee como de grande parte da elite financeira e da nobreza Britânica que estava pronta para entregar seu país de bandeja aos Nazistas.
Este introitofoi para chegar ao ponto central deste artigo, a atual “guerra da Ucrânia”[3], que não será surpresa para aqueles que assistiram meu curso no canal youtube da Dra. Fabiana Barroso sobre Nova Ordem Mundial, principalmente as aulas de julho de 2021 sobre a hegemonia Alemã e as Raízes Ocultas da União Europeia, pois a UE representa o sonho Nazista de conquista e cuja expansão, juntamente com a OTAN, levou ao desencadeamento da “guerra da Ucrânia”. E não falo simbolicamente, mas concretamente. A UE é o resultado do plano Nazista elaborado em 1942 através de uma série de seminários em Berlin na época em que, apesar da enorme expansão Nazista parecendo que a Europa seria mesmo uma Gross Deutschland,apresentava-se um impasse da guerra na frente Oriental que acabou levando em 1943 ao desastre em Stalingrado e à mudança do rumo da guerra. O documento que saiu desses seminários - EuropäischeWirtschaftsgemeinschaft (Comunidade Econômica Europeia) – produzido pela Sociedade Industrial e Comercial de Berlin e pela Escola de Economia de Berlin foi a semente de todos os processos que levaram à atual UE: os Tratados de Paris 1951, da criação daEuropean Coal and Steel Community 1950/1952, de Roma 1957, o EuropeanCommunitiesAct 1972 e oEuropeanMonetary System 1979. Deixo a palavra para os apresentadores deste documento em inglês (as ênfases são minhas):
“Pode ser chocante saber que a ideologia Nazista estava, e ainda está, por trás da UE.O documento que se segue é a tradução em inglês do original em alemão como
referenciado no Catálogo Mundial OCLC número 31002821 e disponível nodomínio público através de várias bibliotecas, arquivos e websites[1]. É um documento de grande significado histórico e essencial para entender a mentalidade por trás da União Europeia e de onde surgiu a ideia. É o projeto original para ‘a Comunidade Econômica Europeia’, que mais tarde se tornaria, como sabemos, aUnião Europeia. Criado por uma série de seminários pelo Ministério da Economia do Terceiro Reich e vários assessores de Adolf Hitler para que, caso os Nazistas fossem derrotados pelos aliados e perdessem a guerra, eles poderiam completar seus planos secretamente através de subversão, traição e sedição de ‘dentro de cada governo’. Nele você encontrará a proposta de uma Europa unida com uma moedaúnica e um sistema de transporte comum...e mais importante, o Reino Unido seria “desindustrializado” e usado para quantidade limitada de agricultura e turismo. O plano era usurpar o poder e a soberania de cada nação, incluindo a Grã-Bretanha, e criar uma ditadura em toda a Europa”.
Esses Seminários se basearam num documento anterior de 25/07/1940 do Presidente do Deutsches Reichsbank e Ministro da Economia do Reich, Walther Funk, A Reorganização Econômica da Europa[2], na verdade o plano da coalização IG Farben/Nazi para uma “Nova Europa”, considerado como uma espécie de projeto semioficial para todos os países ocupados.“Este manifesto é a base que esses traidores dentro de nosso establishment político têm vindo a desenvolver desde o fim da segunda guerra mundial. Era um meio para um fim. Um final feio. Podemos ter tirado Hitler do poder, mas as forças por trás dele pressionaram e o que não foi alcançado pelas armas, infelizmente agora foi estabelecido através do dinheiro, traição e subversão”(op. cit.).
A história da formação da UE, que será tratada em parte no Capítulo XVIII do livro Rumo ao Governo Mundial Totalitário: as grandes fundações, comunistas,fabianos e nazistasa ser lançado em breve pela PHVox, não é o foco principal, mas sim suas consequências na atualidade. Basta dizer que o governo alemão do pós-guerra era constituído de Nazistas, comoum relatório do governo Alemão publicadoem outubro de 2016 revelou que, ainda em 1957, cerca de 77% dos membros do Ministério da Justiça foram membros do Partido Nazista[3]. E a própria Chancelaria, comandada por um “Democrata Cristão”, Konrad Adenauer que foi Prefeito de Köln durante o regime Nazista, tinha como Chefe de Gabinete e confidenteentre 1953 e 1963 Hans Globke, ex-funcionário público sênior do Ministério do Interior da era Nazistaque esteve envolvido na redação das leis raciais de Nuremberg, além de contribuir para o “código judaico” que foi aplicado na Eslováquia. E o primeiro Presidente da UE foi Walther Hallstein, membro proeminente do Bund Nationalsozialistischer Deutscher Juristen(Associação Nacional Socialista dos Advogados Alemães), que em 1936 foi convertida na Associação dos Protetores da Lei. Protetores da Lei era o código Nazista para sistematicamente destruir o sistema legal democrático e substituí-lo pela lei ditatorial. Que hoje impera na UE.
Voltemos ao tema principal.
DRANG NACH OSTEN
Avançoparao Leste, política alemã de disposição para colonizar as terras eslavas a leste da Alemanha. O termo originalmente se referia ao movimento para o leste dos colonos alemães nos séculos 12 e 13, mas foi ressuscitado por Adolf Hitler no século 20 para descrever seus planos de adquirir o Lebensraum (“espaço vital”) para os alemães. No século 13, a ordem religiosa dos Cavaleiros Teutônicos[1] conquistou grandes territórios na Prússia e mais ao norte, nas margens do Mar Báltico [os três Estados Bálticos atuais].Durante o século 20, os Nazistas alemães invocaram o Drangnach Osten para glorificar sua ganância territorial dirigida contra a Tchecoslováquia, a Polônia e a União Soviética (que, então, incluía a Ucrânia). Após os sucessos iniciais da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, a ideia foi submersa em esquemas mais gerais de dominação mundial[2].
A jornalista americana Dorothy Thompson, a primeira jornalista a ser expulsa da Alemanha Nazista, passou muito tempo na Alemanhaconversando com teóricos Nazistas sobre seus planos para a Europa. Entrevistou Hitler em 1931, o que resultou num livro hoje esgotado, I Saw Hitler, onde adverte para o perigo dele ser eleito [3]. No Herald Tribune de 31 de maio de 1940, ela escreveu: “Os alemães contam com o poder político após o poder econômico. Mudanças territoriais não os preocupam porque não haverá ‘França’ ou ‘Inglaterra’ exceto como grupos linguísticos, pouca preocupação imediata é sentida em relação a organizações políticas… Nenhuma nação terá controle de seu próprio sistema financeiro ou econômico ou de seus costumes”.
De fato, o Estado alemão moderno, tendo feito primeiro o mesmo caminho (através de um mercado comum para uma união política), fez o processo inverso ao estabelecer uma moeda única que levaria à crise econômica e, portanto, a um poder mais centralizado à custa dos estados nacionais. Ao invés de conquista de territórios por meio de tanques, submissão pelo dinheiro! Isto ficou bastante explícito pelos diretores do Bundesbank [ou poderíamos chamar Reichsbank?](em conversa com o economista britânico Professor Patrick Minford, por exemplo) e pelos principais eurocratas.E Helmut Kohl afirmou:“Queremos a unificação política da Europa. Sem união monetária não pode haver união política e vice-versa”A afirmação de Kohl de que apenas criando uma Europa unida a agressão alemã e a guerra seriam evitadas era exatamente o oposto da verdade. Pois é precisamente por meio dessas instituições "europeias" que os mecanismos para expandir a influência e o controle alemães, especialmente em direção ao Leste, foram construídos. Isso é apenas 'pacífico' no sentido de tornar a agressão [armada] desnecessária!”[4].
"A expansão da União Europeia para o leste representa para a Alemanha e para toda a Europa uma grande oportunidade." Observe o que vem primeiro - a Alemanha, que mostra o uso da 'Europa' não como um meio de suprimir o nacionalismo alemão, como disseram, mas como um meio de promover os interesses nacionais alemães. "A democracia e o Estado de direito na Europa Central e Oriental serão assegurados de forma duradoura através da entrada dos nossos vizinhos na União Europeia e na aliança atlântica(OTAN). Passo a passo estamos assim a aproximar-nos do objetivo comum de uma paz duradoura e justa para toda a da Europa"."O Parlamento alemão expressa a esperança de que, com a entrada da República Tcheca e da Polônia na União Europeia, a aceitação da propriedade comum (!) pelos novos estados membros permita a solução de problemas bilaterais não resolvidos (!) direito à livre circulação e liberdade de estabelecimento (!)."[1]. A maioria dos europeus assumiu que isso foi alcançado em 1945 após a derrota dos nazistas - ou pelo menos em 1989 após a derrota do comunismo, mas aparentemente não para a elite política alemã.
São duas grandes ilusões dos europeus e dos analistas políticos e historiadores do século XX: o fim do Nazismo em 1945 e do comunismo em 1989/1991. Se esta mentira é bem explorada por analistas conservadoras e liberais, aquela ainda é tida como verdade. Segundo analistas do BrownstoneInstitute[2]“a sociedade aberta antes de 1989 era baseadana ideologia anticomunista em seu cerne,o que moldou essa sociedade. Como a narrativa que mantinha a sociedade unida tinha que ser anticomunista sob as circunstâncias dadas, ela tinha que permitir uma sociedade relativamente aberta e um estado constitucional amplamente republicano. Os representantes do poder do Estado não poderiam ser muito repressivos internamente e intervir nos modos de vida das pessoas. A narrativa não permitia isso. Mas isso foi meramente devido a circunstâncias históricas contingentes. Essas circunstâncias mudaram e a tornaram supérflua quando o inimigo desapareceu com o colapso do comunismo soviético”. E é aí que entra a OTAN.
A UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA E A OTAN
O Tratado do Atlântico Norte foi assinado em Washington, D.C., em 4 de abril de 1949 em função da rápida expansão do Exército Vermelho na Europa Oriental e Central e impedir que Stalin prosseguisse rumo à Ocidental. A OTAN é um sistema de segurança coletiva: seus estados membros independentes concordam em defender uns aos outros contra ataques de terceiros.
Para o interesse neste artigo, tudo começa em 1990, após a derrubada do Muro de Berlin e quando a União Soviética estava chegando ao fim e os líderes ocidentais buscavam reunificar a Alemanha Oriental e Ocidental sob os auspícios da OTAN. Isso exigia que Moscou concordasse em remover seus cerca de 400.000 soldados da Alemanha Oriental. Para acalmar Moscou, os líderes ocidentais comunicaram a opinião de que a OTAN não se expandiria para o leste em direção à fronteira da Rússia. De acordo com uma análise do Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George Washington, onde os documentos desclassificados relevantes são publicados, “uma cascata de garantias sobre a segurança soviética foradadas por líderes ocidentais a Gorbachëv e outras autoridades soviéticas durante o processo de unificação alemã em 1990 e até 1991.” Essas garantias diziam respeito não apenas à questão da expansão da OTAN na Alemanha Oriental, como às vezes se afirma, mas também à expansão da OTAN para os países da Europa Oriental e, naquele momento, membros do Pacto de Varsóvia.Este Pacto fora fundado em 1955 em oposição à OTAN.
O que estava sendo dito aos soviéticos na cara deles e o que os EUA estava dizendo a si mesmo na sala dos fundos eram opostos. Muitos dos russos alegaram repetidamente que uma promessa informal de não expansão foi oferecida pelos EUA em 1990. E nos últimos 25 anos, os formuladores de políticas ocidentais, pelo menos nos EUA, disseram categoricamente: “Não, não o fizemos, e nada foi escrito e nada foi assinado, então não importa se nós fizemos ou não. E o que descobri [nos arquivos] foi que a narrativa russa é basicamente exatamente o que aconteceu”[1].
Em poucos anos, a OTAN começou a se expandir em direção à fronteira da Rússia. Embora as garantias não tivessem sido colocadas em tratados formais, "reclamações soviéticas e russas subsequentes sobre terem sido enganados sobre a expansão da OTAN" não eram simplesmente propaganda russa, mas, ao contrário, eram "fundadas em memorandos escritos contemporâneos nos níveis mais altos" dos governos ocidentais.
O Ocidente agiu de maneira calculada para enganar Moscou, e esse episódio lançou as bases para uma sensação russa em evolução de que a OTAN, e os Estados Unidos em particular, não eram confiáveis.
A EXPANSÃO DA OTAN: QUEM PROMETEU O QUÊ A QUEM?
ADVERTÊNCIA: tudo que se segue não é parte de uma teoria da conspiração ou propaganda desinformativa russa. Nem está em livros, que podem ser contestados. É só consultar a fonte referida. Existem vários documentos, memorandos e fotocópias anexados em: Documentos desclassificados mostram garantias de segurança contra a expansão da OTAN para os líderes soviéticos [por parte]de Baker, Bush, Genscher, Kohl, Gates, Mitterrand, Thatcher, Hurd, Major e Woerner.O Arquivo compilou esses documentos desclassificados para um painel de discussão em 10 de novembro de 2017 na conferência anual da Associação de Estudos Eslavos, Europeus e Eurasianos (ASEEES) em Chicago sob o título “Quem Prometeu o Quê a Quem na Expansão da OTAN?”[1].
As primeiras garantias concretas de líderes ocidentais sobre a OTAN começaram em 31 de janeiro de 1990, quando o ministro das Relações Exteriores da Alemanha Ocidental, Hans-Dietrich Genscher, abriu a licitação com um grande discurso público em Tutzing, na Baviera, sobre a unificação alemã. A Embaixada dos EUA em Bonn informou a Washington que Genscher deixou claro “que as mudanças na Europa Oriental e o processo de unificação da Alemanha não devem levar a um 'prejuízo dos interesses de segurança soviéticos', portanto, a OTAN deve descartar umaexpansão de seu território para o leste, ou seja, movendo-o para‘mais perto das fronteiras soviéticas.'” O cabograma de Bonn também observou a proposta de Genscher de deixar o território da Alemanha Oriental fora das estruturas militares da OTAN, mesmo numa Alemanha unificada dentro da OTAN.
A ideia sobre “mais perto das fronteiras soviéticas” está escrita não em tratados, mas em múltiplos memorandos de conversa entre os soviéticos e os interlocutores ocidentais de mais alto nível (Genscher, Kohl, Baker, Gates, Bush, Mitterrand, Thatcher, Major, Woerner e outros) oferecendo garantias ao longo de 1990 e em 1991 sobre a proteção dos interesses de segurança soviéticos e a inclusão da URSS nas novas estruturas de segurança europeias.
A famosa garantia de “nem um centímetro para o leste” do secretário de Estado dos EUA, James Baker, sobre a expansão da OTAN em sua reunião com o líder soviético Mikhail Gorbachëv em 9 de fevereiro de 1990, foi parte das garantias sobre a segurança soviética dadas por líderes ocidentais a Gorbachëv e outros oficiais soviéticosdurante o processo de unificação alemã em 1990 e em 1991, de acordo com documentos desclassificados dos EUA, União Soviética, Alemanha, Grã-Bretanha e França publicados pelo Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George Washington.
As conversas antes da garantia de Kohl envolveram discussões explícitas sobre a expansão da OTAN, os países da Europa Central e Oriental e como convencer os soviéticos a aceitar a unificação. Por exemplo, em 6 de fevereiro de 1990, quando Genscher se encontrou com o ministro das Relações Exteriores britânico, Douglas Hurd, o registro britânico mostrou Genscher dizendo: “Os russos devem ter alguma garantia de que, se, por exemplo, o governo polonês deixar o Pacto de Varsóvia um dia, ele não se juntaria à OTAN no próximo.”
A “fórmula Tutzing” imediatamente se tornou o centro de uma enxurrada de importantes discussões diplomáticas nos 10 dias seguintes em 1990, levando à crucial reunião de 10 de fevereiro de 1990 em Moscou entre Kohl e Gorbachëv, quando o líder da Alemanha Ocidental obteve o consentimento soviético em princípio. à unificação alemã na OTAN, desde que a OTAN não se expandisse para o leste. Os soviéticos precisariam de muito mais tempo para trabalhar com sua opinião [pública]interna (e ajuda financeira dos alemães ocidentais) antes de assinar formalmente o acordo em setembro de 1990.
Não uma, mas três vezes, Baker experimentou a fórmula “nem uma polegada para o leste” com Gorbachëv na reunião de 9 de fevereiro de 1990. Ele concordou com a declaração de Gorbachëv em resposta às garantias de que “a expansão da OTAN é inaceitável”. (...) e também garantiu que, se os Estados Unidos mantiverem sua presença na Alemanha dentro da estrutura da OTAN, nem um centímetro da atual jurisdição militar da OTAN se espalhará na direção leste”.
Baker para Gorbachëv 18/05/1990: “Antes de dizer algumas palavras sobre a questão alemã, gostaria de enfatizar que nossas políticas não visam separar a Europa Oriental da União Soviética. Já tínhamos essa política. Mas hoje estamos interessados em construir uma Europa estável e fazê-lo junto com vocês.”
Há muito mais, quem estiver interessado acesse o link fornecido onde seencontram atas, fotos e memorandos de todas as conversações.
A REALIDADE POR TRÁS DAS PROMESSAS
Com essas garantias Gorbachëv pôde controlar a linha dura que se opunha à reunificação alemã temendo a volta do Nazismo, o Pacto de Varsóvia se dissolveu em 01/07/1991 esperando que os acordos fossem cumpridos. Na minha opinião não havia mais motivo para a existência da OTAN, que deveria ter sido dissolvida também. Talvez a desconfiança fez com que a Federação Russa assinasse um novo acordo, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO) em 14/02/1992, sendo ratificado em 07/10/2002, com Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão.
O argumento em moda de que não houve expansão porque são os países que pedem para aderir à OTAN é absolutamente sem sentido uma vez que cabe à OTAN NÃO ACEITAR. Não foram esses países que deram garantias de que não pediriam, foram os líderes da OTAN/UE/EUA que ofereceram essas garantias e deveriam respeitá-las. Uma das características que diferenciam os países livres dos totalitários é exatamente de que os primeiros cumprem com o que dizem e outros rasgam tudo e agem como bem entendem. Dessa vez foi ao contrário.
É compreensível que os países que pertenceram à Cortina de Ferro tenham medo do Comunismo e vejam a Rússia com suspeita. Mas me espanta que todos eles estiveram também submetidos ao nazismo e não percebam que estão entre duas ameaças, apesar de muitos deles já terem sofrido com o totalitarismo da UE. O exemplo mais recente é da Polônia que teve uma lei aprovada por seu Parlamento (ZgromadzenieNarodowe) revogadapela Corte de Justiça Europeia porque não se coaduna com os princípios jurídicos da UE[1]! Apenas um exemplo de como o sistema jurídico nazista de Hallstein está se impondo em toda a Europa!
A SEGUIR:
RAÍZES HISTÓRICAS DA INTERVENÇÃO RUSSA NA UCRÂNIA - TERCEIRA PARTE
O que Yeltsin ouviu dos líderes ocidentais
NOTAS:
[1]RAÍZES HISTÓRICAS DA INTERVENÇÃO RUSSA NA UCRÂNIA,https://hdepaola.substack.com/p/raizes-historicas-da-intervencao
[2]Nathan Rotenstreich,The Revival of the Fossil Remnant: Or Toynbee and Jewish Nationalism, Jewish Social Studies, Vol. 24, No. 3 (Jul., 1962), pp. 131-143 (13 pages), Published By: Indiana University Press, https://www.jstor.org/stable/25164913
[3]Abba Eban&NarhanAridan,The Toynbee Heresy, Israel Studies, Vol. 11, No. 1 (Spring, 2006), pp. 91-107, Published By: Indiana University Press,https://www.jstor.org/stable/30245781 /Ben-Israel, Hedva. “Debates with Toynbee: Herzog, Talmon, Friedman.” Israel Studies, vol. 11, no. 1, 2006, pp. 79–90. JSTOR, http://www.jstor.org/stable/30245780.Accessed 18 June 2023.
[4]Que só poderá ser abordada numa terceira parte em função da abundância de material à disposição
[5]Por razões que espero sejam óbvias escolhi esta publicação do Bilderberg Club -http://www.bilderberg.org/EWG.pdf – fundado por um Nazista, o Príncipe Bernhard von Lippe-Biesterfeld, marido da Rainha Juliana e pai da Rainha Beatriz da Holanda, Membro Honorário das SS e um financista que muito ajudou Hitler, e David Rockefeller, entre outros. Com a invasão da Holanda aparentemente mudou de lado.
[7]Richard A. Fuchs,Germany's justice ministry and its Nazi past, 10/11/2016.
[8]Teutônico: Teutsch, forma obsoleta deDeutsch. Os dois Imperadores após a unificação (1871-1918) pertenciam à família Hohenzollern, originária da Ordem Teutônica.
[9]https://www.britannica.com/event/Drang-nach-OstenEntre [] são meus.
[10]Sua descrição de Hitler é famosa: "Ele é sem forma, quase sem rosto, um homem cujo semblante é uma caricatura, um homem cuja estrutura parece cartilaginosa, sem ossos. Ele é inconsequente e loquaz, mal equilibrado e inseguro. Ele é o próprio protótipo do homenzinho (littleman)."
[11]Rodney Atkinson,And into the fire,GM Books. Edição do Kindle
[12]Rodney Atkinson,Fascist Europe Rising, Ed. Compuprint, Edição do Kindle
[13]https://brownstone.org/articles/illusion-of-republicanism/
[14]Benjamin Abelow,How the West Brought War to Ukraine: Understanding How U.S. and NATO Policies Led to Crisis, War, and the Risk of Nuclear Catastrophe,Siland Press. Edição do Kindle. O Autor fez uso do FreedomofInformationAct (FOIA) de 2007: https://www.justice.gov/sites/default/files/oip/legacy/2014/07/23/foia-final.pdf
[15]“NATO Expansion: What Gorbachëv Heard.” National Security Archive, George Washington University https://nsarchive.gwu.edu/briefing-book/russia-programs/2017-12-12/nato-expansion-what-Gorbachëv-heard-western-leaders-early, parte do arquivogeral
http://nsarchive.gwu.edu